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Petróleo branco: IG4 mira produtora de lítio em lance de US$ 916 milhões

Alvo é holding da SQM, controlada pelo empresário filho do ex-ditador Augusto Pinochet, Julio Ponce

Carro elétrico: lítio é matéria prima para baterias de carros elétricos e todos os aparelhos do mundo digital (Martin Pickard/Getty Images)

Carro elétrico: lítio é matéria prima para baterias de carros elétricos e todos os aparelhos do mundo digital (Martin Pickard/Getty Images)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 16 de abril de 2021 às 20h46.

Última atualização em 28 de abril de 2021 às 07h05.

O mundo hoje, não importa o setor econômico, está guiado por duas setas: “go digital” e “go eletric”. As duas tendências — irrefutáveis e aceleradas — partem de uma mesma matéria-prima, o lítio, um minério mais raro que os demais, cujas maiores reservas estão concentradas na Austrália e no Chile. Não é por outra razão que a Sociedad Quimica y Minera De Chile (SQM), avaliada em aproximadamente US$ 15 bilhões, deve passar por uma transformação em sua governança em breve. Como segunda maior produtora de lítio, tornou-se um importante e atrativo negócio de futuro. Há dois movimentos concorrentes.

De um lado, a IG4, gestora de private equity fundada por Paulo Mattos, fez uma oferta de US$ 916 milhões para adquirir a holding do maior acionista da empresa, Julio Ponce, e mais alguns minoritários. Desse total, US$ 600 milhões seriam para compra dos papéis dos investidores e mais US$ 300 milhões de capitalização primária, conforme o EXAME IN apurou com fontes a par do assunto.

Com mais de 80 anos e genro do ex-ditador Augusto Pinochet, Ponce é uma dessas figuras públicas totalmente "high profile".  Habituada a fazer negócios envolvendo reestruturação de dívida, a SQM seria um alvo de reestruturação de governança para a IG4, outra frente da casa. O empresário enfrenta um dilema sucessório.

Mas, quem concorre com a IG4 é ninguém menos que o próprio Ponce, que vem tentando ele próprio buscar recursos para adquirir investidores minoritários e reorganizar a operação. A única semelhança entre as iniciativas é tentativa de simplificar a cadeia de controle em cascata. A SQM tem em sua base acionária grandes e renomados investidores internacionais, como BlackRock, Fidelity, Vanguard, Aberdeen, entre tantos.

O lítio, também conhecido como petróleo branco, dobrou de valor no mercado internacional em 2020. É essencial para fabricação de baterias, que serão itens de primeira necessidade em um mundo guiado pela energia elétrica e solar. Para completar, também está presente nas baterias de celulares e computadores. O Reino Unido já decidiu banir, a partir de 2030, os veículos movidos a combustíveis fósseis. Alemanha tem diretrizes na mesma direção e o novo presidente americano, o democrata Joe Biden, está empenhado em uma agenda "carbon free".

A companhia, que produz ainda outros minérios como potássio, importantes para a cadeia de fertilizantes, teve receita líquida de US$ 1,8 bilhão em 2020 e Ebitda de US$ 325 milhões. Tudo indica que o lance da IG4, conforme o EXAME IN apurou, seria o maior já feito pela gestora de Mattos, egresso da GP Investimentos e que estabeleceu uma importante base de captação de recursos a partir do Reino Unido. Mas, provocada, a casa não quis comentar o assunto.

A IG4 é dona da Iguá, de saneamento básico no Brasil, que acaba de receber aporte do Canada Pension Plan Investments (CPPI), e também do terminal de grãos do Maranhão Tegram. Outro ativo de destaque da companhia, recém-adquirido, é o conglomerado peruano Graña Y Montero, agora denominado Aenza. O objetivo de Mattos, declarado diversas vezes, era montar uma casa global, tanto em captação como em investimentos.

O EXAME IN apurou, mas sem confirmação da empresa, que a estrutura prevê um plataforma de captação no Reino Unido, a IG4 Minerals, que terá recursos do fundo, mais de co-investidores (normalmente investidores do próprio fundo também) e ainda uma estrutura de financiamento, em transação com assessoria do BTG Chile (O BTG Pactual pertence ao mesmo grupo controlador da EXAME).

 

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