Combustíveis: mercado trabalha com aposta em aumento do espaçamento de reajustes (Rickey Rogers/Reuters)
Graziella Valenti
Publicado em 24 de maio de 2022 às 12h28.
A troca na presidência da Petrobras pode ter surpreendido o mercado, mas não o conselho de administração da companhia. Sai José Mauro Ferreira Coelho, entra Caio Mario Paes de Andrade — o terceiro nome em dois meses. O contexto da saída, como todos imaginam, é a escalada dos combustíveis justamente em um ano de eleição.
No caso de Ferreira Coelho, porém, ele conseguiu juntar tudo de "politicamente pior" em um balaio só. O CEO escolhido para comandar a estatal, recém-chegado, tomou uma decisão considerada por aqueles que o cercam de “ingênua”, apesar de tecnicamente correta: um aumento de 8,8% no diesel, de uma só vez. O combustível não sofria nenhum aumento havia 60 dias.
Além de ter escolhido fazer uma correção expressiva de uma só vez, o “timing” foi considerado péssimo — “impróprio” aos olhos do Planalto. A notícia de que a Petrobras obteve o maior lucro líquido da sua história, de R$ 44,5 bilhões, no primeiro trimestre não havia nem esfriado quando o ajuste do diesel foi comunicado.
“Vivemos em uma sociedade. É difícil para esse coletivo ver a estatal dar um lucro desse tamanho, recorde, e ainda aumentar o preço na bomba. Não é para os mortais”, comentou uma pessoa próxima ao assunto. E para completar o alvo foi o combustível mais explosivo, o diesel, que afeta diretamente os caminhoneiros, que na greve de 2018 deixaram claro seu poder de parar o Brasil. Além de ser inflação na veia devido ao custo do frete
Para completar (não, ainda não terminou!), Ferreira Coelho perdeu o padrinho político dois dias depois, quando foi anunciada a troca no Ministério de Minas e Energia: saiu Bento Albuquerque, entrou Adolfo Sachsida. E Albuquerque caiu também por causa da crise dos combustíveis. Não espanta, portanto, que Paes de Andrade seja próximo do novo ministro setorial, além do próprio ministro da economia, Paulo Guedes, que o levou para o governo. “Nunca vi CEO da Petrobras sem padrinho”, disse uma pessoa que acompanha o desenrolar das mudanças.
Ninguém acredita que a dança das cadeiras na Petrobras vá mudar o fato de o combustível estar caro ou a política de paridade internacional. Contudo, já começa a nascer entre os investidores, dado o bastidor da saída de Ferreira Coelho, uma aposta em estratégias de espaçamento dos anúncios.
Em cenários de calmaria, a verificação da paridade é trimestral. Mas com a volatilidade atual dos mercados, essa não é uma opção. Se a correção espaçar, pode ficar acumulada, se for dada mais rotineiramente, a sensação de inflação pode ser pior. As alternativas não são boas. A única coisa que está claro para quem está na Petrobras nesse momento é que Paes de Andrade terá de robolar na hora de comunicar novas altas para as bombas dos postos de combustíveis.
A principal função do CEO da Petrobras neste ano de 2022 se tornou, portanto, não incomodar o Planalto — ou, se não for possível, que atrapalhe o mínimo possível. A estratégia da companhia foi para segundo plano. “Não dá para ignorar que estamos em um ano eleitoral”, dizem os mais acostumados com a vida na estatal, em tom de resignação. É inevitável que a consequência seja uma piora na percepção de risco de ingerência política, ainda que a fé na mecânica da paridade (e seus institutos) permaneça.
Não são poucas as ideias que rondam por aí, de analistas de petróleo a especialistas em políticas públicas, sobre como o governo deveria lidar com os momentos de alta internacional do petróleo. Tem de tudo: de subsídio bancado pelo Estado, passando por voucher no estilo de Portugal, até algo mais estruturado e perene, como a formação de um fundo específico para essas situações — acumulado com parte dos ganhos que a própria Petrobras gera para a União nos períodos de bonança.
Em recente relatório, o Bradesco BBI calculou quanto a União arrecadou com a Petrobras na última década: nada menos do que R$ 1,4 trilhão entre impostos e dividendos. As contas públicas agradecem à alta do petróleo, ainda que isso ajude muito menos, ou quase nada, na percepção da população a respeito do governo. Ou naquilo que colhe socialmente.
Não bastasse a instabilidade na liderança da maior empresa do Brasil, cada troca de CEO chacoalha também o conselho de administração. O órgão que deveria dar as diretrizes do negócio, precisa passar por rearranjos constantes. O estatuto social da Petrobras estabelece que o presidente executivo precisa ser conselheiro de administração. Portanto, precisa sentar antes no conselho.
Como o colegiado da estatal foi eleito pelo sistema de voto múltiplo, é preciso convocar nova assembleia para nova eleição (que não mexe, porém, com eleitos por voto em separado dos minoritários). A União já solicitou a convocação para a Petrobras.
E, no meio disso tudo, é preciso fazer a averiguação se Paes de Andrade atende os requisitos da Lei das Estatais. Seu nome já vinha sendo considerado. Antes dele, dois outros candidatos anunciados Rodolfo Landim e Adriano Pires acabaram desistindo antes dessa análise, na qual muitos diziam que seriam reprovados.
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