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Pão de Açúcar e Assaí: o melhor dos mundos numa transação de R$ 5,2 bi?

Acionistas do Pão de Açúcar começam a pensar em dividendo gordo após reforço bilionário no caixa

Loja do Assaí: separação de ativos fez mercado concentrar valor na operação de atacarejo (Paulo Whitaker/Reuters)

Loja do Assaí: separação de ativos fez mercado concentrar valor na operação de atacarejo (Paulo Whitaker/Reuters)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 15 de outubro de 2021 às 18h15.

Última atualização em 15 de outubro de 2021 às 18h42.

O negócio de R$ 5,2 bilhões entre o Assaí e Grupo Pão de Açúcar (GPA), além de agitar o setor de varejo, está deixando o mercado um pouco confuso. Mas alguns conceitos econômicos são bons de serem lembrados. A operação vai deixar R$ 4 bilhões de caixa para o GPA. Dinheiro na veia, e bastante, para uma empresa que tinha R$ 4,9 bilhões de dívida líquida ao fim de junho. Não é acaso a ação subir quase 13%, fazendo a empresa fechar o dia avaliada em R$ 8,4 bilhões.

Já tem gente fazendo conta e pensando como Jean-Charles Naouri, o dono do Casino, vai passar esse dinheiro — e quanto — para o andar de cima, que é bem mais alavancado. Para levar a liquidez até a França, o caminho chama-se dividendo. Portanto, todo mundo leva seu quinhão. O Casino, desde a cisão das empresas que antes eram uma só, tem cerca de 41% de ambas.

Já para o Assaí, incorporar de uma vez mais de 100 lojas e fazer um esforço de R$ 5,2 bilhões joga para o futuro a perspectiva de retorno desse dinheiro — e traz junto, claro, o risco de execução. Ou seja, o valor do ativo fica descontado no presente. Também explica o papel recuar 2% — chegou a cair mais de 6%. A rede de atacarejo vale agora R$ 23,6 bilhões.

O mercado pode adorar múltiplos, mas preço nunca foi nem hoje nem ontem um fator objetivo. É sempre o derradeiro para os negócios. Mas não é ciências exatas. O debate, portanto, sempre cabe. E é saudável. Mas é preciso avaliar que se, de um lado, um negócio não está bom, não significa que seu dono não saiba o valor estratégico do bem nas mãos de terceiros. Para comércio, ponto sempre foi questão chave. E há quem diga que os pontos são relevantes.

Se fosse possível avaliar e paralisar a base de acionistas de GPA e de Assaí no momento exato da separação, anunciada em dezembro de 2020 e executada em março de 2021, talvez o investidor que ficou com os dois ativos desde o momento zero possa ter levado para casa o melhor dos dois mundos. Como? Liquidez na forma de dividendo de um lado — ainda uma suposição — e perspectiva de uma melhor execução de estratégia do outro — ainda uma expectativa.

A queixa sobre governança pode até ser meritosa, no sentido que está aí um quesito que sempre dá para melhorar. Mas dizer que o tema “deveria” ser submetido aos acionistas minoritários, como alguns gestores estão apontando, é transformar em fato um dos temas mais controversos do direito societário brasileiro — transações entre partes relacionadas e conflito de interesses. A própria jurisprudência da xerife do mercado, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), já andou para lá e para cá nesse tema, deixando, claro, o investidor sem parâmetro.

Mas a aposta arriscada em uma governança exemplar por parte do polêmico Casino faz surgir a questão se o grupo francês foi cobrado por isso antes — ou seja, se avanços nessa frente foram solicitados pelos acionistas de bolsa de GPA e Assaí. A evolução do debate internacional nesse campo fora do Brasil já demonstra que as falhas de governança das companhias são, em boa parte das vezes, precedidas de algum desleixo ou comodismo dos investidores, que não fizeram a lição de casa de cuidar das melhorias.

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