Magda Chambriard: preservação de market share e aposta na exploração e em refino (ANP/Divulgação)
Publicado em 14 de maio de 2024 às 23h52.
Última atualização em 15 de maio de 2024 às 07h26.
Pouco mais de 12 horas antes de ser indicada oficialmente para a presidência da Petrobras, Magda Chambriard estava numa teleconferência promovida pelo UBS BB com investidores. Entre análises sobre a dinâmica de investimentos da estatal, os poucos presentes tiveram ali um bom recorte do que pensa a futura CEO.
A princípio, era mais uma conversa entre outras tantas que as equipes de sellside promovem com experts do setor. A do UBS é uma das mais respeitadas em petróleo e gás no país.
Não é a primeira vez que Chambriard, ex-diretora geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e técnica respeitada, participa de conversas do tipo. Desta vez, com muitos gestores em Nova York para a Brasil Week, o quórum foi baixo -- mostrando como a indicação de hoje veio como uma surpresa.
Foi só quando a demissão de Jean Paul Prates foi anunciada hoje que começaram a circular mensagens entre investidores sobre o resumo do que foi dito na conversa.
“A indicação era pouco cogitada por quem não entende dos bastidores. Ela já era mais cotada que o Jean Paul Prates desde o início do governo”, aponta uma fonte que acompanhou a reunião. A Exame antecipou em março que o nome de Chambriard vinha ganhando força.
Uma das principais apostas de Chambriard está na exploração da Foz do Amazonas e da Bacia de Pelotas, ativos que seriam grandes o suficiente para o tamanho da petroleira, segundo ela, que tratou a capacidade exploratória da companhia como “importantíssima”.
“Não tenho visto a Petrobras brigando suficientemente por eles”, disse. “Petrobras como grande empresa precisa de plays com potencial grande. Pequenos não deveriam ser prioridade.”
Chambriard também é defensora dos investimentos em refino, um segmento esvaziado pelas gestões da estatal durante o governo Bolsonaro e uma das frentes constantemente citadas por Lula. Para ela, é preciso rever antigos conceitos, como o de que refino não dá dinheiro. “Refino não é ruim, refino mal-feito é ruim.”
No segmento de gás natural, onde o avanço do mercado livre de energia ameaça a dominância da Petrobras, a falta de interesse em expandir infraestrutura é uma ameaça, de acordo com Chambriard. “Petrobras vai entender que ela precisa ser protagonista da abertura [de mercado], ou em 3 a 4 anos vai ser atropelada”, afirmou listando grandes concorrentes, como Shell, Equinor e Total.
Ainda dentro da dinâmica de investimentos, Chambriard avalia que é preciso revisitar projetos para que “sejam mais baratos”, destacando que plataformas estão caras e as diárias de barco de apoio poderiam ser metade do valor, com uma redução de exigências da estatal.
A questão de custo também foi um ponto levantado ao falar dos investimentos na transição energética. Neste cenário, Chambriard aposta mais na geração de energia éolica em terra do quem offshore, cujas plataformas são “carissímas”, em suas palavras -- uma visão diametralmente oposta à de Jean Paul Prates, um grande entusiasta das eólicas no mar.
“Temos outras coisas: eólica em terra, biocombustível”, afirmou, citando ainda oportunidades em diesel verde, combustíveis sintéticos e combustíveis sustentáveis para aviação.
“Esses movimentos [em direção a esses combustíveis] já estão acontecendo nas grandes companhias. O que não podemos é perder a boa colocação que a Petrobras tem a frente das competidoras.”
Além de ex-diretora geral da ANP, Chambriard trabalhou por 22 anos na Petrobras e atualmente atuava como consultora na Chambriard Engenharia e Energia. À frente da ANP por duas vezes (de 2012 a 2016 e durante todo governo Dilma), teve de lidar com críticas durate a crise da OGX, de Eike Batista.