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Petz ajusta rota, investe em produtos de menor preço e faz 'trimestre da reversão'

Lucro mais que dobra, depois de oito trimestres de queda. CEO diz que resultado não será 'ponto fora da curva'

Petz: companhia percebeu que estava mal posicionada em produtos da categoria de entrada (Petz/Divulgação)

Petz: companhia percebeu que estava mal posicionada em produtos da categoria de entrada (Petz/Divulgação)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 6 de novembro de 2024 às 20h17.

Sob a expectativa do mercado para a evolução da fusão com a Cobasi, a Petz fez do seu terceiro trimestre um período de virada de chave. O recado já havia sido passado pelo CEO e fundador, Sergio Zimerman, nas teleconferências da primeiro metade do ano.

No segundo trimestre, o balanço ainda fraco precedia momentos melhores na varejista, segundo ele. No terceiro trimestre, esse cenário mais positivo chegou.

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"Esse é um balanço de reversão de tendência. Vínhamos com pontos de pressão de vários sentidos, como desaceleração de crescimento, impacto de margem bruta e Ebitda. Agora, foi um trimestre de descompressão", diz Zimerman em entrevista o INSIGHT. 

Pela primeira vez na história da companhia o faturamento passou de R$ 1 bilhão em um trimestre. A receita líquida ficou 6,9% maior, em R$ 845 milhões, com o lucro bruto avançando 9,4%, para R$ 395 milhões. O Ebitda ajustado cresceu 14%, para r$ 74,6 milhões. Preparados para melhoras de tendência, o mercado tinha expectativas em linha com a maior parte desses indicadores.

O lucro líquido, no entanto, chegou a R$ 14,89 milhões, 120% acima do registrado no mesmo período do ano passado. Neste trimestre o câmbio favoreceu a receita financeira devido a uma operação de swap atrelada a financimento, mas sem efeito caixa.

Se considerados efeitos não recorrentes, plano de opção de compra de ações e imposto de renda, o lucro líquido ajustado foi de R$ 26 milhões, ainda 76% acima do ano passado. O resultado é apresentado pela companhia sob a norma antiga, o IAS 17. Sob o IFRS, o lucro líquido foi de R$ 11 milhões, quase 8 vezes maior do que um ano antes.

"O crescimento que estamos tendo é de quase 8% de crescimento real. É bastante substantivo. Quando olhamos esse trimestre e o quarto trimestre, vemos uma melhora. Esse está longe de ser um trimestre outlier", diz o CEO.

Mas não houve um caminho único para chegar a números melhores, explica o executivo. Um dos pontos importantes foi reconhecer que a companhia estava mal posicionada em marcas e categorias de entrada, em especial nas lojas físicas.

"Houve entendimento de aumentar a competitividade das lojas físicas. Mesmo que determinada marca não desse a margem que queríamos, não podíamos perder o cliente. Quando passamos a ter uma visão mais completa do cliente, começamos a entrar na rota de correção do negócio", diz Zimerman. A decisão pressionou os números no segundo trimestre, mas os ganhos passaram a ser colhidos já entre julho e setembro, segundo ele.

A pressão da concorrência mais acirrada do marketplace fez a empresa mudar os planos. "Não tínhamos muito essa categoria de entrada, com preço mais baixo. Começamos a desenvolver, em brinquedos e camas, por exemplo, essa categoria de entrada para competir com o marketplace", diz. Parte importante dos ganhos em vendas veem especialmente da marca própria, uma aposta do grupo, e que tem crescido 40%.

Foi nesse trimestre, também, que a empresa lançou sua versão de atacarejo. Batizada de Atacado Pet, a loja fica na Marginal Tietê, em São Paulo, no local onde a Petz nasceu, ainda como Pet Center Marginal. Inaugurada em agosto, ela mira os clientes de classe C, com maior restrição orçamentária, mas não tem relação com a Petz – nem sequer na identidade visual.

Ainda assim, as melhorias foram mais amplas. A divisão de serviços, como banho e tosa, ainda caiu, mas dando  sinais de recuperação, num recuo de apenas 3,3%.

A varejista também buscou melhora de produtividade do digital, que estava corroendo parte da margem. O canal totalizou R$445,5 milhões em receita no trimestre, um crescimento de 19,7% em relação ao mesmo período do ano passado, quando já havia crescido 19,6%.

Nesse período, relançou o programa de fidelidade, o Clubz, que passou a ter categorias com pagamentos mensais para clientes que desejam mais benefícios.

As medidas aumentaram o número de clientes ativos, que chegaram a 2,8 milhões, e levaram o número de assinantes a um patamar recorde, de 524 mil tutores -- 20% acima de um ano antes de correspondente a 30% do faturamento. "É um negócio de recorrência. Esses clientes devem continuar comprando conosco por mais tempo", diz a CFO Aline Penna. O churn do programa de assinatura caiu 1 ponto percentual e chegou ao menor patamar já registrado.

Enquanto isso, a companhia se prepara para as novas etapas na combinação de negócios com a Cobasi. O Cade fez a devolutiva do pré-protocolo apresentado pelas companhias, com pedidos de mais elementos para complementar a análise. A expectativa, agora, é de que o protocolo oficial seja feito até o fim do mês de novembro.

Às vésperas da publicação do balanço, as ações da Petz subiam 7%, para R$ 5,81. No ano, os papéis acumulam 56% de alta, com aceleração a partir de meados de agosto, quando o acordo de fusão com a Cobasi foi oficialmente anunciado. Ainda assim, os papéis negociam em linha com os patamares de meados de janeiro de 2023.

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