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Odebrecht versão 2021: sócio na construtora e novo CEO para grupo

Contatos em busca de sócio para OEC já começaram, mas devem se acelerar em 2021 com auxílio de assessor financeiro

Odebrecht: desafio de implementar reformas finais para nova cara do grupo (Guadalupe Pardo/Reuters)

Odebrecht: desafio de implementar reformas finais para nova cara do grupo (Guadalupe Pardo/Reuters)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 29 de outubro de 2020 às 02h55.

O grupo Odebrecht tem grandes mudanças à vista para 2021. Do tipo de coisas impensáveis antes dos escândalos com a Operação Lava-Jato e seus saldos. O presidente do conselho de administração da holding ODB, o membro independente José Mauro Carneiro da Cunha, anunciou internamente a contratação da consultoria Korn Ferry e deu a largada para definir a sucessão do presidente Ruy Sampaio. O grupo nunca antes havia se preocupado em dar satisfações ou obter validações para suas decisões de liderança.

A outra novidade é que a Odebrecht começou a organizar um processo estruturado de busca de sócio para a construtora OEC, a Odebrecht Engenharia e Construção. O segmento de construção é o coração, a origem do grupo, em 1944, na Bahia. E agora é a aposta de revitalização também. Alguns fundos de mercado já receberam contato nos últimos meses. Mas a holding ODB deve contratar um assessor financeiro para conduzir essa busca oficialmente em 2021.

Conforme o EXAME IN apurou, a Odebrecht explicou aos possíveis interessados que a ideia é criar um veículo da construtora separado das dívidas, para que o novo investidor não corra risco de comprometer seu aporte com credores. O caminho exato, contudo, ainda não estaria definido. Ainda que idealmente a Odebrecht sempre tenha dito que a preferência é por um sócio financeiro e minoritário, o grupo tem deixado claro que está aberto a todos os diálogos.

Trata-se de um plano antigo, mas que será colocado em marcha agora que a OEC homologou seu plano de recuperação extrajudicial, que cortou mais da metade da dívida de 3,3 bilhões de dólares que a companhia tinha, ou melhor, garantia.

Nada disso estava nos planos da Odebrecht até 2014, quando a receita líquida superava 107 bilhões de reais e o número de funcionários — hoje abaixo de 35 mil — ultrapassava 180 mil pessoas. Com suas 16 áreas de negócios, o conglomerado era, então, quase o dono do Brasil. Até que a Operação Lava-Jato devastou um enorme esquema de corrupção dentro da Petrobras, que acabou conduzindo à descoberta do departamento de operações estruturadas da Odebrecht.

Grupo planeja o 'inimaginável' em sua história: sociedade na construtora e troca de nome

O caso da companhia, considerado um dos maiores de corrupção pelo mundo, tornou-se tão emblemático que já foi citado nominalmente no filme 'A Lavanderia', com ícones do cinema como Meryl Streep, Antonio Banderas, Gary Oldman, e na série Billions (mas sem referência ao nome da empresa).

Desde 2015, a Odebrecht batalha para limpar seu nome. Além de uma ampla reforma de sua estrutura de governança — com a criação de conselhos de administração para todas as empresas —,  fechou acordos de leniência no Brasil e em diversos outros países.

Enquanto fez todos esses movimentos, o grupo encolheu para uma receita consolidada de 78 bilhões de reais e um Ebitda de 11 bilhões de reais — quase tudo concentrado na petroquímica Braskem.

Difícil saber quais dos planos para 2021 tem desafio maior: encontrar um sócio para dar liquidez ao balanço da OEC e, com isso, segurança financeira para a empresa disputar mais obras, ou um novo presidente, para ocupar a cadeira de Sampaio, que sempre foi homem de grande confiança de Emilio Odebrecht.

Não será nada trivial eleger um sucessor para lidar com a família Odebrecht, as responsabilidades de uma empresa em recuperação judicial e dentro de um grupo cujo plano é vender praticamente todos os ativos. Nem fora, nem dentro de casa.

Como presidente, Sampaio esteve à frente das etapas finais e decisivas para aprovação do plano de recuperação judicial do grupo, que reorganizou cerca de 55 bilhões de reais em compromissos com terceiros. Além disso, foi peça determinante no afastamento de Marcelo Odebrecht do cotidiano da companhia. Promoveu não apenas a demissão do filho de Emílio Odebrecht em dezembro do ano passado — sim, ele ainda constava dos quadros de pagamento como diretor — como também deu amplo apoio para que o grupo iniciasse uma verdadeira cruzada judicial contra seu ex-presidente. O objetivo é recuperar dezenas de milhões pagos para que Marcelo fizesse um acordo de colaboração premiada.

Todos esses movimentos devem levar o grupo a algo absolutamente fora de cogitação por longo tempo: a mudança de nome. Em 2019, houve a modificação do nome da construtora, que deixou de ser Norberto Odebrecht — nome do fundador, que faria 100 anos neste mês — para ser OEC. Muitos, porém, afirmam que a troca está longe de ser suficiente. Tudo junto, 2021 deve ser um ano de muito agito para a Odebrecht.

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