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Por que a fusão entre Cogna e Yduqs agora pode sair do papel

Redução na concentração de mercado e alinhamento de valuation reacendem as chances de uma fusão entre as gigantes da educação privada

Ações da Yduqs, dona da Estácio, avançam 82% no ano (Yduqs/Divulgação)

Ações da Yduqs, dona da Estácio, avançam 82% no ano (Yduqs/Divulgação)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do Exame INSIGHT

Publicado em 6 de maio de 2025 às 06h44.

Sete anos após o veto do Cade, a fusão entre Cogna e Yduqs voltou ao radar — desta vez, com mais chances de se concretizar.

Acionistas de ambas as empresas voltaram à mesa de negociação e mudanças importantes no mercado de educação superior desde a tentativa frustrada de 2017 podem reduzir os riscos concorrenciais e tornar o negócio viável do ponto de vista regulatório e financeiro.

Na avaliação do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle de EXAME), o principal entrave anterior — o alto grau de concentração, especialmente no ensino a distância — já não representa a mesma ameaça.

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Em 2017, as duas companhias detinham juntas 41% do mercado de EAD e 18% dos cursos presenciais. Hoje, esse número caiu para 31% e 13%, respectivamente.

Além disso, não há mais estados onde a soma das participações das empresas ultrapasse 50% do mercado nessas modalidades.

Apesar de ainda haver sobreposição relevante em estados como Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais, o BTG considera improvável um novo bloqueio da operação.

Mesmo nas regiões metropolitanas mais concentradas, como o Rio no segmento EAD, a expectativa é de que eventuais remédios regulatórios sejam pontuais.

Outro fator que muda a equação atual é a paridade entre Cogna e Yduqs em termos de valuation.

Diferentemente da ocasião anterior, quando a Cogna era negociada com prêmio, agora ambas operam a múltiplos semelhantes — na faixa de 4 a 5 vezes o Ebitda estimado para 2025 — o que pode facilitar um acordo de fusão sem necessidade de prêmio relevante para nenhum dos lados.

Do ponto de vista estratégico, a união poderia neutralizar uma concorrência direta e permitir ganhos operacionais relevantes, como redução de despesas administrativas e otimização de investimentos.

Além disso, as empresas têm pouca sobreposição nas faculdades de medicina, um dos segmentos mais valorizados do setor: apenas em São Luís (MA) ambas operam, com 8% e 4% das vagas totais, respectivamente.

Embora o BTG ainda mantenha uma postura cautelosa com o setor de educação, citando desafios como excesso de oferta de vagas e incertezas regulatórias no ensino a distância, o noticiário sobre a possível fusão deve sustentar o bom momento das ações: a Cogna já acumula alta de 162% no ano, enquanto a Yduqs sobe 81%.

A combinação volta ao radar com mais lógica econômica e menor risco regulatório — e, desta vez, pode enfim sair do papel.

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