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O que a Tivit quer depois de trocar de CEO

Paulo Freitas foi anunciado nesta terça-feira como o novo nome no comando da empresa e conta, em entrevista exclusiva ao EXAME IN, quais são os planos daqui para frente

Tivit: troca de CEO vem para 'arrumar a casa' e, de quebra, fortalecer companhia diante de investidores (Jay Yuno/Getty Images)

Tivit: troca de CEO vem para 'arrumar a casa' e, de quebra, fortalecer companhia diante de investidores (Jay Yuno/Getty Images)

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Karina Souza

Publicado em 7 de dezembro de 2022 às 11h06.

Última atualização em 7 de dezembro de 2022 às 11h56.

A Tivit vai substituir Luiz Mattar, ex-tenista e co-fundador da empresa, como CEO. É a segunda vez, no passado recente da companhia, que Mattar sai de cena da principal cadeira da diretoria executiva da companhia para dar vez a um executivo com mais de uma década de casa. Em 2018, quando tinha 15 anos de Tivit, Carlos Gazzafi foi quem o sucedeu, permanecendo na cadeira até 2020 — ano em que saiu para ir para a Sem Parar. Agora, em 2022, entra Paulo Freitas, ex-Xerox e ex-country manager da Motorola no Brasil, que está na companhia desde 2010. Chegou à empresa indicado para o cargo de CFO — que ocupava até então — logo depois de o fundo Apax Partners comprar o controle da Tivit, há doze anos. Freitas já assumiu verticais inteiras dentro da companhia, como é o caso da NeoBPO (posteriormente segregada da multinacional) e, agora, assume um desafio e tanto nas mãos: tornar a gigante de tecnologia atrativa aos olhos de investidores e de clientes. Em entrevista ao EXAME IN, conta qual será o caminho a ser trilhado a partir da nova gestão.

Não é segredo para ninguém que o controlador da empresa, o Apax Partners, procura há algum tempo uma alternativa de se desfazer da participação que tem na companhia de tecnologia. O fundo comprou 52% da Tivit em 2010, por mais de R$ 870 milhões, consolidando o primeiro investimento no Brasil e fechando o capital da empresa, apenas um ano depois de seu IPO. Se tirar os papéis de circulação foi um processo rápido, tentar devolvê-los ao mercado passa longe de ser uma tarefa simples. A Tivit ensaiou retornos à B3 em 2017 e em 2018, sem sucesso. Em 2020, a companhia voltou a sondar potenciais compradores, mas, novamente, nenhum acordo foi feito.

Exigida por clientes e investidores, estratégia NET Zero é regra para negócios prosperarem; entenda

A falta de apetite pela companhia contrasta – e muito – com a demanda de mercado por ofertas presentes em áreas em que a empresa atua. Hoje, em suma, a oferta da Tivit está resumida em quatro áreas: cloud, digitalização de processos, cibersegurança e data centers. Com exceção da última área, todas as outras têm perspectiva de alto crescimento daqui para frente.

O IDC estima que o mercado de nuvem no Brasil (como um todo) deve superar os US$ 13 bilhões já em 2023, em linha com o ritmo de crescimento de dois 'dígitos altos', acima dos 20%, que o setor apresenta ano a ano. A demanda por transformação digital é, como define Luciano Ramos, gerente de pesquisa e consultoria do IDC Brasil, "uma necessidade atrelada aos objetivos de acelerar o time to market, tomada de decisão e reagir rapidamente às mudanças de mercado". Isso abrange desde as pequenas empresas, que aproveitam o boom do modelo SaaS para conseguirem, por exemplo, contratar serviços de nuvem e não terem de se preocupar com infraestrutura, até as grandes empresas, que procuram soluções de analytics, de olho em melhorar eficiência de ponta a ponta.

Em uma pesquisa realizada em setembro com empresas a respeito do objetivo pelo qual estavam investindo em tecnologia, o IDC apontou a produtividade como um fator-chave para olhar para as soluções, bem como atração e retenção de clientes. "No fim, muito da demanda se resume a criar diferenciais a partir de boas experiências que têm o digital como suporte", diz Ramos. Na mira das companhias para investimentos em 2023, a pesquisa apontou justamente cloud, analytics, Big Data e segurança cibernética. Ou seja, olhando de fora para dentro, a Tivit tem um bom espaço para conquistar.

A boa notícia é que a empresa está atenta a isso. Em entrevista ao EXAME IN, o novo CEO afirma que as áreas de cloud e de digitalização de processos vêm crescendo ao longo do tempo: hoje, somam mais da metade da receita anual de R$ 2 bilhões da companhia, um percentual que era de 30% em 2016. A empresa também tem investido, recentemente, em cibersegurança, uma área que já dobrou de tamanho em relação a um ano atrás, ainda que tenha uma contribuição ínfima no faturamento geral da companhia. Daqui para frente, o plano é acelerar ainda mais essas três verticais, de olho em capturar a demanda de mercado.

Para isso, a Tivit fez uma reestruturação completa. Junto com o novo CEO, vem uma nova forma de a companhia trabalhar. Em vez de uma divisão por produtos, a companhia passará a ter diretores responsáveis por diferentes indústrias. É uma divisão que atende, segundo Freitas, à demanda das empresas, que procuram ter “um pouco de diferentes produtos” em um mesmo lugar.

Para comprovar o potencial que a tese de um trabalho mais integrado pode ter daqui para frente, o executivo cita um case de sucesso recente. Em uma empresa do ramo financeiro, a Tivit entrou para atender a uma demanda de transformação digital. Logo depois, pegou mais uma, de cibersegurança. E, em seguida, outra, de cloud. “Vamos construir um negócio cada vez mais adaptado às necessidades do cliente. Sem caixas-pretas ou imposições, mas soluções construídas em conjunto. Isso favorece muito o nosso crescimento”, diz. Para isso, a companhia já tem programadas uma série de visitas a clientes, de olho em aproximar o relacionamento e em identificar novas oportunidades de negócio.

Resolvidas as questões de atendimento, a empresa também passa a olhar com mais cuidado para o desenvolvimento de novas tecnologias. O novo CEO pretende continuar o trabalho iniciado por seu antecessor com a criação da Tivit Ventures, uma vertical de inovação dedicada a investir R$ 400 milhões em startups até 2025. E que já começou a dar seus primeiros passos. Recentemente, a empresa adquiriu a chilena XMS, de cloud, a SensorIT, voltada a automatização de processos, e a Lambda3, também voltada à transformação digital. A ideia é, claro, trazer agilidade para a gigante de mais de 5.000 colaboradores. "Há soluções que surgem rapidamente e não dá tempo de criá-las do zero dentro de casa. Quando identificamos essa demanda, vamos atrás de empresas que possam contribuir para atendê-la, de olho em fortalecer nosso crescimento", diz Freitas.

Não que a companhia esteja estagnada. Nos mercados da América Latina (que respondem por 22% do bolo total da receita), a companhia cresceu 18% em cada um deles neste ano, na comparação com 2021. Para o próximo ano, considerando o Brasil nessa conta, a Tivit estima um crescimento de 20% em receita de serviços ligados à transformação digital e cloud.  Soma-se a isso a frente de cibersegurança, ainda com um faturamento pequeno diante do todo, mas que já dobrou de tamanho do ano passado para cá e deve crescer a uma média anual de 20% a 25%. 

A Tivit não divulga números absolutos sobre a própria operação, além da receita. Os últimos de que se tem notícia são de 2019, com base em números divulgados pela imprensa. Naquele ano, a empresa tinha um Ebitda ajustado de R$ 466 milhões, uma dívida líquida de R$ 663 milhões e um lucro de R$ 125 milhões. A receita, único indicador comparável com o de 2022, era 25% menor, cerca de R$ 1,6 bilhão.

Apesar da falta de números mais aprofundados sobre a operação em 2022, fica claro que todas as transformações pelas quais a companhia está passando — e vai passar — têm um objetivo final claro de torná-la mais atrativa também aos olhos de investidores. 

Questionado sobre esse ponto, Freitas afirma que o principal ponto de desacordo, até agora, esteve relacionado ao preço que se estava disposto a pagar pela Tivit. “Não se trata de um ativo qualquer. E que está inserido em um mercado que cresce rapidamente, é promissor, com negócios imunes à crise. Não dá para se desfazer do negócio, se o preço não é atrativo”, diz.

Em relação ao futuro, um ano sem IPOs na bolsa brasileira está longe de ser atrativo para a companhia buscar o mercado de capitais. Mas Freitas deixa a porta aberta para uma nova tentativa de negócio, no futuro. “Numa janela de preço interessante, claro, naturalmente pode haver negócio. Mas não há pressa, não temos nada marcado. Estamos focados em atender bem nossos clientes”, diz. 

Sob nova direção, a empresa vai ter de provar que consegue cumprir com o que está falando desde já. Caso consiga, pode virar o jogo da atratividade para si e -- enfim -- conquistar o coração de um novo dono.

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