Madeira: Guararapes busca IPO para consolidação e crescimento (Stock.XCHNG/Reprodução)
Graziella Valenti
Publicado em 18 de dezembro de 2020 às 10h58.
Última atualização em 18 de dezembro de 2020 às 11h17.
Diversidade também parece ser um mote — ainda que não proposital — da bolsa em 2020. Teve todo tipo de novata e dos tamanhos mais variados: de rede de hospitais, passando por logística, varejo e fintechs. Companhias avaliadas em 115 bilhões de reais e negócios de 2 bilhões de reais. A mais recente que pegou lugar na fila de ofertas públicas iniciais (IPO) para 2021 é a fabricante de placas de madeira Guararapes Painéis
A empresa, que fará par (imperfeito) com a queridinha do mercado Duratex, controlada pela Itaúsa, quer um salto nos negócios. Ou melhor dizendo, um novo salto. Em 2014, recebeu um aporte da BRZ Investimentos que permitiu triplicar sua capacidade produtiva.
Agora, mira uma oferta de 1 bilhão de reais, sendo que 600 milhões de reais de uma emissão primária para reforço do caixa e crescimento — orgânico e aquisições. A empresa já tem no gatilho negócios que podem levar a um aumento de capacidade de 50% a 100% em MDF.
O negócio não vive aperto financeiro. Bem ao contrário: terminou novembro com mais de 38 milhões de reais de caixa líquido — ou seja, sobra de recursos sobre os 295 milhões de reais de dívida bruta. A companhia quer mesmo é dar uma pernada em sua relevância no setor.
A parcela secundária da operação é para venda de papéis detidos pela BRZ. A gestora tem uma opção — que não exerceu — de revender sua fatia aos fundadores. Desde 2017, poderia ter obrigado os sócios a recomprarem sua participação, atualmente da ordem de 18% do capital. Esse direito é válido até 2023.
Com unidades produtivas no Paraná e em Santa Catarina, a Guararapes tem uma capacidade produtiva anual de 950 milhões de metros cúbicos de placas de madeira — 600 mil metros cúbicos em MDF e 350 mil metros cúbicos em compensados. Para efeito de comparação, a Duratex vende por trimestre cerca de 650 mil metros cúbicos de painéis de madeira.
Não fosse a Duratex ter adquirido a Satipel em 2009, seria a terceira do ramo na bolsa. Mas a consolidação veio rápido. A Duratex partiu para o ataque em menos de dois anos após o IPO da Satipel. Na B3, a controlada da Itaúsa negocia entre 10 vezes e 15 vezes Ebitda.
Fundada em 1984 por João Carlos Pedroso e Valderez Bertolin, a Guararapes afirma no prospecto preliminar da oferta que é a 4ª maior produtora de MDF e dona de uma fatia de 12% do mercado, conforme dados do Instituto Brasileiro de Árvores (IBÁ). É ainda a segunda maior exportadora de compensados, com fornecimento para mais de 50 países.
Até novembro, a receita líquida da empresa totalizou 607 milhões de reais — sem o ano terminar, o número já representa crescimento sobre os 546 milhões de reais obtidos em todo ano de 2019. O Ebitda de quase 164 milhões de reais nesse período também é maior que os 124 milhões de reais obtidos nessa linha no ano passado inteiro. Já o lucro líquido de 11 meses de 93,6 milhões de reais traz um avanço significativo quando comparado aos menos de 62 milhões verificados de janeiro a dezembro de 2019.
Ainda que não seja uma comparação exata, a operação de madeira responde por mais de 50% e mais de 60% da receita e do Ebitda da Duratex, respectivamente. A empresa controlada pela holding Itaúsa, dona do banco Itaú, também tem em seu portfólio revestimentos cerâmicos (com as marcas Ceusa e Portinari) e louças e metais sanitários (Deca). Nos primeiros nove meses de 2020, a Duratex teve receita líquida de 3,9 bilhões de reais e Ebitda ajustado recorrente de 772 milhões de reais. O lucro líquido alcançou 247 milhões de reais, quando a empresa desconsidera efeitos extraordinárias.