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Odebrecht e Gradin assinam acordo de paz e encerram briga histórica

Após acordo, briga com os Gradin virou crédito dentro da recuperação judicial, em valor não revelado

Sede da Odebrecht: após anos de brigas, famílias entram em consenso em acordo privado (Paulo Whitaker/Reuters)

Sede da Odebrecht: após anos de brigas, famílias entram em consenso em acordo privado (Paulo Whitaker/Reuters)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 24 de setembro de 2020 às 17h36.

Última atualização em 24 de setembro de 2020 às 21h20.

Acaba de ser encerrado um dos maiores litígios empresariais do país. As famílias Odebrecht e Gradin entraram em acordo, após uma discussão totalmente privada, para pacificar as relações e encerrar a disputa financeira que se espalha por câmaras arbitrais e judiciário. Num esforço de se liberar de todas as suas pendências, a Odebrecht buscou um acordo para dar fim a essa briga que já tem uma década e foi insuflada por Marcelo Odebrecht, conforme apurou o EXAME In.

Os Gradin tinham 20% da holding que controla o grupo Odebrecht, a ODBInv. Quando a disputa corria solta, muito antes de a Operação Lava-Jato alcançar o conglomerado, os herdeiros de Victor Gradin presidiam a Braskem e a Odebrecht Óleo e Gás, atual Ocyan. O grupo estava próximo de seu auge, alcançado em 2014, quando empregava mais de 180.000 pessoas e registrou uma receita superior a 100 bilhões de reais.

Em 2012, os Gradin passaram a pedir 3 bilhões de dólares por sua participação no negócio e um laudo contratado do Credit Suisse, pela Odebrecht, apontava que o valor das ações seria, no máximo, de 1,5 bilhão de dólares. Sem consenso, a briga se estendeu e se espalhou.

O rolo foi crescendo de tal forma que já não se sabia mais se os Gradin eram credores ou ainda acionistas de ODBInv. Quando Marcelo Odebrecht disse ter direito de comprar e obrigar a venda, os Gradin se recusaram. Quando, mais à frente, afirmaram ter solicitado a venda, a Odebrecht disse que não aceitaria. E assim o caso seguida, consumindo horas e horas de advogados — além de recursos. Só no processo de recuperação judicial da Odebrecht, há mais de duas centenas de páginas e pedidos de bloqueio da família contra o grupo e também contra os bancos credores.

A última vez em que um acordo entre as famílias esteve próximo de ser concluído foi no início de 2018, um ano e meio antes de a Odebrecht entrar em recuperação judicial. Pelo que estava em discussão há mais de dois anos, a família Gradin receberia 1 bilhão de reais, em parcelas. Agora, para esse acordo, o direito financeiro teve de ser incluído dentro do processo de recuperação judicial, pois os Gradin não podem receber nenhum dinheiro na frente dos demais credores dentro do plano de recuperação judicial, que reorganizou 55 bilhões em dívidas, de um total próximo de 100 bilhões de reais. Por enquanto, as partes estão mantendo o valor do acerto em sigilo, mas logo o dado deve se tornar público em razão do processo.

Quando o grupo entrou com pedido de proteção contra credores, a Graal, holding da família Gradin, tentou listar seu crédito, mas o juiz do processo em São Paulo não aceitou. Entendeu que ainda não havia um crédito constituído e que dependia de sentença arbitral — processo que nem sequer avançou, estava apenas instaurado.

A mais recente frente de batalha dos Gradin era tentar derrubar o acordo com os bancos credores por meio do qual a Odebrecht concedeu as ações de controle da Braskem em garantia — que cobrem cerca de 15 bilhões de reais em vencimentos, entre dívida e juros. A Odebrecht tenta encontrar seu caminho depois de aprovar, em março deste ano, a reestruturação dos vencimentos (homologada pela Justiça no fim de julho). Como parte do compromisso com os credores, o conglomerado já deu a largada no processo formal de venda da Braskem, embora a expectativa seja de concluir uma operação apenas quando o ciclo do setor petroquímico der sinais de recuperação.

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