Exame IN

As letras miúdas na JV do Grupo Mateus com o Novo Atacarejo 

União fortalece liderança no Nordeste e reduz pressão competitiva em praças com margens apertadas, mas valuation ainda depende de pontos pendentes na avaliação dos ativos

 (Leandro Fonseca/Exame)

(Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 29 de maio de 2024 às 18h15.

Última atualização em 29 de maio de 2024 às 18h23.

Surpreendendo o mercado que não colocava a possibilidade de um M&A no radar, o Grupo Mateus anunciou hoje uma joint venture com o Novo Atacarejo, numa transação que une duas das famílias com maior expertise em atacarejo no Nordeste e fortalece a presença do grupo em Paraíba, Alagoas e Pernambuco – onde os agora sócios vinham brigando para ganhar terreno.  

Pelo acordo, o Mateus vai contribuir com suas 21 lojas nos três estados mais um atacado de distribuição, que faturam, ao todo, R$ 2,3 bilhões, enquanto o Novo Atacarejo vai aportar toda sua operação, que consiste em 29 lojas em Pernambuco e na Paraíba, com R$ 4,5 bilhões em receitas.

SAIBA ANTES: Receba as notícias do INSIGHT no seu Whatsapp

O Mateus ficará com o controle da joint venture, com 51% do capital, enquanto a família Assis, dona do Novo Atacarejo, terá os 49% restantes. O contrato prevê que o Mateus possa ter que entrar com uma parcela em caixa na companhia para compor a diferença restante.  

Em teleconferência com analistas na amanhã de hoje, o presidente do conselho e fundador do Grupo Mateus, Ilson Mateus, defendeu que a transação destrava energia para focar em outras regiões. A companhia já vinha destacando o espaço para crescimento no próprio Maranhão, sua terra natal, e no Pará.  

Excluindo as lojas envolvidas na transação, o Mateus tem outras 241 unidades espalhadas pelo Nordeste e faturou R$ 30 bilhões em 2023.  

 “Ao longo da nossa história veio muito negócio na mesa de M&A e eu nunca gostei, mas essa operação entendemos como muito estratégica. Tem tudo a ver com o nosso negócio”, Ilson Mateus, fundador e presidente do conselho de administração do Grupo Mateus.  

Chamou atenção do mercado o fato de o Mateus ter uma fatia de controle, apesar das lojas aportadas terem um faturamento significativamente menor do que dos sócios. Considerando as receitas de 2023, a empresa combinada teria R$ 6,8 bilhões em faturamento, dos quais R$ 3,4 ficariam com o Mateus – R$ 1 bilhão a mais do que as vendas das 21 lojas que o grupo está aportando.  

A investidores, contudo, a companhia tem sinalizado que houve um grande movimento de abertura de lojas na região e que boa parte delas estão maturando agora, de forma que a diferença de receita deve ser menor considerando os números mais recentes deste ano.  

O acordo, ainda preliminar, prevê que o Mateus possa ter que aportar mais dinheiro no caixa da JV para fechar uma eventual diferença. A conta final só sairá depois da due diligence e da avaliação dos ativos.  

“Para fazer a conta direito, só mesmo com esses números na mão e com o aporte”, pondera um analista. “A expectativa é que seja pouco dinheiro, mas ainda faltam muitos detalhes.” 

Outra questão é que, apesar de estar operando nos Estados de Pernambuco e Paraíba há menos tempo, o Grupo Mateus tem lojas com margem maior enquanto a Novo Atacarejo cresce com volume de vendas.  No call, o CFO Túlio Queiroz, as diferenças de margem são pontuais e a combinação da nova empresa deve superá-las.     

Pelo acordo, as bandeiras das duas redes vão continuar existindo. “Ficamos muito em paz de que eles toquem a operação e a expansão”, diz Ilson.  

Apesar das dúvidas, o movimento estratégico foi considerado positivo. As ações subiram 5% no pregão de hoje.   

“As lojas do Mateus em Pernambuco estavam performando pior, em grande parte porque havia uma forte competição com o Novo Atacarejo e eles estavam brigando em margem”, diz um gestor que acompanha de perto a companhia.  

 “Além disso, reduz a necessidade de expansão nas praças e diminui o eventual capex que precisará ser feito para crescer nessas regiões, já que ele vai ser dividido. É uma redução de risco no geral”, pondera.  

O Bradesco BBI avalia que o movimento é negativo para o Carrefour Brasil e para o Assaí, na medida em que fortalece os players regionais.  

Um investidor, contudo, tem outra leitura. “A melhora na dinâmica competitiva na região pode tirar pressão inclusive sobre outros concorrentes”, afirma.  

O Banco Itaú BBA é assessor financeiro do Grupo Mateus e o escritório Pinheiro Guimarães está atuando na ponta jurídica. Já Novo Atacarejo trabalha com Araújo Fontes e Machado Meyer, respectivamente.  

Acompanhe tudo sobre:VarejoFusões e AquisiçõesEmpresasGrupo Mateus

Mais de Exame IN

A parte do balanço da Nvidia que está deixando investidores preocupados

Fim do 'shutdown' não resolve apagão de dados, diz Meera Pandit, do JP Morgan

Avon podia ter salvado Natura do tombo, mas ainda não estava pronta

BTG Pactual bate novos recordes no 3º trimestre e lucra R$ 4,5 bilhões