Hospital Metropolitano de BH: companhia faz gestão de 1.000 leitos para SUS e quer explorar mercado privado para triplicar geração de caixa (Opy/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 8 de setembro de 2021 às 09h30.
Última atualização em 8 de setembro de 2021 às 11h30.
O setor de saúde está para lá de agitado. Por anos com baixa representatividade na bolsa brasileira, tem agora grandes companhias e capitalizadas na B3, cuja soma do valor de mercado ultrapassa R$ 350 bilhões. Juntas, elas representam quase 7% da capitalização de todas as companhias abertas do mercado brasileiro. Tem hospital, rede verticalizada de plano de saúde, corretora de saúde, farmacêutica, fornecedora de materiais hospitalares, clínica oncológica. A lista é grande. Mas, novidade de modelo de negócios para o setor quem trouxe, ainda não está nesse bolo. Está dentro do portfólio da gestora de private equity fundada por Paulo Mattos, a IG4 Capital.
Em 2019, a gestora adquiriu dois hospitais, dentro do processo de reestruturação financeira da Andrade Gutierrez, e criou a Opy Health. Mas, diferentemente de ter e operar um hospital, a Opy tem apenas a estrutura física. Quem opera os hospitais é o governo, que paga pelo uso à companhia. São unidades do Sistema Único de Saúde (SUS), em Belo Horizonte — Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro — e em Manaus — Hospital Delphina Aziz —, que funcionam por meio de Parcerias Público-Privadas (PPPs). A IG4 não é restrita, mas é cada dia mais especializada no segmento de infraestrutura, com um portfólio crescente de ativos, como a Iguá Saneamento (origem de tudo) e a mais recente participação na CCR. Essa é a frente que chama de infraestrutura social.
Agora, a Opy abriu conversas com fundos de investimento, em busca de uma capitalização, pois quer levar esse modelo para a iniciativa privada. A companhia tem atualmente uma receita da ordem de R$ 250 milhões ao ano, com Ebitda de R$ 150 milhões (50% a mais do que quando assumiu a operação, apenas com ganhos de eficiência).
Os números são resultado de um crescimento importante que a gestão feita pela IG4 levou ao negócio. Quando foi adquirida, com um aporte de R$ 200 milhões, a Opy tinha 370 leitos nas duas unidades somadas. No auge da pandemia, esse total chegou a superar 1.000 e agora são pouco mais de 830 leitos, dentro do regime corrente das PPPs, fruto de esforços de expansão realizados pela nova administração.
Hoje, a Opy não cuida apenas da estrutura predial, cuida de toda gestão do que não diz respeito aos serviços hospitalares. “Esse modelo de separação está presente nos países com as melhores condições hospitalares do mundo, como Inglaterra, Canadá e Austrália. O Delphina Azis, por exemplo, é a maior unidade referência nas regiões Norte e Nordeste”, comenta Rogério Caldas, diretor financeiro da empresa, em entrevista exclusiva ao EXAME IN. O executivo explicou que agora há um esforço para ampliar o direcionamento de casos dessas duas regiões para a unidade.
A expectativa da Opy, segundo Caldas, é ter entre 10 e 12 ativos sob gestão dentro de quatro anos, triplicando o Ebitda, o que colocaria o negócio com uma geração operacional de caixa próxima dos R$ 500 milhões ao ano. Pelo plano concebido, 35% do crescimento deve ser feito com capital próprio, vindo de aportes de recursos, e 65% de financiamento bancário. Caldas aponta que o modelo da Opy representa um caminho importante para diversos hospitais reequilibrarem as contas e ou mesmo para se capitalizar para projetos de crescimento.
A Rede D’Or São Luiz tem se destacado como grande consolidadora do setor. Em recente entrevista ao EXAME IN, o presidente da empresa, Paulo Moll, comentou que o Brasil se destaca por um sistema muito pulverizado, no qual a maioria dos hospitais tem menos de 500 leitos. A dificuldade de operação desse setor tem levado diversas unidades a fecharem as portas.
Caldas aponta que o modelo da Opy serve tanto para que o corpo médico de um hospital alavancado equacione as contas como fonte de capital para quem queira buscar alguma consolidação regional. “Fazemos toda a gestão dos serviços que chamam de bata cinza, como sistema de hotelaria. Só não colocamos as mãos em nada da chama área da bata branca, médicos, enfermeiros, medicamentos, diagnósticos.” Daí a expectativa de grande aderência dessa estrutura de administração também pela iniciativa privada, algo que não existe ainda aqui no Brasil. O diretor financeiro da companhia disse que também não está descartada a possibilidade de a empresa participar de licitações e concorrências até mesmo para constrir unidades.
Apesar de ser participantes do mercado de capitais por ser uma investida da IG4, a Opy não tinha ainda feito seu debut na arena financeira nacional. Mas a companhia acaba de viver sua estreia, com uma emissão de R$ 60 milhões em debêntures, com prazo de dez anos. A operação foi feita pela ONM Health, unidade que controla a unidade mineira. A captação visa melhorias e investimentos em expansão. Além disso, também foram levantados R$ 75 milhões em financiamento bancário, também com vencimento dentro de uma década. A debênture saiu com uma taxa de IPCA mais 6,4% ao ano, enquanto o financiamento ficou atrelado ao CDI, mais 4,7% ao ano.
“Essa captação consolida o modelo de negócios da Opy frente ao mercado”, destaca Caldas. Para o investidor, segundo ele, se trata de comprar uma operação segura. “A demanda do SUS é livre de risco.” Ambas as transações também deixam a empresa pronta, em termos de estrutura de capital, para lidar com vencimentos que estavam previstos para ocorrer dentro dos próximos cinco anos.
Agora, resta apenas a Opy mostrar que pode ter retorno interessante também com a iniciativa privada e daí, surge um mundo de possibilidades para a empresa e para o setor, que poderá ver uma mudança de jogo importante na consolidação se os hospitais passarem a ser estruturas leves em termos patrimoniais, sem o peso do ativo fixo e sua gestão.
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