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Por que o CEO da Gerdau está batendo ponto em Brasília

‘A preocupação está longe de ser a demanda do mercado doméstico’, diz Gustavo Werneck

Gustavo Werneck: crescimento com olhar no ESG (Leandro Fonseca/Exame)

Gustavo Werneck: crescimento com olhar no ESG (Leandro Fonseca/Exame)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 28 de setembro de 2023 às 20h05.

Quase toda semana Gustavo Werneck ou outro c-level da Gerdau bate ponto em Brasília. Não são à toa as viagens do CEO e seus companheiros de empresa à sede do governo federal. O setor de siderurgia está preocupado com a competição com os produtos importados da China.

“A China não vai parar de exportar, não vai diminuir capacidade de produção para equilibrar oferta e demanda. Então é imperativo que todos os países coloquem algum tipo de defesa comercial para criar condições de competição isonômica”, disse Werneck nesta quinta-feira, 28, a investidores, fornecedores, e analistas de mercado que acompanhavam o Stakeholder Day da Gerdau em Belo Horizonte.

Hoje, importações diretas e indiretas correspondem a 29% do mercado interno de aço, sendo metade disso vindo dos chineses. O avanço do aço chinês veio na esteira de alíquotas reduzidas de importação pelo governo brasileiro e de subsídios dados pelas autoridades chinesas que tornam o preço do produto final da China por vezes menores do que os custos dos produtores locais.

Por isso, a indústria nacional tem pleiteado uma alíquota de 25% para o imposto de importação sobre o aço. E há razões para Werneck estar otimista de que a demanda vai ser atendida. Recentemente o governo federal decidiu antecipar para 1º de outubro o fim da redução de 10% na alíquota de 12 produtos de aço que só acabaria em 31 de dezembro, em um “movimento simbólico”, diz Werneck.

“Interlocuções com o ministro Alckmin até agora foram muito produtivas e prósperas e o que está acontecendo nos outros países [aplicação de tarifas antidumping] cria um colchão de tranquilidade para o governo”, argumenta.

O executivo diz não ser possível dar o impacto exato da competição “predatória” nos números da Gerdau, mas cita o resultado dos dois primeiros trimestres do ano, quando as vendas caíram 6,2%. “A preocupação está longe de ser o mercado doméstico”, diz ele. Para lidar com o impacto, o grupo teve de fechar por tempo indeterminado as unidades de Caucaia e Mogi das Cruzes e colocar funcionários em layoff.

Verticalização

Enquanto no curto prazo a Gerdau precisa lidar com a competição chinesa, o ritmo de investimentos não desacelera para a estratégia de longo prazo. A companhia vai investir R$ 11,9 bilhões entre 2023 e 2026, o que inclui ativos de mineração, que vão ser um “diferencial competitivo”, segundo Werneck. Desse total, o desembolso neste ano é de R$ 5 bilhões.

O cálculo da empresa é de que esses investimentos totais adicionem R$ 4 bilhões de Ebitda até 2031, dos quais a empresa diz já estar capturando R$ 600 milhões — em especial, com as operações nos Estados Unidos. Isso porque os aportes devem adicionar 700 mil toneladas em capacidade de produção de aço bruto e 1400 toneladas de laminados. O movimento deve aumentar a fatia de produtos de maior valor agregado, chegando a 60% da receita com aços longos e 35% com aços planos e reduzindo para apenas 5% os aços semiacabados (hoje em 15%).

O grande salto para isso virá com os investimentos em mineração, estimados em R$ 3,2 bilhões, dos quais a maior fatia deve ser desembolsada em 2024. Uma verticalização da produção, para ter menor dependência de mineradoras no futuro e conseguir produzir placas com minério de maior teor, o que aumenta a qualidade do produto.

“Em alguns casos estamos falando de modernização de ativos, em outros, adicionando capacidade ou novos mix de produtos em usinas que já operamos e queremos encher mais para reduzir custos fixos”, acrescenta o CFO, Rafael Japur.

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