Estudo do BofA mostra o que aconteceu no passado e adverte: o futuro não parece seguir o mesmo padrão (Primeimages/Getty Images)
Karina Souza
Publicado em 26 de maio de 2022 às 09h55.
Última atualização em 26 de maio de 2022 às 10h00.
“Quando as más notícias para os ativos de risco vão virar boas notícias?” é a pergunta do momento para investidores no ciclo atual de juros altos. De olho em uma reposta ao menos para o mercado norte-americano, o Bank of America correlacionou os juros com as taxas de desemprego locais em seis ciclos econômicos. Com base no histórico, o ponto do BofA é que as taxas de juros tendem a chegar ao pico quando as taxas de desemprego atingem o melhor nível e, por consequência, as taxas começam a cair quando a geração de empregos desacelera. Entender a correlação é a boa notícia, a nem tão boa assim é que o comportamento atual do mercado não mostra queda dos juros para já. Ainda longe disso.
Para chegar a essa conclusão, o banco fez uma correlação dos indicadores dos títulos públicos do Estados Unidos com vencimento em dois anos (taxa de juros de curto prazo) e em dez anos (taxa de longo prazo) com o mercado acionário e o desemprego nos últimos seis ciclos econômicos (1980, 1980-1982, 1989-1992, 2000-2003, 2006-2008 e 2018-2020). Ao observar o comportamento das decisões do FED e do desemprego durante um biênio, o banco conclui que o pico das taxas acontece quatro meses depois do índice de desemprego semanal médio chegar ao melhor nível. Em uma década, os juros chegam ao pico oito meses depois do índice de desemprego estar no melhor nível, ou seja, percentualmente baixo.
Ainda na mesma análise, a redução das taxas de juros acontece em média cinco meses após o pico (analisando o período de dois anos). Em dez anos, começa a diminuir em média um mês após chegar ao ponto mais alto.
Em outro ponto do relatório, ao correlacionar o comportamento do desemprego e do mercado nos mesmos seis ciclos econômicos, o BofA concluiu que o índice tem a pior queda três meses antes de as taxas de desemprego chegarem ao pior nível — o que mostra a antecipação do mercado em relação ao cenário macroeconômico. Dentro da análise do banco, o ciclo de 2007 a 2009 foi o mais acentuado entre todos os analisados, em que o índice da bolsa americana teve uma queda de 46%, mais do que o dobro da média dos demais períodos analisados, de 21%.
Do lado das boas notícias, depois do tombo, o índice tende a subir cerca de 22% por um ano após chegar ao pior nível, impulsionado pela melhora da economia e a política monetária relativamente mais fácil de lidar.
De acordo com o relatório, apesar de os dados trazerem algum mapa sobre o que já aconteceu antes, a situação atual é diferente da dos ciclos anteriores, “uma vez que o Fed está aumentando taxas muito antes da queda nas taxas de desemprego ou de uma forte contração financeira”, afirmam os analistas.
O banco acredita que a geração de emprego deve continuar acontecendo ao longo dos próximos trimestres e não vê piora neste índice até o segundo trimestre de 2023. Nesse cenário, é "bastante improvável", segundo o banco, que as taxas de juros nos Estados Unidos tenham atingido seu pico, o que impacta ativos de risco até lá.
“Quanto mais tempo demorar para o mercado de trabalho se estabilizar e para a inflação se moderar, mais restrita terá de ser a política monetária do Fed. A força contínua do mercado de trabalho vai adiar a data em que as ‘más notícias’ vão virar ‘boas notícias’ para os ativos de risco”, escrevem os analistas.
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