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Por que o Carrefour vai transformar mais da metade das lojas BIG em hipermercados?

Em call com analistas nesta segunda-feira, companhia mostrou que, das 80 lojas BIG, 45 vão virar hipermercados

Carrefour: foco em hipermercados para fortalecer ecossistema digital e aumentar alcance de crédito aos consumidores (Germano Lüders/Exame)

Carrefour: foco em hipermercados para fortalecer ecossistema digital e aumentar alcance de crédito aos consumidores (Germano Lüders/Exame)

KS

Karina Souza

Publicado em 13 de junho de 2022 às 18h41.

Última atualização em 13 de junho de 2022 às 19h52.

O Carrefour Brasil vai adaptar 47 dos 80 pontos de venda do BIG para hipermercados. Apesar de ser um número bem menos representativo do que as novas lojas Atacadão (serão 70, ao todo), reformar lojas para trazer novos hipermercados – em um momento no qual o fim do Extra ainda está fresco na memória – pode parecer contraintuitivo à primeira vista. E, afinal, por que a companhia vai investir na ampliação da rede desse tipo de estabelecimento? 

O que a companhia mostra é que vai manter parte da ideia que o Walmart tinha ao chegar ao Brasil: se tornar quase um "híbrido" entre hipermercado e atacado, com a proposta de ofertas selecionadas todos os dias. O tom dos executivos Stéphane Maquaire, CEO do Grupo Carrefour Brasil, e David Murciano, CFO da companhia, é o de que as grandes lojas criadas para este fim não devem ser completamente extintas ao longo dos próximos anos. No detalhe da operação do Carrefour, os executivos afirmaram que outros dois motivos estão relacionados ao fato de ser a melhor bandeira para conciliar expansão com a capacidade de ampliar serviços de e-commerce (hoje, o modelo de retire em lojas está presente em 224 lojas Carrefour) e à oportunidade de vender produtos com tíquete médio mais elevado via cartão Carrefour. 

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A mudança para a bandeira de hipermercados, de todo modo, chamou a atenção de analistas em teleconferência realizada mais cedo. Em resposta aos questionamentos, Maquaire destacou que a mudança não reflete um posicionamento definitivo, a todo custo, mas sim de uma tentativa de conciliar o ecossistema de serviços que o Carrefour oferece. “Vamos avaliar de forma contínua todas as nossas lojas e, se necessário, promover mudanças ao longo do tempo”, afirmou o executivo.

A companhia também apresentou aos analistas uma estimativa de margem por loja (que exclui despesas corporativas e despesas não relacionadas à operação do local em si) durante a teleconferência. De acordo com os dados, as lojas BIG têm um Ebitda nível loja que vai de 4 a 6% das vendas líquidas e as lojas de hipermercados têm uma contribuição de 6 a 7%. Ainda assim, é inferior aos 7-8% de lojas Atacadão. 

Durante a conversa com investidores, os porta-vozes do Carrefour não detalharam o investimento por tipo de negócio, mas apenas afirmaram que mudanças estruturais de lojas vão levar dois meses para serem concluídas, enquanto trocas de bandeira (caso dessa operação) têm um processo bem mais acelerado, de três dias. Não custa lembrar: o capex total é de R$ 2,1 bilhões. 

“É uma empresa que acredita no formato de hipermercado, muito apoiada no discurso de que hoje está em baixa, mas no futuro pode ganhar força. Além disso, eles são a única empresa com presença desse formato no Brasil todo, pós-aquisição. Por enquanto, não vemos nenhuma migração nesse sentido, mas, de fato, se a renda melhorar e as pessoas começarem a fazer a migração oposta, do atacado para o varejo, a companhia vai se beneficiar”, diz Guilherme Camacho, analista da Neo Investimentos.

Do lado operacional, a companhia amplia, desde o ano passado, o número de lojas Carrefour em que é possível retirar produtos comprados pela internet: foi de zero, em julho do ano passado, para 224 até hoje. No call mais cedo, executivos destacaram que o BIG fez avanços significativos na frente digital ao longo dos últimos anos e que, agora, a nova companhia combinada (a NewCo) vai aproveitar esse potencial ao fortalecer as entregas ‘last mile’ em todo o país. 

Em relação ao cartão Carrefour, a operação gerou R$ 30,9 bilhões em receita, aumento de 19,2% em relação ao ano anterior, sendo a principal vertical em termos de crédito ao público (o cartão Atacadão, no mesmo período, gerou R$ 16,6 bilhões, aumento de 38,9%). Além disso, dentro da operação de varejo, o banco Carrefour concede maior financiamento a eletrodomésticos, com 41% de penetração na categoria. 

“Faz sentido que o crescimento considere também a expansão do banco Carrefour, é algo esperado desde que a aquisição foi anunciada. É uma operação super bem tocada, que vai ganhar uma capilaridade maior e acessar mais consumidores em potencial”, diz Camacho.

A compra do BIG pelo Carrefour custou R$ 7,5 bilhões, como os executivos reafirmaram no call desta segunda-feira. O valor foi pago 70% em dinheiro e 30% em ações. Apesar do desembolso de R$ 5,3 bilhões do caixa da companhia, a preocupação foi a de mostrar que o endividamento continua em patamares saudáveis, com alavancagem de 1,8 vez. Hoje, o Carrefour conta com 68% do capital social da companhia combinada, a Península fica com 7%, o Advent com 4%, o Walmart com 1% e os demais em free float.

As ações do Carrefour fecharam o dia cotadas a R$ 17,02 (o pregão abriu com os papéis cotados a R$ 17,75) e, atualmente, a companhia está avaliada a R$ 33,8 bilhões.

 

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