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OPINIÃO: No centenário de Eliezer Batista, uma homenagem aos líderes que transformaram a Vale

Batista lançou as bases para seu crescimento exponencial; seus sucessores Roger Agnelli e Eduardo Bartolomeo, cada um a sua maneira, levaram seu legado adiante, escreve o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung

Eliezer Batista criou o modelo integrado de mina, ferrovia e porto,  lançando as bases para o crescimento exponencial da Vale (Vale/Divulgação)

Eliezer Batista criou o modelo integrado de mina, ferrovia e porto, lançando as bases para o crescimento exponencial da Vale (Vale/Divulgação)

Paulo Hartung
Paulo Hartung

Presidente Executivo da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá)

Publicado em 25 de junho de 2024 às 16h59.

Última atualização em 25 de junho de 2024 às 17h05.

A mineração sempre teve papel-chave no desenvolvimento socioeconômico do Brasil e isso só foi possível graças à ação de diversos líderes e milhares de colaboradores. Alguns líderes foram capazes de desenhar caminhos de inovação e superação, projetando horizontes promissores para o setor mineral e para o nosso País.

Em meio a tantos outros que merecem reconhecimento, tomo a liberdade de mencionar três: Eliezer Batista, Roger Agnelli e Eduardo Bartolomeo. Cada um, a seu tempo, transformou os negócios da Vale, que aos 82 anos é a maior mineradora do País.

Eliezer Batista, cujo centenário de nascimento se celebra neste ano, foi o primeiro funcionário de carreira a ocupar a presidência da então Companhia Vale do Rio Doce, tendo revolucionado os negócios da mineradora, preparando-a um crescimento exponencial. Ao criar o modelo integrado de mina, ferrovia e porto, para alcançar distantes mercados, ele lançou, na década de 1960, as bases da Vale moderna.

Para que isso se tornasse realidade, como ele mesmo dizia, marchou em direção ao impossível, uma vez que era preciso um porto com calado adequado para receber grandes navios, com mais de 150 mil toneladas de capacidade, que nem sequer existiam à época.

Eliezer se associou a clientes japoneses e, juntos, construíram o porto de Tubarão, no Espírito Santo, que representou um novo paradigma para a cadeia produtiva do aço no mundo, aumentando em mais de cem vezes a produtividade do transporte de minério de ferro.

Hoje, é o segundo maior porto de exportação de minério de ferro do Brasil. Na década seguinte, quando foi presidente da companhia pela segunda vez, implantou o Projeto de Ferro Carajás, fundamental para a transformação da Vale em uma das maiores produtoras de minério de ferro do mundo.

Em outro momento da história, nos anos 2000 e com a empresa recém-privatizada, Roger Agnelli imprimiu a sua marca de ousadia e modernidade com a internacionalização. Para que a empresa conquistasse uma posição no mercado, definiu uma estratégia agressiva de crescimento, tornando-a uma multinacional, com presença em todos os continentes e em mais de 30 países. A companhia saltou do quarto para o segundo lugar entre as maiores mineradoras do mundo.

Roger também foi visionário ao aproveitar o crescimento da China com alta demanda por commodities, principalmente o minério de ferro. Foi sob sua gestão que a Vale construiu o Valemax, categoria criada para os navios de 400 mil toneladas, únicos no mundo, expandindo o paradigma de navegação logística criado por Eliezer. Além disso, ele investiu em projetos de geração de energia renovável para assegurar o suprimento da companhia e iniciar a migração para uma matriz mais limpa.

Em um recorte recente, importante destacar o trabalho de Eduardo Bartolomeo, presidente da Vale desde 2019, quando assumiu no momento de gravíssima crise, após o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho. Em paralelo à missão de reparar o que é possível reparo dos danos causados pelo desastre ambiental, abraçou a agenda da segurança com comprometimento absoluto; da busca pela diversidade; e abertura de novos mercados com olhar para o Oriente Médio e Sudeste Asiático.

Sob sua gestão, a Vale assumiu metas ambiciosas dentro de uma ampla agenda socioambiental. Hoje temos uma empresa mais segura e sustentável, com revisão total do sistema de barragens e adesão ao padrão internacional de segurança.

Eduardo estabeleceu metas de diversidade, tirando os compromissos públicos do papel e trazendo para a realidade. O percentual de mulheres na companhia cresceu de 13% para 24,5% do total. O número de negros em posição de liderança avançou de 29% para 35%.

Na pauta climática, a empresa já tem 100% de consumo de energia renovável no Brasil, e atua na descarbonização de toda a indústria de aço. Para isso, promove parcerias com clientes ao redor do mundo e desenvolve soluções disruptivas de baixo carbono, como o briquete de minério de ferro, que permite menor emissão de CO2 na fabricação de aço, e os Mega Hubs, complexos industriais para produtos siderúrgicos de baixa emissão. Com isso, aliado o uso do hidrogênio verde, a indústria siderúrgica será capaz de produzir o aço verde.

Nós estamos vivendo tempo de profundas rupturas a partir da evolução do conhecimento, novas descobertas e máquinas maravilhosas. Mas nem no passado que aqui tratamos e nem na atualidade, essas máquinas e conhecimentos substituem líderes capazes de inspirar, estreitar relacionamentos e mobilizar mudanças.

O setor de mineração brasileiro sempre atraiu muitos líderes que fizeram e fazem a diferença, e foram profissionais como esses que abriram a trilha para que a Vale esteja pronta para os desafios do futuro de baixo carbono, agregando valor ao Brasil, com geração de resultados ao negócio, renda e empregos qualificados.

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