Félix Antelo, CEO da companhia aérea colombiana: objetivo é ter voos diários nos próximos 12 meses (Viva/Divulgação)
Marília Almeida
Publicado em 23 de junho de 2022 às 06h12.
Última atualização em 23 de junho de 2022 às 06h18.
Em meio a um cenário adverso, de alta global dos combustíveis e a desvalorização do real ante o dólar, a companhia aérea colombiana Viva inicia nesta quinta-feira, 23, suas operações no Brasil. A estreia será marcada por um voo inaugural entre Medellín e São Paulo nesta manhã.
É a primeira empresa do segmento ultra low cost a operar no país, mesmo segmento da Ryanair, na Europa, e da Spirit, nos Estados Unidos. Os preços de passagens destas companhias costumam ficar entre 25% e 40% abaixo do custo de companhias tradicionais. Já no segmento low cost, o porcentual de desconto varia entre 20% a 25%. Exemplos de empresas do segmento low cost são a Jetblue, nos Estados Unidos, e a britânica EasyJet.
Os destinos dos novos voos no Brasil serão Miami, Punta Cana, Cancun, Cidade do México; além de cidades de praia colombianas como Cartagena, Santa Marta e San Andrés. Para Miami e Orlando, bilhetes de ida e volta por pessoa partem de R$ 2.300, levando em conta a atual cotação do dólar. Para Cancún, os preços começam em R$ 3.000, e Cartagena, de R$ 1.700. A estimativa dos executivos da companhia é de que os preços estejam cerca de R$ 1.000 abaixo do valor de companhias tradicionais, em média.
Todos os voos passam antes por Medellín, na Colômbia. Mas esta conexão, garantem os executivos, dura menos de uma hora. A companhia aérea terá capacidade para transportar 188 passageiros por voo.
Inicialmente, a Viva irá operar três voos por semana no país, às terças, quintas e domingos, com saídas do Aeroporto Internacional de São Paulo. Félix Antelo, presidente e CEO da Viva, disse ao EXAME IN que o objetivo é ter voos diários dentro de um ano.
As passagens, vendidas no país desde março, momento no qual a onda da variante Ômicron já havia arrefecido, estão sendo mais demandadas que o esperado. "Esperávamos que os passageiros na conexão com o Brasil representassem 20% do voo, mas estão representando 50%", conta Antelo.
Sobre o momento desafiador da economia brasileira, o executivo acredita que se manter o foco em reduzir custos, o resultado chegará. "Não vai ser certamente nos próximos nove meses, mas acreditamos que o cenário pode melhorar no segundo semestre de 2023. Estaremos posicionados para aproveitá-lo".
Perguntado se a companhia aérea vem reajustando preços, Antelo afirma que sim, mas que mesmo assim consegue manter a margem que a separa das companhias tradicionais, proporcionalmente. "Todo mundo reajustou os preços."
São basicamente três os motivos que fazem com que a companhia aérea consiga reduzir seus custos, segundo Antelo: frota padronizada e moderna, vendas online e tarifas personalizadas. A frota da Viva é composta apenas por um tipo de aeronave, o modelo A320neo, da Airbus, com no máximo um ano de funcionamento. Essa característica reduz custos com treinamentos e equipamentos. Ainda que o uso de cada aeronave seja maximizado na operação (cada avião roda 12 horas por dia, 25% mais do que em uma companhia tradicional), ele é compensado por essas eficiências.
As tarifas básicas da Viva permitem que cada passageiro leve apenas uma bagagem de mão. Todo serviço é cobrado adicionalmente. Além disso, os bilhetes são vendidos majoritariamente pela internet, o que também ajuda a reduzir custos. Caso sejam contratados no aeroporto, seus custos podem subir, no mínimo, 50%.
Fundada há 10 anos, a companhia aérea opera 45 rotas domésticas na Colômbia e Peru. Mas sua expansão internacional é recente: começou em 2021, quando abriu quatro novas rotas: conectando Medellín com Cidade do México, Cancún, Orlando; e Bogotá com a Cidade do México.
Neste ano lançou voos de Medelín para Buenos Aires, na Argentina, e Punta Cana, na República Dominicana. Agora, com a operação no Brasil, soma 13 rotas internacionais. Nos próximos anos, planeja abrir 30 novas rotas, entre nacionais e internacionais.
Em 2016 a companhia aérea fez a encomenda de 50 aviões, que serão entregues até 2025. Até o momento, já recebeu quase metade deles.
A Viva foi adquirida há dois meses pela Avianca, que acaba de formar o grupo Abra junto com a Gol. A operação ainda está sujeita à aprovação do órgão regulador da concorrência na Colômbia, processo que, estimam os executivos, deve durar entre seis meses e um ano.
O grupo Abra vai deter uma participação não controladora, mas com 100% dos interesses econômicos na empresa. Além das três companhias aéreas, o grupo tem ainda um investimento em dívida conversível que equivale a uma fatia minoritária na Sky Airline, do Chile.
O plano do Abra é criar uma espécie de corporação que cuidará da evolução das empresas operacionais, por meio de uma gestão eficiente e combinada da infraestrutura de todas. A meta é ter a maior malha de rotas complementares na região, com sobreposição mínima nos mercados e foco, claro, nas operações de baixo custo.
Dentro do grupo, as companhias aéreas seguirão com suas atividades de forma independente, além de marcas e lideranças. A diferença será apenas uma nova organização do controle. O potencial estimado do grupo Abra já para os próximos anos é de uma receita de US$ 10 bilhões, com uma expansão de frota que poderá abrigar 500 aeronaves.
Questionado se a empresa deve se manter no segmento ultra low cost sob a gestão do novo acionista, Antelo acredita que sim, mas ressalta que ainda não há um comunicado oficial sobre a estratégia. O executivo também aponta que é cedo para precisar o quanto a aquisição poderá afetar a estratégia da companhia, mas acredita que a 'obsessão' por custos da marca esteja alinhada à estratégia da corporação.
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