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Petrópolis: juros em alta agravaram problema, mas dificuldades começaram em 2019

Alta da Selic trouxe impacto de R$ 395 milhões por ano para o caixa da companhia, dona da cerveja Itaipava

Grupo Petrópolis: empresa se queixa de ambiente anticoncorrencial, que teria provocado a redução de margens de seus produtos (André Santos Fotografia/Reprodução)

Grupo Petrópolis: empresa se queixa de ambiente anticoncorrencial, que teria provocado a redução de margens de seus produtos (André Santos Fotografia/Reprodução)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 28 de março de 2023 às 15h03.

Última atualização em 28 de março de 2023 às 16h45.

O pedido de recuperação judicial com caráter de urgência feito pelo Grupo Petrópolis, dono da Itaipava, da Petra e da Black Princess, reforça a percepção de como a empresa foi perdendo sua força ao longo do tempo, com problemas de distribuição e não conseguindo lidar com uma competição mais acirrada e poderosa de Ambev (AMBV3) e Heineken nos rótulos premium, que aos poucos vêm caindo no gosto do consumidor brasileiro. A companhia do interior do Rio de Janeiro tem dívidas de R$ 4 bilhões.

A urgência do pedido veio pela iminência de um vencimento “bullet” de R$ 105 milhões. A cervejaria de Walter Faria, contudo, vinha com problemas desde 2019, quando ele foi preso após as diversas fases da Operação Lava-Jato. Agora, a taxa Selic perto dos 14% vitimou de vez a saúde financeira do negócio.

Naquela época, a empresa já tinha de lidar com a busca por empréstimos para sustentar seu crescimento e perdia alguns interessados por verem o ativo como “problemático” após o envolvimento do nome de Faria com investigações de corrupção. Desde então, o comando da empresa ficou dividido entre a filha, Giulia Faria, que assumiu os negócios, e o diretor financeiro, Marcelo de Sá, que está na empresa há mais de 17 anos.

A pandemia veio encher o copo. O volume de cerveja vendido no país, ao contrário do que se poderia imaginar, aumentou e superou os 15 bilhões de litros anuais, chegando ao maior patamar desde 2014, quando o país sediou os jogos da Copa do Mundo. O bolo aumentou e muita gente conseguiu se esbaldar nesse banquete maior, mas é claro que teve quem se saísse melhor. Nesse período, Heineken e especialmente a Ambev viram suas fatias crescerem, ficando com cerca de 20% e mais de 60% do mercado, respectivamente.

“O Grupo Petrópolis está atravessando uma crise de liquidez que já perdura e vem se agravando há aproximadamente 18 meses, diante da drástica redução de receita durante esse período, em razão da queda no volume das vendas, que antes girava em 31,2 milhões de hectolitros de bebida vendidos no ano de 2020, nos anos de 2021 e 2022 o volume caiu para 26,4 milhões e 24,1 milhões de hectolitros”, diz a empresa em sua petição. Vale lembrar que cada hectolitro corresponde a 100 litros.

Só para comparação, em 2022, a receita do Grupo Heineken cresceu 30% no país e o volume avançou um dígito alto, algo entre 8% e 9,9%. Já a Ambev registrou avanço de 3,5% no volume vendido no Brasil e uma receita 17,4% maior.

Hoje, pelos cálculos da consultoria Euromonitor, o Grupo Petrópolis tem 13% do mercado. Em medições de outros agentes do mercado esse percentual fica em torno de 10%. De acordo com relatórios da equipe de análise do Credit Suisse ao longo dos últimos dois anos, o grupo vinha apostando menos em inovação do que seus concorrentes, tinha menor poder de distribuição e foi fortemente afetado pela menor oferta de vidro.

Mas a empresa também reclama de “expediente manifestamente anticoncorrencial” dos outros grandes grupos. Segundo a dona da Itaipava, as políticas dos concorrentes a levaram a segurar por longo período o repasse do aumento dos custos de produção, o que empurrou para a redução das margens de seus produtos. Desse cenário, saíram impactos financeiros substanciais no Grupo Petrópolis, que resultaram em severo comprometimento de seu fluxo de caixa.

Grande parte do problema, segundo a empresa, também está no aumento acelerado dos juros. A escalada da Selic para 13,75% levou a um impacto de aproximadamente R$ 395 milhões por ano no fluxo de caixa da companhia. Para isso, a cervejaria pediu a liberação de recursos que detém no Santander, Fundo Siena, Daycoval, BMG e Sofisa, seja em depósitos ou em recebíveis futuros. Na última sexta-feira, 24, esses montantes em recebíveis somavam algo em torno de R$ 383 milhões, sendo a R$ 215,77 milhões no banco Santander.

O pedido de tutela foi concedido pela 5ª Vara Empresarial da Justiça do Rio de Janeiro, permitindo a liberação dos recursos. Resta saber quanto o pedido de recuperação judicial será suficiente para o Grupo Petrópolis manter o copo meio cheio.

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