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Gol quer recuperação ‘substancialmente’ mais rápida que as de Latam e Avianca, diz CEO

Concorrentes levaram dois anos para sair do Chapter 11; Gol terá US$ 950 milhões de reforço de caixa com com bondholders da Abra

 (Array/Reprodução)

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Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 25 de janeiro de 2024 às 20h02.

Última atualização em 28 de janeiro de 2024 às 15h52.

Para surpresa de ninguém, depois dos rumores intensos nas últimas semanas, a Gol ajuizou seu pedido para adesão ao Chapter 11 no Tribunal de Falências dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York.  

Ainda pendente da aprovação da Justiça americana, o movimento vem acompanhado da costura para conseguir fôlego na negociação de suas dívidas: um compromisso de financiamento de US$ 950 milhões, na modalidade debtor in posession (DIP) pelos bondholders da Abra (controladora da Gol e da Avianca).

Sujeito à aprovação judicial, o financiamento DIP deve fortalecer e pavimentar o processo de recuperação judicial nos Estados Unidos. “Os detentores da dívida da Abra já possuíam conhecimento aprofundado da Gol”, afirmou o CEO da Gol, Celso Ferrer.

O executivo acredita que o processo da Gol seja “substancialmente” mais rápido do que aqueles pelos quais passaram a Latam e a Avianca colombiana, que ficaram cerca de dois anos em reorganização de seu passivo. O diferencial, diz Ferrer, seria a "estrutura descomplicada" da Gol, como o uso de uma frota de apenas um fabricante, a Boeing. 

A Gol tinha R$ 20 bilhões em dívidas no fim de setembro, dos quais R$ 9,3 bilhões em títulos de dívida e R$ 9,8 bilhões com os arrendadores das aeronaves. No curto prazo (em até 12 meses), R$ 1,8 bilhão dos vencimentos dizem respeito a arrendadores e outros R$ 1,1 bilhão são em dívida financeira. 

O executivo não abriu o valor atual da dívida a ser ajuizado, mas destacou a importância do processo para a negociação com os 25 lessores — jargão do setor para os arrendadores. De acordo com ele, as negociações iniciadas em junho e em outubro avançaram em ritmos diferentes com os lessores, com alguns "demonstrando mais apoio". 

A decisão pelo processo nos Estados Unidos e não no Brasil, segundo Ferrer, tem a ver com os próprios arrendadores de aeronaves, já que muitos são originalmente de lá. Conforme apurou o INSIGHT, a razão também passa pelo fato de que o Chapter 11 permite algumas proteções maiores para o devedor, entre elas as rejeições de leasing que a companhia não queira mais. Além disso, nos Estados Unidos garante que os lessores não vão retirar os aviões, como aconteceu no Brasil com a Varig e a Avianca brasileira. 

“O objetivo é que não afete a malha aérea. A escolha por esse caminho é para proteger a negociação com os lessores enquanto a companhia se reorganiza financeiramente”, afirmou. Tanto na fala do CEO quanto no comunicado, a Gol reiterou que os voos de passageiros e de carga, o programa de fidelidade Smiles e outras operações continuam normalmente. 

O executivo diz que ainda é cedo para definir se vão reduzir o pedido de aeronaves e que “torce” pela retomada da Boeing, fabricante de toda a sua frota e que passa por um escrutínio de companhias aéreas e autoridades após problemas com suas aeronaves em voos nos Estados Unidos. No mesmo dia em que anunciou o pedido de Chapter 11, a empresa recebeu sua 405a aeronave MAX. Os contratos da companhia, porém, já prevêm a possibilidade de redução de pedidos.

“Esperamos sair desse processo com a estrutura correta para se posicionar para o crescimento no futuro”, afirmou. A operação já vem em ritmo de recuperação de geração de caixa, conforme a demanda do setor se aquece. A empresa divulgou que, em dezembro de 2023, a taxa de ocupação atingiu 82,7%, aumento de 4,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. Não há, diz Ferrer, previsão de corte de rotas e destinos, nem de quadro de funcionários.

A empresa também formou um comitê independente, formado pelos conselheiros Marcela Teixeira, Thimothy Coleman e Paul Arozon, para acompanhar o andamento do processo. “Estamos muito seguros com o caminho que foi dado pelo Conselho. Nossos advogados americanos também recomendaram esse caminho”, diz Ferrer. A expectativa da empresa é de iniciar conversas com os juízes nos próximos dias. 

“Não é uma RJ. A decisão é de entrar voluntariamente no Chapter 11 para garantir uma estrutura de capital correta e muito focada na restruturação de frota com os arrendadores de aeronaves”, defende Ferrer. O CEO da Gol falou a jornalistas no fim da tarde desta quinta-feira, 25, pouco depois do anúncio da companhia.  

O caminho da recuperação judicial nos Estados Unidos ganhou força com a entrada do escritório Milbank, que já atendia a empresa desde 2010, nas discussões. Essa é a mesma assessoria jurídica que representou a Avianca colombiana em sua entrada no Chapter 11. No Brasil, a empresa está sendo assessorada juridicamente pelos escritórios Lefosse e TWK. 

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