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Petrobras: política de preço da era Dilma custou R$ 100 bi, mais que toda Lava-Jato

Crise financeira da estatal de 2015 foi produto de anos de superinvestimentos e caixa reduzido, devido ao congelamento dos combustíveis

Combustíveis: compete à diretoria executiva aprovar política de preços de produtos (Sol de Zuasnabar Brebbia/Getty Images)

Combustíveis: compete à diretoria executiva aprovar política de preços de produtos (Sol de Zuasnabar Brebbia/Getty Images)

Graziella Valenti
Graziella Valenti

Editora Exame IN

Publicado em 21 de fevereiro de 2021 às 18h22.

Última atualização em 16 de maio de 2023 às 14h34.

Esta matéria foi publicada em fevereiro de 2021

O que gerou mais perdas para a Petrobras, as obras megalômanas (e superfaturadas) que estiveram no coração da Operação Lava-Jato ou a política de contenção do preço dos combustíveis da ex-presidente Dilma Rousseff (PT)? A pergunta é mais atual que nunca: o presidente Jair Bolsonaro trocou o comando da petroleira na sexta-feira após críticas à política de preços.

Acertou quem disse que foram os combustíveis. Em 2016, a estatal acumulou R$ 96 bilhões em baixas contábeis geradas por projetos que não ofereciam perspectiva de retorno, tais como a Refinaria do Nordeste (Rnest) e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), entre tantas. Foram três anos de limpeza no balanço – 2014, 2015 e 2016.

Ainda em 2015, quando Mauro Rodrigues da Cunha, então conselheiro da estatal eleito pelos minoritários, foi depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a empresa, apontou que até aquele momento a contenção de preços havia gerado perda de R$ 100 bilhões. O cálculo inclui o que a companhia deixou de ganhar e o que gastou a mais em despesa financeira, fruto da ausência de paridade do combustível com os preços internacionais.

A petroleira, na ocasião, mantinha o preço da gasolina quase congelado como forma de segurar a inflação, enquanto seu endividamento pesava cada dia mais, uma vez que era, em sua maior parte, em moeda estrangeira.

Quando as pessoas lembram da crise financeira da estatal, que teve de correr para lidar com uma dívida líquida de US$ 100 bilhões, tendem a pensar que apenas os desmandos ligados à Lava-Jato e às super-obras foram a causa do problema. Nesse sentido, o maior escândalo acabou por nublar o tamanho do dano que é deixar a Petrobras fora da paridade internacional.

Naquela época, havia também falta de clareza a quem competia a política de preços da companhia. Atualmente, após diversas alterações no estatuto da empresa desde então, cabe à diretoria executiva aprovar a política de preços de produtos.

O novo indicado pelo presidente da República Jair Messias Bolsonaro, o general Joaquim Luna e Silva, que até então era diretor-geral de Itaipu, nem sentou na cadeira mas já deu entrevistas falando que a companhia precisa se preocupar com seu lado social, ainda que negue a existência de planos de interferência na política de preços.

Pote de ouro

Os anos passam e a Petrobras parece um pote de ouro de tentação irresistível aos governos — até mesmo do atual, que se elegeu com discurso e promessa de uma agenda liberal. Na gestão do Partido dos Trabalhadores (PT), a petroleira foi uma máquina de política industrial, com investimentos de centenas de bilhões a cada ano, e ainda como forma de contenção da inflação. A primeira parte foi conduzida diretamente pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após a descoberta do pré-sal. A segunda, pela presidente Dilma Rousseff.

A exuberância exagerada desse período foi apontada, também à CPI, pelo então presidente da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, um dos alvos da Lava-Jato: no ano de 2013, a Petrobras investia R$ 1 bilhão a cada três dias.

Vale destacar que segurar o preço dos combustíveis na era Dilma não causou dano apenas à Petrobras. O setor sucroalcooleiro até hoje não se recuperou completamente desse período. E convive até agora esse risco, que se reflete na preocupação dos investidores e, portanto, em um custo de capital mais caro. E isso para não falar da situação do Estado do Rio de Janeiro, que sempre viveu pendurado na estatal, tanto pelos empregos como pela arrecadação.

Desde a Lava-Jato e a Dilma, uma coleção de medidas foi adotada na tentativa de que a estatal deixasse de alvo de interferências políticas. Foi aprovada a lei de governança das estatais e também um novo estatuto social — um, não, vários.

Mas nada disso segura a vontade de um presidente da República. Resta saber se o mercado e os investidores da companhia terão força para pressionar na direção contrária. Na segunda-feira, começa — ou melhor, continua — o movimento daqueles que votam com os pés: ou seja, indo embora. O custo não será só da Petrobras.

A conta, dessa vez, não promete ficar mais barata. Bem o contrário: as punições são cada vez mais severas. Mas, em geral, quem mais paga são os governados, não os governantes.

A gestora de recursos do Reino Unido Aberdeen já mandou o seu recado. Dona de R$ 1,8 bilhão em ações da companhia, mandou carta ao presidente do conselho de administração, Eduardo Bacellar Leal Ferreira, e demais membros, cobrando um processo isento de seleção de presidente.

“O retorno ao passado seria um revés na trajetória de reconstrução de credibilidade da companhia e melhora observada nos últimos anos, colocando em risco não apenas a estratégia atual, mas também todos os esforços do País em atrair investimentos privados para o desenvolvimento da indústria de óleo e sua cadeia de valor”, diz o documento, ao qual o EXAME IN teve acesso.

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