Citi: Previsão é de uma Selic de 10% em 2024, acima do consenso de mercado (SOPA Images/Getty Images)
Repórter Exame IN
Publicado em 11 de dezembro de 2023 às 10h52.
Última atualização em 11 de dezembro de 2023 às 11h31.
Quando os bancos centrais de países desenvolvidos vão começar a cortar juros — se é que vão — e qual será a motivação desse corte? A resposta a essa pergunta é um ponto chave para entender o que pode acontecer com o Brasil (e com países emergentes de modo geral) ao longo do próximo ano, segundo Leonardo Porto, economista-chefe do Citi. Por enquanto, o banco acredita que os cortes de juros lá fora devem começar a partir de julho do ano que vem.
Com um cenário fiscal ainda controlado e uma percepção positiva do trabalho do Ministério da Fazenda, a visão de Porto é a de que, assim como em 2023, os impactos para o fluxo de investimentos no país ainda muito mais ditados pelo cenário externo do que por questões internas ao longo de 2024.
“Digamos que minha régua de preocupação global baixou em relação ao ano passado, mas ainda não estamos fora de risco. Eu espero que o mundo continue em um cenário de ‘goldilocks’, ou seja, inflação caindo com um sofrimento muito pequeno da atividade econômica global. Esse é o melhor dos mundos”, disse.
Mais do que acertar a queda dos juros em si, importa entender o motivo pelo qual o Fed fará isso. “A gente viu neste ano uma redução global de inflação mais rápida do que se imaginava com crescimento da atividade econômica. Diante disso, a dúvida que fica é se o BC americano vai precisar cortar juros porque a inflação vai continuar caindo por fatores não ligados à atividade, ou vai cortar por uma recessão?”, questiona.
Caso o primeiro cenário se confirme, o resultado será a maior disposição para investir em emergentes. Isso se dará tanto pelas diferenças entre as taxas praticadas nos Estados Unidos em relação aos países emergentes, quanto por um cenário de crescimento global que novamente favorece o apetite ao risco para essa classe de países na qual o Brasil está contemplado.
Em novembro, já foi possível verificar este movimento. O mês foi o melhor do ano em fluxo de entrada de capital estrangeiro na B3, com R$ 21 bilhões de saldo positivo. O movimento veio, entre outros fatores, impulsionado pela redução da curva de juros de longo prazo nos Estados Unidos. Os treasuries no período passaram de 5% no início do mês passado para fechá-lo em torno de 4,3%.
No âmbito doméstico, o banco também aposta numa Selic mais alta que o consenso de mercado, em 10% ao fim de 2024, contra a média das projeções do Boletim Focus, de 9,25%. “Comparando o SOFR [taxa de juros média que bancos pagam para tomar empréstimos em dólar] com a Selic, há uma oportunidade de 100, 150 bps de ganho”, diz Eduardo Miszputen, head de global markets do Citi no Brasil.
Tendo em mente a confiança no fiscal brasileiro, somada a uma economia de países emergentes sem recessão, o Brasil pode ter um 2024 de retomada de investimento estrangeiro, na visão do banco. Apesar de esse ser o melhor cenário, entretanto, não é o único contemplado na análise do Citi.
Os dados do banco nos Estados Unidos oferecem, hoje, outro possível cenário: de que a economia americana deve entrar em recessão no segundo e terceiro trimestres do ano que vem, com uma contração curta — e isso vai fazer com que o FED comece a cortar taxas de juros no segundo semestre.
Hoje, o que está precificado nas curvas de juros é um corte nas taxas dos Estados Unidos a partir de março do ano que vem. O Citi, por outro lado, acredita que os cortes de juros nos Estados Unidos devem começar a partir de julho, com um corte de 25 pontos-base, fechando o ano com 100 pontos de corte.
Por enquanto, a autoridade monetária norte-americana deve trazer poucas novidades. A expectativa para a reunião do FED nesta semana é de manutenção dos juros nos patamares atuais, em 5,25% e 5,50%, de olho no objetivo de manter a inflação em 2%. Recentemente, sinais positivos da alta dos juros começaram a aparecer, com a inflação subjacente (que exclui preços de alimentos e energia) foi de 2,5% anualizada no acumulado até outubro, abaixo dos 4,5% do ano anterior.