Exame IN

O veterano de tech que busca 500 engenheiros de software no Brasil

Daitan, agora divisão brasileira da Encora, tem 800 colaboradores e 330 foram contratados em 2021

Augusto Savio Cavalcanti: o contra-corrente que sempre acreditou na capacidade tecnológica dos brasileiros (Daitan/Divulgação)

Augusto Savio Cavalcanti: o contra-corrente que sempre acreditou na capacidade tecnológica dos brasileiros (Daitan/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 12 de abril de 2022 às 08h06.

Última atualização em 13 de abril de 2022 às 10h28.

Tornou-se mais recorrente, com a profusão do mercado de venture capital, ouvir de grandes investidores e de empreendedores que o Brasil tem plenas condições de desenvolver tecnologia e até exportar. Mas tem gente que pensa assim há realmente muito tempo. É o caso de Augusto Savio Cavalcanti, que desde a década de 80 desafia o conceito de que tudo que vem de fora do Brasil é melhor.

O executivo está à frente da divisão brasileira da empresa de engenharia de software Encora Digital, que se tornou um unicórnio no fim do ano passado após ter o controle adquirido pela gestora de private equity Advent, avaliada em US$ 1,5 bilhão.

A transação veio na sequência da aquisição, pela Encora, da brasileira Daitan, fundada por Cavalcanti em 2004. Nesse exato momento, o executivo enfrenta da desafiadora missão de recrutar 500 engenheiros de software brasileiros.

Inscreva-se no EXAME IN e saiba hoje o que será notícia amanhã. Cadastre-se aqui e receba no e-mail os alertas de notícias e das entrevistas quinzenais do talk show.

É uma expansão de mais de 60% da capacidade atual da companhia, que conta com 800 colaboradores — somente na operação da Daitan. Na semana passada, pela terceira vez consecutiva, a companhia entrou para o grupo das 500 empresas de mais rápido crescimento das Américas, um ranking formulado pelo Financial Times. Desse grupo, menos de 5% é formado por empresas do Brasil.

A Advent tornou-se sócia majoritária da Encora no fim de 2021, mas a companhia tem outros ilustres investidores em sua basea acionária: a onipresente Sequoia Capital e a Warburg Pincus. No mundo todo, a companhia tem 7.000 profissionais (incluído aí o time brasileiro), espalhados pelos 20 países em que atua, em seus 40 escritórios.

Os números dessas empresas são tipicamente mantidos em segredo, mas o que se sabe é que a operação global cresceu 60% no ano fiscal que vai de abril a março — sendo 80% na América Latina.

A Daitan, que em japonês significa ousadia, desenvolve produtos de software para empresas de rápido crescimento. “O mundo mudou. Não apenas as empresas que querem vender um produto de software nos recrutam, mas companhias tradicionais também perceberam que precisam de tecnologia proprietária, feita em casa, para atender melhor seus clientes. É uma realidade de todos, até de fabricantes de remédios”, exemplifica ele. Sem contar os negócios do mundo físico que estão iniciando suas atividades no universo tecnológico digital paralelo, o metaverso.

O negócio ganhou uma grande tração com a nova realidade digital. Do time atual, 330 foram recrutados no ano passado e cerca de 120 neste ano. “Quando a gente concluir as contratações, estaremos entregando mais projetos e precisaremos de mais gente ainda. É uma luta constante”, diz o executivo.

O mundo já está cansado de saber que a pandemia acelerou a digitalização em todas as suas frentes, para muito além do e-commerce. Mas as dimensões dessa mudança ainda não estão claras para todos — sequer mensuradas. É o efeito nuvem.

Sozinha, sem considerar a propulsão que a Encora trouxe à atividade, a Daitan teve uma expansão orgânica superior a 33% no exercício passado. “Acrescentamos US$ 33 milhões em novos projetos e acordos ao negócio”, enfatiza Cavalcanti, dando uma única pista da dimensão da atividade ao mesmo tempo em que explica que isso não é receita, mas valor de contratos.

"Nós nunca fomos vendedores ou alocadores de engenheiros para as empresas. Sempre me recusei a trabalhar como uma body shop. Meu time vai, entende com o cliente o que ele precisa, e daí desenvolve. Essa experiência acumulada é que faz toda diferença hoje, mas no começo foi difícil", lembra o empresário. Mesmo assim, Cavalcanti pode se gabar do fato de que o primeiro cliente continua com ele, 18 anos depois da criação da companhia. De acordo com o Financial Times, a receita da Daitan em 2020 era da ordem de US$ 30 milhões.

Uma pitada de história

A Daitan é, na verdade, a segunda empreitada de Cavalcanti, que em 1987 fundou a Zetax, uma empresa de equipamentos para empresas de telecomunicações que se propôs a competir com as gigantes internacionais. "Nossa cabeça foi formada, desde essa época, com a cultura de que o que fazemos não pode falhar."

Pois o negócio despertou atenção de ninguém menos do que a Lucent Technologies, que adquiriu a empresa em 1999 — um ano após a privatização do sistema Telebrás e quando explodiu a demanda no país. A Lucent, para quem não lembra, nasceu de um spin-off da AT&T, mais exatamente do Bell Labs.

Pois na época da aquisição, Cavalcanti se recusou a entregar a empresa e ir embora. Negociou com a CEO global a permanência de ao menos cinco brasileiros dentro do Bell Labs — ele queria 15. Foi esse time que mais tarde criou a Daitan, apenas dois anos antes de Alcatel e Lucent se unirem em 2006. Mais tarde, essa união foi parar dentro da Nokia. O mundo é grande e pequeno.

De 1 a 5, qual sua experiência de leitura na exame?
Sendo 1 a nota mais baixa e 5 a nota mais alta.

Seu feedback é muito importante para construir uma EXAME cada vez melhor.

 

De 1 a 5, qual sua experiência de leitura na exame?
Sendo 1 a nota mais baixa e 5 a nota mais alta.

Seu feedback é muito importante para construir uma EXAME cada vez melhor.

Acompanhe tudo sobre:Adventempresas-de-tecnologiaEXAME-no-InstagramSoftwareVenture capital

Mais de Exame IN

Mais Porto, menos Seguro: Diversificação leva companhia a novo patamar na bolsa

Na Natura &Co, leilão garantido e uma semana decisiva para o futuro da Avon

UBS vai contra o consenso e dá "venda" em Embraer; ações lideram queda do Ibovespa

O "excesso de contexto" que enfraquece a esquerda