Marco Fisbhen, fundador e presidente do Descomplica: empresa soma mais de 2.000 alunos na graduação e 55.000 na pós (Descomplica/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 22 de junho de 2021 às 13h00.
Última atualização em 22 de junho de 2021 às 14h06.
Uma instituição de ensino com ritmo de startup: é assim que o Descomplica encara a sua faculdade digital. A edtech, famosa pelas aulas online preparatórias para o vestibular, decidiu lançar quatro cursos de graduação em agosto do ano passado e não parou de crescer desde então. Para alavancar o projeto, captou um aporte de R$ 450 milhões em fevereiro, em uma rodada liderada pelo SoftBank (Gympass, Creditas) e pela Invus Opportunities. Quatro meses depois, a empresa anuncia a aquisição do centro universitário paranaense UniAmérica e o lançamento de 18 novos cursos.
Em entrevista ao EXAME IN, Marco Fisbhen, fundador e presidente do Descomplica, disse que o relacionamento com o centro universitário existe há cerca de dois anos, mas que as conversas sobre uma possível aquisição se intensificaram após a última rodada de investimentos. A UniAmérica, conhecida por sua abordagem prática no ensino superior, se encaixa na proposta pedagógica do Descomplica, mas ajuda a startup principalmente com o desafio regulatório. “Nós lançamos quatro cursos e tivemos turmas lotadas nos dois primeiros semestres, com uma fila de espera de dezenas de milhares de estudantes. Com a UniAmérica, conseguimos sair de quatro para 22 cursos e não teremos mais a limitação de vagas”, diz o fundador.
Como uma faculdade recém-aprovada pelo Ministério da Educação, o Descomplica precisa de autorização para lançar novos cursos e aumentar o número de vagas. A UniAmérica, como centro universitário, não tem essas limitações, o que torna possível para a startup lançar os 18 novos cursos que estão em desenvolvimento desde o começo do ano.
A partir desta terça-feira, 22, então, além de pedagogia, administração, contabilidade e gestão de pessoas, a Faculdade Descomplica vai oferecer também graduação em gestão comercial; gestão de dados; gestão financeira; gestão pública; logística; marketing; processos gerenciais; análise e desenvolvimento de sistemas; banco de dados; computação em nuvem; jogos digitais; sistemas para internet; engenharia de produção; engenharia de computação; sistema de informação; letras-português; história; e matemática.
“Temos metas agressivas, vamos investir R$ 1 bilhão nos próximos três anos. Com a aquisição, conseguimos dar um ritmo acelerado de produção e melhoria dos nossos cursos de graduação. Esperamos ter na faculdade o mesmo sucesso que na pós-graduação, onde passamos de 3.000 alunos no começo de 2020 para 55.000 agora”, diz Fisbhen.
Para a UniAmérica, no curto prazo, a aquisição não muda a dinâmica da operação. Os cursos presenciais seguirão normalmente e o grupo de coordenadores e professores será mantido, assim como o reitor Ryon Braga. “A capacidade de inovação do Descomplica aportará conteúdo de qualidade à UniAmérica, além de tecnologias inovadoras e pessoas apaixonadas pelo setor de educação, algo que entendemos como fundamental para construirmos esta união”, afirma Braga.
A aquisição da UniAmérica não é a primeira que o Descomplica faz e está longe de ser a última. Em 2016, a empresa comprou a operação da Master Júris, especializada em cursos preparatórios para concursos públicos. Em 2018, adquiriu a PaperX, que desenvolvia exercícios e avaliações online. Daqui para frente, a equipe de fusões e aquisições da startup está focada em encontrar negócios que possam ajudá-la a integrar novas tecnologias ao ensino, como realidade aumentada, ou a entrar em novos mercados. "Não estamos olhando só para as instituições tradicionais, mas também para as centenas de edtechs em busca de grandes times e gestores que possam nos ajudar a crescer", afirma o fundador.
O Descomplica começou a partir de uma ideia despretensiosa de Fisbhen, um professor de física natural do Rio de Janeiro que queria fazer suas explicações chegarem a alunos do país todo. No começo, em 2010, eram vídeos curtos, focados em estudantes que iam prestar vestibular. Com o sucesso, em 2012, o professor decidiu cobrar uma assinatura dos estudantes, em um modelo parecido com o da Netflix. De lá para cá, o negócio cresceu e hoje chega a cerca de 5 milhões de alunos mensalmente pela sua plataforma e nas redes sociais.
Foi em 2019 que a startup começou a expandir sua atuação para o ensino superior. A primeira aposta foram os cursos online de pós-graduação, que custam em média R$ 70 por mês. No ano passado, com a autorização do MEC, a empresa entrou oficialmente no terreno da graduação e conseguiu aproveitar o contato que tinha com jovens do ensino médio para trazer os primeiros alunos.
A faculdade é a menina dos olhos da empresa hoje e sua principal aposta para o futuro. Como os cursos tem duração longa, de pelo menos quatro anos, e a mensalidade pelo menos cinco vezes mais cara que a do cursinho, eles podem se tornar uma importante fonte de receita do negócio nos próximos anos. A meta é chegar a 50 cursos no menor tempo possível, focando em áreas do conhecimento que sejam muito demandadas pelos alunos e pelo mercado de trabalho.
A grande vantagem do Descomplica com os cursos online é que, diferente das instituições de ensino tradicionais, que tiveram que migrar para o meio digital, a empresa já nasceu produzindo conteúdo para ser consumido pela internet. As aulas da graduação, por exemplo, são divididas em períodos de 5 minutos e o objetivo de cada vídeo é engajar os estudantes ao máximo.
“Com essa pegada de entretenimento, conseguimos uma taxa de evasão de menos de um dígito. Mas não estamos preocupados só com essa métrica. Como as plataformas foram construídas por nós, conseguimos medir a satisfação do aluno toda semana e usamos os dados para personalizar a sua experiência de ensino”, diz Daniel Pedrino, presidente da Faculdade Descomplica.
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