Fibra óptica: valor mínimo que Oi arrecadará com venda da rede continua em R$ 6,5 bilhões (Andre Valentim/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 15 de agosto de 2020 às 14h49.
Última atualização em 15 de agosto de 2020 às 15h41.
Há uma grande confusão no mercado neste sábado, dia 15, sobre Oi . A tele, ao atualizar seu plano de recuperação judicial ontem, estabeleceu um preço mínimo para a avaliação de 100% da InfraCo de 20 bilhões de reais — a companhia de fibra que a empresa venderá o controle, mas continuará sócia e cliente. Esse total fixo substitui um intervalo anterior, que era bastante largo, de 15 bilhões de reais a 28 bilhões de reais, por esse ativo. Todos esses números representam o tal do valor de firma para a integralidade do negócio: a avaliação do capital (da participação em ações) mais a dívida atrelada, que neste caso aqui são 2,5 bilhões de reais. O EXAME IN conferiu e reconfirmou as contas com fontes diretamente envolvidas na operação.
O preço mínimo do que a Oi vai receber para seu caixa pela venda continua tal como estava no plano anterior: 6,5 bilhões de reais. Muitos entenderam que o preço mínimo divulgado ontem substitui esse valor. Mas, não. O valor de desembolso mínimo para os interessados continua sendo o mesmo.
Algumas diferenças surgiram, entretanto. Antes, a tele havia dito que venderia por esse valor sempre o controle, ou seja, 51% do capital votante. Estava aberta a possibilidade de que isso representaria entre 25,5% e 51% do capital total, ou seja, a inclusão de uma parcela em ações preferenciais. No caso de os 6,5 bilhões representarem 25,5% do capital, seria atribuir um valor de firma ao negócio de 28 bilhões de reais. Mas caso fosse por 51% do capital total, a avaliação da InfraCo ficaria em 15 bilhões de reais — sempre somando a dívida relacionada ao ativo.
Trocando em miúdos essa confusão toda, pelo valor estabelecido agora, os 51% do controle a 6,5 bilhões de reais podem ser equivalentes a, no máximo, 37% do capital total da InfraCo — mais um pagamento de 2,5 bilhões de reais em dívida, isso não teve alteração. Essas contas não incluem as possíveis capitalizações incluídas na operação, para fortalecimento do caixa da InfraCo.
O que a companhia fez agora pode, na prática, significar até uma redução de preço mínimo a depender das propostas encaminhadas. Mas tira as muito baixas da próxima etapa de competição. Assim, para a próxima fase da negociação, que deve levar às ofertas vinculantes pelos interessados, a Oi estabelece que a avaliação mínima sempre precisará ser de 20 bilhões de reais. Antes, não havia um valor fixado, apenas um intervalo indicativo excessivamente abrangente, com mais de 85% de variação entre o piso e o teto. Após avaliar as propostas recebidas (mais de dez), a tele entendeu que poderia depurar melhor as informações e ser mais específica, segundo o presidente Rodrigo Abreu, em entrevista concedida ontem ao EXAME IN.
Houve muita confusão entre os entendimentos desse valor, apesar de a empresa ter sido clara em sua divulgação de documentos. A repercussão do que “parece uma loucura” chegou até mesmo aos interessados pelo ativo.
Para vender a InfraCo, e os demais ativos, a Oi atualizou sua proposta de plano de recuperação. O documento será votado em assembleia de credores prevista para dia 8 de setembro. No caso da fibra, a venda será finalizada, com assinatura de documentos, apenas no primeiro trimestre do ano que vem. Na prática, significa que as discussões finais ocorrerão após a assembleia. Já a maioria dos outros ativos deve ser vendida ainda neste ano, com fechamento em 2021 após aprovação por órgãos reguladores, e as principais definições ocorrerão antes do encontro.
Já há entre os interessados pela fibra da Oi diversos que qualificavam o preço mínimo de 15 bilhões de reais como salgado. Isso porque de todos os projetos de venda de rede na praça hoje — da Telefônica Vivo (ativo) e da TIM (paralisado) — o da tele é o mais interessante, por ser o único que atravessa o país e incluía a rede de última milha, até a casa do cliente, mas é também o mais arriscado. A Telefônica, por exemplo, não vai adicionar a rede paulista em seu processo de captação de sócio para a rede, em razão da discussão sobre bens reversíveis das operadoras de telefonia que são concessionárias da privatização — a eterna discussão de modelo de concessão e autorização e qual ativo é ligado a qual contrato.
Já a Oi venderá o acesso integral. Contudo, não será a rede propriamente, mas sim um termo de direito de uso irrevogável, no juridiquês em inglês algo conhecido pela sigla IRU (indefeasible right of use). Nas contas de avaliação da tele, o valor do ativo é por uso de 25 anos. Contudo, justamente devido à discussão sobre bens reversíveis, há ainda muita dúvida sobre se esse prazo será possível — o que coloca em risco 20 anos do contrato, pois só há garantia que os bens pertencem à tele por mais cinco. Os interessados querem estressar esse ponto no debate com a tele até o limite.
Não bastassem as contas, o jurídico da operação também é complexo. Não é por acaso que o tempo de debate entre a Oi e os interessados até a próxima rodada será longo.
Na Europa, as redes de fibra foram vendidas por um intervalo entre 12 vezes e 20 vezes o Ebitda de um ano. Por essas contas, se aplicadas à Oi, significaria que os 20 bilhões de reais da InfraCo deveriam ser, na verdade, entre 30 bilhões de reais e 40 bilhões de reais. Mas a tele parece ter consciência do quão apetitoso e arriscado, ao mesmo tempo, é o que colocou para o mercado.