Repórter Exame IN
Publicado em 22 de novembro de 2023 às 09h49.
Última atualização em 10 de janeiro de 2024 às 12h20.
Às vésperas da apresentação do plano estratégico para os próximos cinco anos, previsto para sair amanhã, o conselho de administração da Petrobras enfrenta um impasse: entender a estratégia da companhia na transição energética – tema que é uma das bandeiras do governo federal e do CEO Jean Paul Prates.
Segundo fontes ouvidas pelo Exame IN, está na mesa um plano total de US$ 100 bilhões de investimentos, dos quais US$ 80 bilhões serão destinados para a atividade principal de exploração e produção (incluindo iniciativas para reduzir a intensidade de carbono do petróleo extraído pela companhia) e outros US$ 20 bilhões para iniciativas de transição energética. O montante total é superior aos US$ 78 bilhões previstos no plano de 2023-2027.
A principal questão é o retorno dos projetos de transição energética e como eles serão financiados. O conselho de administração vem demandando mais informações da diretoria para entender melhor o retorno dos projetos. Uma preocupação que tem razão de ser, considerando o histórico de perdas da companhia com projetos de VPL negativo, motivados por razões ideológicas.
“A transição energética vai trazer retorno muito mais incerto e risco muito maior e é preciso entender como ele vai ser financiado”, diz um interlocutor próximo à companhia.
O debate acontece em meio a pressões do governo para aumentar o nível de investimentos, num momento em que a companhia conta com um fluxo de caixa mais apertado, já que não deve contar mais com recursos vindos de desinvestimentos dos últimos anos. Só em 2022, por exemplo, foram R$ 13 bilhões injetados no caixa da empresa por meio desse tipo de operação.
Além de questionamentos dos representantes de minoritários, os próprios conselheiros indicados pelo Ministério de Minas e Energia e pelo PT têm travado embates sobre o tema. O clima esquentou nos últimos dias com a cobrança pública do ministro Alexandre Silveira por maior celeridade da Petrobras no ajuste à queda dos preços internacionais do petróleo e informações sobre uma eventual pressão pela saída de Prates.
Recentemente, a Petrobras fez diversos anúncios sobre potenciais investimentos em energia eólica offshore, onde vê uma vantagem estratégica por conta da sua experiência de exploração em águas profundas. No entanto, o cenário para os próximos anos é de sobreoferta de energia no país – e há dúvidas sobre a necessidade de se investir em produção de energia dos ventos em alto mar quando ainda há bastante potencial em terra.
As eólicas no mar, entretanto, são apenas a ponta do iceberg no quesito de como o conselho está ‘no escuro’ para projetar os próximos cinco anos.
No caminho para entender o direcionamento estratégico da companhia daqui para frente, o board ainda tem dúvidas a respeito do que a Petrobras vai decidir fazer com a participação na Braskem, do que quer com a produção de fertilizantes — a petroleira retomou neste ano a produção na fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados, paralisada desde 2020 e com um histórico de prejuízos — e de como vai lidar com investimentos em hidrogênio verde, por exemplo.
A visão de uma fonte próxima à companhia é de que o conselho é favorável ao investimento em transição energética para os próximos anos. Mas, entre a teoria e a prática, há uma série de receios, por enquanto, pela ausência de uma estruturação coerente do planejamento estratégico.