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O ‘rei dos ovos’ avança no cultivo de grãos – e busca sócio para biocombustíveis

Ricardo Faria se consolida como maior produtor do Matopiba com avanço de 35% na área plantada e descarta IPO da granja que leva seu sobrenome

Faria: Estrutura separada para internacionalização para acessar outro pool de capital em relação ao Brasil (Leandro Fonseca/Exame)

Faria: Estrutura separada para internacionalização para acessar outro pool de capital em relação ao Brasil (Leandro Fonseca/Exame)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 3 de janeiro de 2024 às 07h22.

As aquisições da BL Ovos e da Katayama consolidaram Ricardo Faria como o ‘rei do ovo’ no Brasil. Até pouco tempo considerado o primo pobre das proteínas, o segmento, um dos mais pulverizados do país, vem passando por uma onda de consolidação, encabeçado hoje concorrente Granja Mantiqueira e por sua Granja Faria, hoje a líder do setor com 10% do mercado.

Num setor de crescimento orgânico mais complexo – com um longo tempo de maturação dos investimentos –, a estratégia de M&As deve continuar, mas num ritmo mais contido. “Não existem duas Katayamas”, aponta Faria, que acredita que há espaço para uma empresa com pelo menos 25% do mercado no médio prazo.

Mas, apesar da projeção de faturamento bruto de R$ 3 bilhões em 2023, praticamente o dobro do ano anterior, e uma margem EBITDA na casa dos 20%, o empresário não coloca todos seus ovos na mesma cesta.

Nos últimos anos, Faria vem aumentando também sua participação na produção de milho, soja e sorgo, por meio do seu braço de terras, a Terrus. Aqui, o crescimento vem acontecendo de maneira vertiginosa. A expectativa para a safra 2023/2024, é de 230 mil hectares plantados (considerando safra e safrinha), um crescimento de 35% em relação ao ciclo anterior.

Enquanto a Granja Faria nasceu há 12 anos, por meio de uma pequena operação de produção de matrizes para a Perdigão, a entrada no segmento de terras é mais recente. Faria comprou cerca de 40 mil hectares de terras na região em Tocantins e no Piauí em 2019.

No ano seguinte, arrematou a Insolo, que pertencia ao tradicional endowment de Harvard, por R$ 1,8 bilhão, adicionado mais 70 mil hectares ao portfólio, consolidando sua posição como maior produtor do Matopiba, a fronteira agrícola do Cerrado que compreende também Mato Grosso e Bahia, e maior detentor individual de terras do Brasil. (A maior parte dos produtores dizem respeito a grandes empresas, que normalmente arrendam terras de produtores de médio e pequeno porte.)

“Além das terras, levamos uma base técnica muito diferenciada em produção nessa região”, aponta. “É uma região que demanda muito investimento na frente para preparação [da terra] e a tendência é aumentar a presença dos grandes grupos. Vamos continuar crescendo enquanto em área enquanto nossa capacidade de execução e produtividade for maior do que a região.

Em termos de faturamento, a projeção do empresário é de um crescimento de 40% no ciclo, para R$ 2 bilhões. Dos 230 mil hectares previstos, 150 mil serão de soja, 30 mil de sorgo e 50 mil de milho, com essa última cultura representando uma fatia proporcional menor do que nas últimas safras, em virtude de problemas climáticos que atrasaram o começo do plantio.

“O plantio começou muito depois da janela tradicional”, afirma. Nas duas terras, o plantio que tradicionalmente começa em 20 de outubro, começou em 1º de novembro. “Outros players tiveram um atraso ainda maior. O que deve acontecer é uma pressão ainda maior para os preços do milho”, pondera.

A maior parte da expansão neste ciclo deve vir por meio do arrendamento de terras, já que os preços atuais não justificam a expansão por meio da compra. Hoje, cerca de 80% do plantio é feito em terras próprias e 20% em terras arrendadas.

Mais do que área de cultivo, os planos de expansão da Terrus envolvem também a verticalização, com a entrada na produção de etanol de milho e biodiesel, a partir da soja. Segundo ele, a Terrus já está em conversas iniciais com dois grupos para erguer duas usinas, mirando principalmente o mercado de combustível sustentável para aviação.

“Queremos parceiros que nos tragam expertise para esse segmento, seja na moagem ou na distribuição de combustíveis”, diz. “Nada contra fundos [de investimento], mas minha questão principal aqui não é capital.”

O empresário avalia ainda a construção de uma infraestrutura própria no porto de Itaqui, no Maranhão, para escoar seus grãos, com novo terminal, berço e shiploader (estrutura de carregamento dos navios). Aqui, a ideia é buscar financiamento próprio, inclusive numa estrutura alavancada por clientes que tenham interesse em garantir o abastecimento.  “Em dez anos, Itaqui será o maior hub de exportação de grãos do país”, afirma.

Engenheiro agrônomo de formação, Faria começou sua trajetória com a Lavebras, uma rede de lavanderias industriais em Santa Catarina, voltada inicialmente para atender a demanda de aviários e frigoríficos na região.

Com uma estratégia agressiva de M&As e a entrada em outras verticais, como a hospitalar, o negócio ganhou escala, atraiu sócios como Edson Bueno, o falecido fundador da Amil, e foi vendido por R$ 1,3 bilhão para a francesa Ellis em 2017.

Com balanços publicados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e ações listadas na B3 mesmo sem ter feito uma oferta inicial de ações, a Granja Faria vem sendo apontada como uma candidata à próxima janela de IPOs.

Mas o fundador afirma que o movimento foi feito apenas para melhorar a governança – e, no frigir dos ovos, prefere a liberdade de uma empresa fechada.

“Ser uma empresa negociada não é algo que nos seduz”, diz. “Os investidores não conhecem bem o ciclo do nosso negócio, seria mais uma dor de cabeça do que um benefício.”

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