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Os pingos nos 'is': Dono da Amil, UHG não quer sair do Brasil

Grupo americano pode considerar fusão, mas não a venda - Dasa e Rede D'Or já pegaram senha

Hospital: desde que UHG comprou Amil setor passou por forte consolidação e transformação do modelo de negócios (Flying Colours Ltd/Getty Images)

Hospital: desde que UHG comprou Amil setor passou por forte consolidação e transformação do modelo de negócios (Flying Colours Ltd/Getty Images)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 12 de fevereiro de 2022 às 11h56.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2022 às 13h02.

Ao contrário do que tem sido recorrentemente repetido, o United Health Group (UHG), o maior grupo de saúde do mundo, avaliado em US$ 460 bilhões na Nyse e dono da Amil, não quer sair do Brasil. E suas operações de hospitais e planos de saúde verticalizados não estão à venda. Mas o UHG já entendeu que o nome do jogo é escala. Aliás, pelo seu tamanho, é algo que sempre soube.

A diferença é que desde que investiu R$ 11 bilhões na compra da Amil, uma década atrás, o mercado brasileiro se consolidou — e continua se consolidando — de forma brutal, enquanto seu negócio encolheu.

Por isso, qualquer possível transação com seus ativos aqui passa por uma fusão, de forma que o UHG continue mostrando aos seus investidores que tem um pé no terceiro maior mercado mundial de saúde privada, o Brasil. Mas isso não quer dizer que conversas já não estejam ocorrendo e que um movimento rápido não seja possível. Depende de todo mundo querer e colocar foco nisso.

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Contudo, o tempo para essa discussão de forma mais aprofundada só deve vir depois de solucionada a questão da venda da carteira de planos individuais abertos, que conta com 330 mil vidas.

Esse portfólio foi adquirido pelo fundo Fiord Capital, constituído pelo ex-Starbord Nikola Lukic, mais a Seferin & Coelho, especializada em administrar hospitais, e ainda o ex-executivo do setor Henning von Koss, que construiu sua carreira na Medial/Amil e ainda passou também pela Hapvida. O acordo foi assinado no fim do ano passado, mas ainda depende de aval da Agência Nacional de Saúde (ANS) em meio às polêmicas sobre a capacidade do grupo de gerir o ativo. A Fiord como estrutura pode ser uma novata, mas quem vai conduzir a operação tem cabelos brancos conquistados com anos de experiência no setor.

As últimas informações que faltavam foram enviadas ontem pelo UHG à agência, de acordo com fontes próximas ao grupo. Mas não estão descartados novos pedidos de dados.

O futuro do UHG

O Brasil, de forma geral, não é operado pelo UHG com olho de dono necessário, pois é uma diminuta fração do todo. Não é de se admirar, portanto, que as operações da Amil tenham encolhido desde que o grupo americano comprou o ativo da Dasa.

E é também pelo fato de o mercado saber disso que o assédio ao UHG para compra do negócio é relevante e recorrente. Mas o grupo já disse ‘não’ para propostas de aquisição pura e simples mais de uma vez. Mostrar o Brasil no mapa continua sendo algo desejado.

Nesses dez anos, dois grupos que acabam de se unir se tornaram muito relevantes. A Hapvida Intermédica será um negócio, tão logo unificado totalmente, com receita líquida anual da ordem de R$ 20 bilhões e 15 milhões de vidas atendidas, entre planos de saúde e odontológicos. Quando as ações de ambos forem combinadas, a companhia resultante valerá mais de R$ 85 bilhões.

Na B3, também apareceu outro gigante: a Rede D’Or de hospitais, fundada pela família Moll, avaliada em aproximadamente R$ 100 bilhões e com quase 70 hospitais. Para completar, a Dasa voltou ao pregão da bolsa, disposta a retomar com força o crescimento – vale hoje perto de R$ 15 bilhões.

Os candidatos

Aliás, Dasa e Rede D’Or são as favoritas para abrir um diálogo com o UHG. Ambas estão próximas e interessadas nesse próximo possível movimento do grupo. No entanto, como não há um mandato formal para negociação, o que se poderia chamar de propostas e interesses de ambas não são comparáveis. No passado, SulAmerica e Bradesco Seguros estiveram também bastante engajados em desenvolver uma negociação.

O negócio do grupo UHG soma 36 hospitais, entre as bandeiras Amil, SOBAM, Americas, Santa Helena e Ana Costa e um total de 3 milhões de vidas, já excluídas as individuais abertas vendidas. Apesar de ter decidido vender a carteira de planos individuais, que totalizava quase 546 mil vidas, os verticalizados foram mantidos na carteira.

Mas, em termos de valor, praticamente não houve atualização desde a aquisição. A estimativa de fontes do setor é que valha hoje entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões, no cenário mais otimista e benevolente com os problemas atuais, uma vez que a operação ficou menor. O valor está justamente no que pode fazer um novo dono.

Os bastidores

Os planos individuais abertos vendidos à Fiord Capital, ou seja, que são atendidos também fora da rede Amil, nunca foram do interesse da UHG e respondem na matriz por menos de 2% da operação consolidada. Por isso, não é a primeira vez que o ativo é oferecido ao mercado. Em dezembro de 2020, um acordo estava para ser assinado, quando o grupo americano desistiu da transação, pois teria de reconhecer uma perda (o dinheiro aportado na operação mais a reserva legal) e não queria esse ajuste no balanço daquele ano, contou um dos interessados que participou de ambos os processos de venda.

Tanto na concorrência de 2021 quando na de 2020, apareceram 5 propostas vinculantes na etapa final, de 8 diferentes interessados, entre operadores do setor e fundos de investimentos. Se tem um segmento pujante em novidades é o de saúde. As mudanças vão além das fusões e aquisições e da formação de gigantes. Há o nascimento de novos modelos de negócios, com as aceleradas healthtechs.

Depois de passar uma década paralisado em 45 milhões de vidas atendidas, o segmento de planos de saúde voltou a crescer e, especialmente, nos individuais. Estruturas como das novatas Alice e QSaúde, essa do veterano do setor José Seripieri Filho, com a operação otimizada por todo avanço pós-pandemia em telemedicina e as facilidades dos canais digitais, têm mostrado sucesso.

O motivo de ter atraído tantos interessados é o formato do acordo e a escala que pode proporcionar. O UHG fez de tudo para tornar o ativo interessante. O negócio foi transferido com as reservas legais atendidas, cerca de R$ 1,5 bilhão, e mais capital (outro R$ 1,5 bilhão) para fazer a operação crescer. Além de um contrato comercial que garante atendimento na rede Amil por cinco anos, um período de transição de um ano e quatro hospitais (ativo ouro no setor hoje) juntos.

A pergunta que fica é por que o UHG não faz esse negócio crescer? Porque o atendimento de rede aberta está distante de ser simples. Exige acompanhamento próximo da carteira de clientes, para que a saúde gere renda e não custo. Demanda um canal diferente do atendimento verticalizado. Trocando em miúdos: só que tem foco nisso consegue fazer dar dinheiro.

Para completar, o UHG não vende planos individuais abertos no Brasil desde 2013. Ou seja, essa é uma carteira que não se renova (pecado mortal no universo de seguros), embora fontes próximas ao grupo garantam que ainda tenha margem bruta positiva e um preço de contratos com clientes bastante atrativo.

Se nem o negócio verticalizado cresceu no Brasil, que é a expertise do UHG, o que dirá aquilo que ficou de fora. De forma simplificada, para ficar no país, o grupo pode ter interesse sim em algo que lhe renda ao mesmo tempo escala, gestão eficiente e footprint.

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