Israel-Irã: entrada dos EUA no conflito deixou mais dúvidas que certezas, aponta Gavekal (MENAHEM KAHANA / Colaborador/Getty Images)
Editora do EXAME IN
Publicado em 23 de junho de 2025 às 13h56.
Última atualização em 23 de junho de 2025 às 14h25.
Nesta nova fase do conflito entre Israel e Irã, o ataque americano às instalações nucleares iranianas deixou mais dúvidas do que certezas sobre os próximos passos da guerra — tanto do que farão os Estados Unidos, quanto o Irã.
Em um movimento rápido e preciso, os Estados Unidos lançaram mísseis sobre alvos estratégicos em Fordow, Natanz e Isfahan. Poucas horas depois, Trump foi à televisão e às redes sociais declarar que a missão havia sido cumprida.
Mas, do ponto de vista dos mercados e da geopolítica, a sensação dominante é de que a névoa da guerra apenas se adensou, avalia a Gavekal.
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A análise, assinada por Louis-Vincent Gave, propõe um critério clássico de três fatores para julgar operações militares: segurança, velocidade e eficácia.
As duas primeiras foram claramente atingidas. O ataque não custou vidas americanas. “Sob esse ponto de vista, a operação foi um sucesso”, afirma Gave.
Mas restam dúvidas sobre a resposta do Irã.
“O Irã continuará concentrando seu poder de fogo em Israel? Provavelmente saberemos na próxima semana, mas uma resposta frontal parece improvável.”
O ataque também foi rápido e cirúrgico, com o presidente Donald Trump aparecendo na televisão e nas redes sociais, imediatamente após os mísseis terem atingido seus alvos, para anunciar que, a menos que o Irã respondesse, “a página havia sido virada”.
Já a eficácia, no entanto, permanece envolta em incerteza — entre comunicados do Pentágono sobre o sucesso da estratégia e relatos da mídia iraniana de que os danos foram mínimos.
Para Gave, a operação americana parece ter priorizado evitar baixas e encerrar o episódio rapidamente, enquanto a real extensão dos danos às capacidades nucleares do Irã só será possível avaliar nas próximas semanas ou meses.
“Também está claro que o apetite dos EUA por uma guerra longa, ou por uma guerra custosa (em termos humanos), é extremamente limitado”, diz Gave.
E isso importa — não apenas do ponto de vista militar, mas político e estratégico.
O governo Trump, ao que tudo indica, não busca um conflito prolongado. Parte expressiva de sua base política rejeita novas aventuras militares no Oriente Médio, e o próprio presidente tem dado sinais de que deseja virar a página.
O secretário de Estado Marco Rubio e o vice-presidente JD Vance reiteraram que o objetivo foi desarticular o programa nuclear iraniano — e não provocar uma mudança de regime.Do lado iraniano, os objetivos são bem mais imediatos: sobreviver politicamente, manter a capacidade de produção de petróleo (que financia o regime) e retaliar Israel.
“O segundo objetivo deve ser proteger a capacidade de produção de petróleo do Irã — sem a qual o regime teria dificuldade para pagar suas contas”, destaca o relatório.
A dúvida, agora, é como — e se — o Irã responderá diretamente aos EUA. Uma ofensiva assimétrica parece mais provável do que um ataque frontal, o que manteria a escalada contida, mas deixaria os mercados em suspense, especialmente o mercado de energia.
Nesse cenário, os preços do petróleo tendem a se manter pressionados enquanto houver risco percebido de disrupção na oferta do Golfo Pérsico. O impacto pode ser mais duradouro caso o Irã volte a ameaçar o tráfego no Estreito de Ormuz ou mirar embarcações americanas.
A principal incógnita, segundo Gavekal, é se o ataque foi suficiente para desmantelar de fato a infraestrutura nuclear iraniana.
“Se não foi, então o ataque provavelmente servirá como mais um incentivo — e não menos — para o Irã acelerar ao máximo o desenvolvimento de um dissuasor nuclear”, escreve Gave.
A esperança de que o ataque leve o Irã de volta à mesa de negociações parece, neste momento, mais um exercício de otimismo do que um cenário plausível. Afinal, que motivação teria o regime para dialogar com quem já declarou missão cumprida?
Com as posições dos EUA e de Israel relativamente claras — o primeiro sem apetite para guerra longa, o segundo tratando o conflito como existencial — o principal fator a acompanhar nos próximos dias será a reação de Teerã.
Se o Irã optar por responder apenas contra Israel, os mercados poderão absorver o choque inicial, com alguma volatilidade concentrada em commodities e ativos de risco.
Se, no entanto, houver retaliações contra alvos americanos ou interferência no fluxo de petróleo, a instabilidade pode se aprofundar.
Para investidores, o saldo do fim de semana é paradoxal: muito barulho, mas pouca clareza sobre as mudanças reais no equilíbrio de forças. E a única certeza, por ora, é a de que o grau de incerteza aumentou.