Oncoclínicas: CEO Bruno Ferrari vê mercado mais saudável, com menos pressão por parte dos planos de saúde (Oncoclínicas/Reprodução)
Editora do EXAME IN
Publicado em 13 de agosto de 2024 às 17h45.
Última atualização em 13 de agosto de 2024 às 20h41.
A conclusão de um aumento de capital de R$ 1,5 bilhão liderada pelo Banco Master aliviou a alavancagem da Oncoclínicas, que passou de 3,9 vezes ao fim do primeiro trimestre, beliscando o patamar que disparava vencimento antecipado de dívidas, para 2,5 vezes ao fim de junho.
Mas, apesar do alívio financeiro, o destaque do período veio do lado operacional. Com os planos de saúde um pouco menos estressados e iniciativas para melhorar o ciclo de cobranças, o percentual da receita bruta provisionado para descontos e glosas declinou, saindo dos 3,8% do primeiro trimestre para 3,1%, interrompendo um ciclo de altas que se alongava desde o terceiro trimestre do ano passado.
“Ainda estamos longe da nossa média histórica, de 2% a 2,5%, mas a situação está começando a melhorar”, diz o CEO Bruno Ferrari. “Este é um trimestre que marca um ponto de inflexão.”
O prazo médio do contas a receber cedeu, saindo de 118 dias ao fim de março, de volta para os 101 dias, mesmo patamar do terceiro trimestre.
Há, no entanto um detalhe importante. A Oncoclínicas concluiu a renegociação de um saldo a receber de R$ 393 milhões em atraso da FERJ, estendendo o pagamento para 10 anos. Com isso, o valor devido passou a ser considerado um ativo não circulante e, portanto, excluída do cálculo. Incluindo essa renegociação, a conta passa para 121 dias.
No segundo trimestre, a Oncoclínicas registrou lucro líquido de R$ 29 milhões, queda de 17% em relação ao mesmo período do ano passado, pressionado ainda em grande parte pelas despesas financeiras elevadas. (Os recursos da capitalização entraram no fim do mês e ainda não se traduziram em receitas financeiras e nem em mudança do perfil da dívida.)
A receita cresceu 16% na comparação anual, para R$ 1,6 bilhão – um ritmo menor que o do primeiro trimestre, quando avançou 26%, mas que reflete apenas o crescimento orgânico. No período, não foi contabilizada nenhuma nova operação com mais de 12 meses.
O CFO Cristiano Camargo afirma que dois terços do crescimento vieram de volume, com maior quantidade de tratamentos e vidas atendidas, enquanto restante veio de aumento de preços, em linha com a inflação média.
Num momento de mercado mais difícil nos últimos meses, com as operadoras de saúde com custos pressionados se financiando em grande parte com o balanço das prestadoras de serviço, a Oncoclínicas decidiu arrumar a casa.
Fez uma reorganização corporativa e nos seus centros de atendimento, eliminando áreas com sobreposições, resultando numa queda expressiva das despesas como percentual da receita, de 16,8% para 14,7%.
“É o início de um movimento que deve continuar acontecendo ao longo dos próximos trimestres”, diz Camargo, sinalizando há mais economias para serem capturadas.
Com isso, o EBITDA ajustado, desconsiderando efeitos do plano de opção de ações, avançou 12% na comparação anual, para R$ 300 milhões. A margem EBITDA saiu de 19,7% para 19,2% – mas bem acima dos 16,5% do primeiro trimestre.
Uma mudança no centro de serviços compartilhados, que faz atividades como a cobrança dos atendimentos prestados, e passou a ser pilotado pela Accenture, com redesenho de processos e mais automatização, também ajudou a dar alívio no fluxo de caixa.
Segundo a Camargo, a companhia saiu de queima de caixa operacional de R$ 55 milhões no primeiro trimestre para uma geração de caixa de R$ 35 milhões no segundo trimestre.
“Viemos de um período difícil, que nos deu muitas oportunidades de melhorar internamente e a mensagem é clara: estamos num trabalho contínuo de buscar mais eficiência e melhorar nossa alavancagem operacional”, diz Ferrari. “Melhoramos da porta para dentro e o mercado parece um pouco mais saudável da porta para fora.”
Com o balanço um pouco mais folgado pós follow-on, a Oncoclínicas segue com o pé no freio: a meta é levar o endividamento das atuais 2,5 vezes para 2 vezes ao fim do ano, considerando o EBITDA do quarto trimestre anualizado.
Isso envolve uma postura mais conservadora em parcerias e expansões. No segundo trimestre, a Oncoclínicas desembolsou R$ 76 milhões em capex de manutenção e expansão, refletindo ainda projetos que já vinham sido fechados e devem ser entregues até o fim do ano.
“A partir de então, será praticamente o capex de manutenção”, afirma Camargo, sem cravar qual é o patamar de investimento para manter as operações rodando bem.
No segundo trimestre, pesou sobre o balanço também um pagamento extraordinário de R$ 94 milhões feito à construtora Cedro, que está fazendo um projeto de built to suit para um cancer center da companhia.
De acordo com Camargo, trata-se do adiantamento de aluguéis já previstos no contrato de longo prazo. “A premissa foi conseguir melhores preços de aluguel pelos adiantamento e fazer o pagamento antes da entrada em operação do cancer center, quando ele precisa ‘rampar’ [ganhar tração]”, afirma.
O pagamento extraordinário a Cedro já tinha aparecido no primeiro trimestre – quando a queima de caixa surpreendeu negativamente o mercado –, chamando atenção de alguns investidores, que acreditavam que todo o capex na frente seria feito pela construtora, com início do pagamento da Oncoclínicas apenas seis meses antes da entrega, prevista para 2026.
De acordo com o CFO, o grosso dos pagamentos previstos em contrato já foi feito e pode haver apenas alguma parcela mais residual para o terceiro trimestre.
Entre abril e junho, houve ainda desembolsos de R$ 149 milhões para pagamento de aquisições e parcerias. Considerando a variação da dívida líquida, o consumo de caixa total do período foi de R$ 380 milhões.