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PiniOn, o app das missões que melhoram o mundo, capta US$ 20 milhões

Companhia foi avaliada em US$ 100 milhões em aporte de fundo do Centro Financeiro Internacional de Dubai

Kiko Sader, CEO da PiniOn: renda para um mundo que terá 1,2 bilhão de pessoas excluídas do processo de digitalização e automação da economia (Leandro Fonseca/Exame)

Kiko Sader, CEO da PiniOn: renda para um mundo que terá 1,2 bilhão de pessoas excluídas do processo de digitalização e automação da economia (Leandro Fonseca/Exame)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 6 de dezembro de 2022 às 11h22.

Última atualização em 6 de dezembro de 2022 às 13h05.

Em plena ressaca do venture capital, a PiniOn, uma empresa dedicada a organizar micro tarefas para as pessoas e remunerá-las por isso, acaba de captar US$ 20 milhões, em uma rodada séria A na qual foi avaliada em US$ 100 milhões. Os recursos vieram do fundo Successo, do Centro Financeiro Internacional de Dubai (DIFC), mais do que uma região, uma organização com investidores institucionais, particulares e family offices em busca de projetos de inovação.

“Todo aplicativo foi criado para quem tem renda. O PiniOn nasceu para quem não tem.” É assim que Kiko Sader, CEO e sócio da companhia, começa a explicar esse projeto inusitado que nasceu há cerca de dez anos, mas que encontrou nos últimos cinco sua verdadeira vocação, em especial após o início da pandemia. Hoje, o aplicativo tem 3 milhões de usuários, todos conquistados organicamente.

O executivo explica que durante a crise sanitária ficou evidente como o negócio tem uma função de complementação de renda que é relevante e valorizada por seus usuários. É isso que faz a taxa de engajamento, que é na média de 60%, ser tão relevante. “Os usuários nos mandavam mensagens pedindo por mais missões e explicando o quanto aquela renda adicional era importante”, lembra ele.

O mercado potencial é grande, embora não seja motivo de nenhuma comemoração. Sader cita um estudo da McKinsey apontando que 1,2 bilhão de pessoas no mundo devem ficar à margem do processo de digitalização e automação da economia e com cada vez mais dificuldade de empregabilidade. O impacto em salários poderá alcançar quase US$ 15 trilhões, de acordo com a mesma pesquisa, realizada em 46 países, que representam 80% da força global de trabalho, com o exame de 2.000 atividades. Para essa parcela da população, oportunidades como as que o PiniOn promove serão cada vez mais necessárias. A capacidade de mobilização de pessoas, e suas mil e uma possibilidades, foi o que atraiu nomes como Armínio Fraga e Fabio Barbosa, na rodada de seed money realizada em 2019 — quando levantou R$ 10 milhões.

Agora, com a operação tecnologicamente mais madura, foi a possibilidade de exportação da PiniOn, de sua solução, que trouxe o Successo como acionista, atento às discussões sobre como os fatores ESG (ambientais, sociais e de governança) serão uma resposta para o equilíbrio do planeta no futuro. “Existe um mercado potencial enorme, e com grande capacidade de impacto”, ressalta Hyder Pasha Asghar, sócio-fundador e gestor do fundo. A carteira tem um total de US$ 100 milhões sob administração, mas pode em breve alcançar US$ 300 milhões, pois a captação está aberta para uma segunda tranche. A companhia é a primeira brasileira do portfólio, que atualmente conta com oito investidas — mas não deve ser a única. “Podemos chegar a ter três ou quatro empresas brasileiras na carteira. Há oportunidades em fase de due dilligence sendo avaliadas. Então, sim, o Brasil será um país relevante nos nossos investimentos. Somos agnósticos, em termos de setor. O que buscamos são projetos novos com um grande potencial de escala, e internacional, no futuro.”

Hoje, o aplicativo é capaz de coordenar tarefas em escala para empresas, governos e também para o segundo setor, e com isso, melhorar a eficiência dos negócios. Essa é uma das faceta: a dos clientes que recorrem à companhia para contratar as missões — como eles chamam as microtarefas. É daí que vem a receita da PiniOn. A outra é justamente o impacto social e até ambiental e educativo, que a empresa, com seu aplicativo, pode gerar para a sociedade. Quem realiza as tarefas sugeridas pela plataforma recebe, por isso, uma pequena remuneração. Os pagamentos variam muito, seguindo uma escala de complexidade por missão, e podem ir de R$ 1 a R$ 100.

Cabe de tudo, desde pedir para as pessoas de uma determinada região para localizar fontes de vazamento de água em seu entorno, terrenos baldios que estejam acumulando lixo, postes que passam o dia com as luzes acesas, ou até organizar limpeza de praias. Essa última, em especial, foi uma tarefa recentemente realizada que promoveu a limpeza de 3.223 praias de Norte a Sul do país, mobilizou mais de 1.500 pessoas, coletou 47 metros cúbicos de lixo e distribuiu, para os envolvidos cerca de US$ 9.200. O PiniOn, como aplicativo funciona até mesmo para organizar doações, como ocorreu na última grande enchente em Recife (PE). Ao todo, desde sua criação, o aplicativo já distribuiu e concluiu mais de 30 milhões de missões.

Um dos sócios mais antigos do projeto é Maurício Moura, o economista fundador e presidente do Instituto IDEIA. Entre 2014 e 2019, o PiniOn chegou até mesmo a ficar dentro instituto. No começo, Moura via uma vocação no aplicativo para pesquisas. “Para nós sempre foi importante buscar como poderíamos nos diferenciar para competir com institutos antigos e consolidados no mercado. Em 2014, eu estava em um evento nos Estados Unidos, que destacou muito o potencial do mobile para o mercado de pesquisa”, conta ele. Pouco depois, ele entrou em contato com o recém-fundado PiniOn e ‘encubou’ a operação no IDEIA.

Com o passar do tempo, porém, Moura se deu conta que o negócio poderia ser muito maior e ter usos muito mais diversos. Foi quando chamou Sader, um colega de faculdade com experiência em pesquisas, para a empreitada, há cerca de cinco anos. Pouco tempo depois, a PiniOn saiu do Idea, conquistou vida independente, captou recursos e o fundador do IDEIA ficou como investidor pessoa física.

PiniOn

Sócios e executivos da PiniOn, da esquerda para a direita: Ygor Lemos (CTO), Talita Castro (CPO), Wagner Mohallem (CFO), Kiko Sader (CEO) e Carol Dantas, Brasil Country Manager (Leandro Fonseca/Exame)

Os usuários do PiniOn estão espalhados por mais de 4.700 municípios brasileiros e agora, com o dinheiro novo, a empresa está pronta para se internacionalizar. “Temos usuários até em ilhas fluviais na Amazônia”, comenta a Carol Dantas, que é Brasil Country Manager.  Pasha Asghar diz, entusiasmado, que o fundo Successo tem muito a contribuir para essa exposição global e que vê na Índia um mercado que faz muito sentido de ser explorado. Sader não especifica países, mas destaca que algumas missões já foram realizadas fora do Brasil, um exemplo é Portugal. Porém, ressalta que a operação internacional deve começar por países com grandes populações.

Os usos possíveis das soluções providas pelo PiniOn, sua escala e capilaridade são muitos. Quase incontáveis. Mas Sader e a equipe, que também foram fortemente impactados pelo efeito da plataforma durante a pandemia, entendem que todas vão em uma direção: aumentar a quantidade de missões para os usuários e, com isso, participar de um processo de melhor distribuição de renda para diversas pessoas. “Meu gargalo hoje está na oferta de missões e não no público. Ainda não fizemos nenhum movimento agressivo para conquista de usuários, pois temos de ser relevantes para eles.”

Talita Castro, que está à frente do desenvolvimento de produtos, como CPO, ressalta que o PiniOn tem também um impacto muito grande pela capacidade de gerar hábitos positivos e até educação. Ela faz parte do time de sócios originais, junto com Ygor Lemos, CTO da empresa e responsável pelo primeiro código digital do aplicativo e registro do domínio.  “Os vídeos da missão de limpeza de praia mostram esse potencial educativo, com o retorno das pessoas que se envolveram na tarefa. Fica evidente o potencial de conscientização”, completa Carol, em coro. A parte de pesquisas, mercado original que fez Moura se interessar pela solução, continua existindo e ainda é fonte de receita para a PiniOn e para seus usuários. Mas não é considerado mais o grande negócio a ser desenvolvido.

A empresa não apenas encontrou sua vocação, mas viu um mar de oportunidades para ser explorado na ausência de grandes competidores. Sader aponta, por exemplo, que para fundações seria uma excelente maneira de escalar, organizar e ainda medir o impacto. Isso porque tudo é monitorado na plataforma e os resultados são medidos, o impacto gerado por além de ser mensurado, ser sentido pelo retorno das pessoas que são beneficiadas. Ele tem apresentado o produto para diversos potenciais clientes. "Nos Estados Unidos, por exemplo, todo fim de ano existe uma corrida de doações, porque é quando as fundações conseguem mais visibilidade do lucro das companhias patrocinadoras e precisam aplicar os recursos para garantir os benefícios fiscais às empresas. Esse acúmulo em um curto período de tempo acaba, muitas vezes, tornando o processo ineficiente", explica ele, ressaltando o tamanho da oportunidade no segundo setor da economia.

Se as oportunidades da PiniOn são do tamanho da necessidade e carência do mundo, o futuro pode ser próspero. Para todos os envolvidos.

 

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