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O que importa no balanço da Americanas – agora, sem esteroides

Prejuízo nos nove primeiros meses de 2023 impressiona, mas varejo físico mostra resiliência e operação online recobra margens, especialmente a partir do segundo semestre

Americanas: resiliente, operação física viu vendas brutas cairem 4,4% nos nove primeiros meses do ano (Americanas S.A./Divulgação)

Americanas: resiliente, operação física viu vendas brutas cairem 4,4% nos nove primeiros meses do ano (Americanas S.A./Divulgação)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 26 de fevereiro de 2024 às 16h35.

Última atualização em 26 de fevereiro de 2024 às 16h45.

Os números dos primeiros nove meses da Americanas, finalmente publicados hoje pela manhã depois de vários adiamentos, trouxeram um retrato do que é a varejista sem esteroides – leia-se, sem as fraudes contábeis que turbinaram o resultado ao longo dos últimos anos.

Se no primeiro semestre o trabalho da nova gestão foi tentar entender o tamanho do buraco e colocar as coisas mais ou menos no lugar, o terceiro trimestre foi de começar a ver algum efeito das medidas que prometem colocar a empresa de volta aos trilhos – e deixá-la bem mais enxuta.

“Os números mostraram uma resiliência do varejo físico e, claro, o que deve ser o novo online, mais rentável”, diz a CFO Camille Faria, em entrevista ao INSIGHT. As vendas brutas das lojas físicas caíram 4,4% nos nove primeiros meses do ano, para R$ 9,3 bilhões, refletindo uma redução promocional e de uso de ferramentas como cashback da plataforma da Ame, braço financeiro do grupo.

As vendas brutas no conceito ‘mesmas lojas’ caíram 2,9% de janeiro a setembro, mas já tiveram crescimento de 3,6% no terceiro trimestre, mostrando recuperação da operação.

No online, a queda foi abrupta. As vendas brutas do online recuaram 77% no acumulado até setembro 77%, para R$ 4,8 bilhões, na esteira da queda da confiança de clientes e de sellers, mas, no segundo momento, também pela mudança de estratégia da empresa.

Para lidar com a crise de confiança, Leonardo Coelho, novo CEO vindo da Alvarez & Marsal (empresa contratada para a reestruturação), a empresa passou a repassar os valores de venda dos vendedores terceiros semanalmente.

A equipe repensou também todo o posicionamento do digital. O 1P, que é a venda direta, ficou menor e com um portfólio conectado ao das vendas físicas. Já o 3P, como é chamado o marketplace, passou a ser a prateleira infinita. Os dois canais vieram quedas robustas nas vendas: 1P caiu 86% e o 3P, 71%.

Ter uma operação online própria que reproduz a operação física permitiu entregar mais direto das lojas, o que reduz custos logísticos, por exemplo, observa a CFO. Ao ficar menos inchada, a operação digital aumentou a margem bruta de todo o negócio -- era lá que estava a principal razão de queima de caixa do negócio.

No período de janeiro a setembro, a Americanas reportou uma queda de 8,2% no lucro bruto, para R$ 2,9 bilhões, mas viu a margem crescer nada menos que 11,1 pontos percentuais, para 27,7%. Apesar do efeito ter ficado mais pronunciado com a virada de 180 graus na estratégia, a tendência é que o online siga com margens mais saudáveis e se torne um gerador de caixa.

A linha de despesas de vendas, gerais e administrativas caiu 7,5%, mas era uma das quais a administração gostaria de ver uma queda maior, diz Faria. Esse número está poluído por custos não recorrentes, como fechamento de lojas e rescisões de contratos, fator que deve ser diluído ao longo dos próximos trimestres. No total, a empresa fechou 99 lojas que não apresentavam rentabilidade adequada. Ainda mantém 80 unidades deficitárias em observação.

O efeito mais relevante das ações da administração só deve começar a ter efeito mais visível a partir do fim do quarto trimestre. A projeção da empresa é voltar ao azul e gerar um Ebitda (resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização) recorrente de R$ 2,2 bilhões já em 2025. “Por enquanto, seguimos a com nossa meta”, diz Faria.

Com um prejuízo de R$ 4,6 bilhões de janeiro a setembro, a Americanas encerrou os primeiros nove meses de 2023 com patrimônio líquido negativo de R$ 31,2 bilhões. O valor pode impressionar, mas não acende a luz amarela – ele diz mais sobre o passado que o futuro da companhia.

O montante deve ser saneado com a capitalização de R$ 24 bilhões acertada no plano de recuperação judicial, homologado por coincidência também nesta segunda-feira pela Justiça.

Agora a empresa espera chamar assembleia extraordinária para aprovar o aumento de capital e concluir todo o processo até junho. O endividamento também vai ser resolvido agora com o plano. Hoje em R$ 38 bilhões, o endividamento da empresa deve ficar em R$ 1,9 bilhão.

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