GPA: companhia tem melhorado margem, mas alavancagem ainda acende sinal amarelo no mercado (GPA/Divulgação)
Repórter Exame IN
Publicado em 26 de junho de 2025 às 11h52.
Última atualização em 26 de junho de 2025 às 15h03.
O cliente vai comprar frutas ou legumes e um especialista vai ajudá-lo a escolher as melhores opções para a época do ano. No açougue, cortes como codorna e pato passam a compor o cardápio e na charcutaria se encontram até itens presenteáveis.
Em meio a seu processo de melhora operacional, o GPA está dando um novo banho de loja no Pão de Açúcar e criando uma nova linha de produtos com a marca de sua principal bandeira.
A ideia é se consolidar como líder em um segmento que pode até ser de nicho, mas que opera com margens bem mais altas e é mais resiliente aos altos e baixos econômicos: o premium.
“Queremos voltar a ser aquele antigo Pão de Açúcar, que era um local de experiência além do simples consumo, compra e venda. Resolvemos outros pontos antes, de melhora de sortimento e queda de ruptura de produtos. Agora, estamos dando um novo passo”, diz Marcelo Pimentel, CEO do GPA.
No total, 11 lojas da rede estão sendo reinauguradas e passaram por mudanças no layout, no sortimento e nos serviços – o que a companhia está chamando de circuito premium.
As lojas, localizadas em bairros como Leblon, Jardins e Alphaville, ganharam novos espaços de café, novas adegas e áreas maiores para perfumaria, por exemplo, e os colaboradores dessas 11 lojas passaram por treinamento de hotelaria – algo pouco comum no varejo alimentar. O foco, explica Pimentel, são os clientes de classes A e B+.
O “circuito premium” tem também o papel de ser um piloto para as novas experiências. A companhia já oferecia o serviço de especialistas em vinhos e uísque em diversas unidades, agora passa a testar serviços como o de especialista em perecíveis (frutas, legumes e verduras) e o de especialista em queijos.
“Não necessariamente vou replicar esse mesmo modelo para 100% das lojas, mas estamos trabalhando para aproveitar os aprendizados daquilo que funciona nessas lojas e, aí sim, replicar”, diz Pimentel.
Uma das considerações é que o formato de proximidade, o Minuto Pão de Açúcar, que tem puxado os planos de expansão, também ganhe melhorias após os testes.
Em paralelo à nova estratégia, o GPA está criando uma nova marca própria, batizada de Pão de Açúcar. Com isso, o grupo para de vender os produtos Casino, que traziam o nome do ex-controlador (atualmente, o grupo francês detém 22% do capital social do GPA).
O objetivo é ter produtos de maior valor agregado no portfólio da marca. “A ideia é que ela só entre na prateleira se, em testes cegos, for igual ou superior à melhor marca da categoria”, diz Pimentel.
“Queremos que o cliente tenha uma experiência em casa que remeta a tudo o que estamos fazendo nas lojas, com qualidade e custo-benefício.”
Além da nova marca, o GPA já opera com produtos próprios com Pra Valer, Qualitá e Taeq. Segundo a consultoria NielsenIQ, os produtos do grupo responderam por 24,6% do mercado nacional no primeiro trimestre.
No primeiro trimestre de 2025, as vendas em mesmas lojas (SSS, na sigla em inglês) do Pão de Açúcar cresceram 6,5%, após um salto de mais de 10% no quarto trimestre, reforçando os ganhos dos primeiros passos dessa estratégia.
No consolidado, que inclui as vendas em Minutos Pão de Açúcar e no Extra, o avanço foi de 7,3% – um dos maiores no varejo alimentar para o período.
Cálculos de mercado apontam que o grupo ganhou 1,1 ponto percentual de participação de mercado no estado de São Paulo, seu principal mercado, nos últimos dois anos.
Nos relatórios dos bancos, os ganhos operacionais são reconhecidos e estão nos cálculos, mas a preocupação com a alavancagem, ainda em 3x, mantém os analistas mais cautelosos com o papel.
"A desalavancagem da empresa foi significativa, mas precisamos continuar nesse processo, principalmente no cenário atual de juros altos”, observa Pimentel.
Um dos focos do trabalho da diretoria tem sido a renegociação de passivos tributários, o que já foi majoritariamente resolvido nas esferas estaduais (fez acordos com São Paulo, Bahia e Distrito Federal), mas ainda há negociações com a administração federal.
“Queremos dar previsibilidade ao passivo fiscal federal, o que trará mais conforto para nossos investidores.”