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O plano da Oi para quintuplicar de valor e chegar a R$ 30 bi na bolsa

Companhia apresentou complemento de plano de recuperação à Justiça sobre como pretende obter R$ 22,8 bilhões de reais com venda de ativos

Rodrigo Abreu: após toda reformulação, geração de caixa operacional pode somar 4,5 bilhões de reais ao ano (Michael Nagle/Bloomberg)

Rodrigo Abreu: após toda reformulação, geração de caixa operacional pode somar 4,5 bilhões de reais ao ano (Michael Nagle/Bloomberg)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 16 de junho de 2020 às 20h12.

Última atualização em 27 de junho de 2020 às 11h12.

A Oi abriu nesta terça-feira seu desenho de futuro ao mercado. A companhia apresentou à Justiça o aditivo ao plano de recuperação judicial original, aprovado em dezembro de 2017. O documento traz muito mais do que o futuro para as finanças da tele. Ele apresenta toda sua visão de modelo estratégico, para se transformar definitivamente numa companhia com duas frentes de negócios: infraestrutura e varejo de serviços residenciais e corporativos.

Hoje, a empresa vale 5,9 bilhões de reais na bolsa e tem uma dívida líquida de 18,1 bilhões de reais. Após implementação completa do novo plano, considerando a execução plena de tudo que está sendo proposto, a Oi listada na B3 poderá ser uma empresa avaliada entre 30 bilhões de reais e 40 bilhões de reais e com metade da dívida líquida atual. Essa é a estimativa do presidente da companhia, Rodrigo Abreu.

Em entrevista ao EXAME IN, o executivo explicou que esses são números difíceis de serem estimados com precisão, mas o futuro é dessa ordem de grandeza. A estrutura planejada para a Oi, segundo ele, segue modelo usado em diversas empresas da Europa.

O mercado primeiro não gostou e a ação chegou a operar em queda de 12,24% — ou não entendeu. Até o fechamento do pregão, a desvalorização perdeu intensidade e o papel fechou no “zero a zero”, estável em 0,98 real.

A dívida, mesmo após o corte obtido pelo plano de recuperação judicial aprovado em 2017, ainda é a grande vilã do valor da tele. Mas o fator complicador da vida da empresa são os anos de subinvestimento acumulados desde os tempos em que Andrade Gutierrez e La Fonte (família Jereissati) eram os controladores. Como ainda precisa fazer muitos investimentos, o gasto é alto e a geração de caixa é prejudicada pelo atraso tecnológico.

A Telefônica Vivo, por exemplo, é avaliada na B3 em 83,7 bilhões de reais, com suas margens elevadas e os recordes anuais de pagamento de dividendos. A TIM Participações, por sua vez, fechou hoje valendo 35,7 bilhões de reais.

A Oi atual é dona de uma operação integrada de infraestrutura, varejo, atacado e telefonia celular. Com o novo plano, o desenho será modificado e a empresa poderá obter um valor estimado em, no mínimo, 22,8 bilhões de reais com venda de ativos e a separação da infraestrutura em uma outra sociedade.

No caminho, vão ficar os ativos de telefonia móvel, as torres celulares e o data center, que serão integralmente alienados. Como Abreu já vinha enfatizando desde o fim de 2019, a “nova Oi” será uma companhia de infraestrutura e fibra. O que faltavam eram os detalhes.

Do total a ser obtido, 15 bilhões de reais devem vir da venda da operação móvel, 1 bilhão de reais da venda das torres celulares e 325 milhões de reais do negócio de data center. Esses são os valores mínimos estimados pela tele no plano apresentado à Justiça.

Para que ele tenha validade e possa ser executado, é preciso que os credores aprovem sua nova versão. A assembleia deve ser marcada em até 60 dias. Abreu explicou que poderão ser feitas algumas apresentações a credores específicos, mas que o movimento não requer novas negociações tão intensas quanto foram necessárias na aprovação da recuperação judicial, há dois anos e meio.

Dentro do plano, cada unidade a ser vendida integral ou parcialmente pela Oi é denominada Unidade Produtiva Isolada (UPI). Esse é o termo jurídico usado em todos os processos de recuperação judicial.

No modelo novo da companhia, a parte pesada da infraestrutura ficará numa companhia na qual a Oi será sócia, que ela chamou de “Infra Co”. A tele vai buscar um novo controlador para esse negócio, que assumirá 51% do capital votante, pelo menos. Esse movimento deve render ao caixa da Oi, no mínimo, 6,5 bilhões de reais — volume estimado para uma fatia de 25% do capital total da nova empresa (mas majoritária no controle), cujo valor total é estimado entre 25 bilhões e 30 bilhões por Abreu.

A comercialização dos serviços como a tele já faz hoje ficará na “Oi Client Co”. Para o investidor da bolsa, nada muda. Todas as transações e movimentações ocorrerão abaixo da Oi listada na B3.

A Oi listada na B3 será, ao mesmo tempo, sócia da Infra Co e cliente. Terá, portanto, dois fluxos com essa empresa: de saída de recursos, para pagamento do uso da infraestrutura, e de entrada, com recebimento de dividendos. A companhia de infraestrutura, porém, não terá apenas a Oi como cliente. Poderá vender o acesso à rede a quem quiser ou precisar, no atacado.

A tele listada na bolsa ficará com 100% da operação de varejo (para empresas e residências) e mais a participação na Infra Co.

Abreu explicou que, com todos esses movimentos, além de reduzir as dívidas, a companhia de infraestrutura se transformará em negócio com baixa alavancagem, o que permitirá a contratação de dívidas e a aceleração dos investimentos — tudo que a Oi de hoje não consegue fazer hoje, nem gastar mais, nem tomar novos compromissos, por ainda estar dentro da recuperação judicial.

No plano, os recursos recebidos poderão pré-pagar algumas dívidas bancárias e, para isso, a tele pleiteia descontos de até 60% com os credores. A nova Oi deverá ser uma companhia, após todas as etapas implementadas, capaz de ter uma geração de caixa operacional de 4,5 bilhões de reais ao ano — sendo 3 bilhões de reais vindos da operação de redes e 1,5 bilhão de reais da venda de serviços.

Para especialistas consultados pelo EXAME IN, contudo, não há nada de óbvio na execução do modelo proposto pela Oi, inclusive por não ser o desenho predominante do setor no Brasil. Além disso, os valores a serem obtidos pela tele, especialmente no negócio de infraestrutura, dependem de muitos detalhes, que vão desde questões regulatórias até o formato do contrato comercial com a empresa de varejo. Apesar disso, o entendimento é que há espaço para a tele destravar valores importantes de seu negócio — a dúvida é se nessa proporção e com essa rentabilidade esperada.

Cronograma

Idealmente, a companhia espera assinar a venda da Oi Móvel ainda neste ano. O dinheiro, contudo, só deve chegar no fim de 2021, devido aos prazos regulatórios de aprovação, necessários para a transação. O processo de venda é conduzido pelo Bofa Merrill Lynch. Abreu disse que, em fase de diligência de números e documentos, estão alguns interessados, incluída a parceria TIM e Telefônica Vivo para divisão do ativo. As propostas vinculantes deverão chegar antes mesmo da aprovação do novo plano em assembleia de credores – ou seja, nas próximas semanas.

No caso da Infra Co, a busca de um sócio controlador será coordenada pelo banco de investimento Lazard, que auxiliou a companhia no processo de reestruturação das dívidas. A expectativa é que a fase inicial de abertura de propostas ocorra apenas no primeiro trimestre de 2021. Não está nos planos, segundo Abreu, oferecer o negócio para as demais teles do setor, mas sim para fundos especializados em investimentos em infraestrutura e de longo prazo.

Resultados

A Oi apresentou hoje o balanço do primeiro trimestre. A companhia teve receita líquida de 4,75 bilhões de reais, uma queda de 7,4% na comparação com igual período de 2019. Já o Ebitda recuou 5,8%, para 1,53 bilhão de reais, no acumulado de janeiro a março. A última linha do balanço da tele ainda é fortemente afetada pelas dívidas (que no trimestre contaram com o peso da variação cambial): o prejuízo líquido ficou em 6,3 bilhões de reais, ante lucro de 679 milhões de reais, um ano antes.

No lado operacional, o que segue em queda acelerada ainda é a telefonia fixa. Contudo, a companhia entrou em rota de crescimento com a venda dos serviços de fibra, após investimentos na expansão dessa infraestrutura. De acordo com Abreu, as metas para essa tecnologia para 2022 deverão ser antecipadas em um ano.

No primeiro trimestre, a receita com serviços baseados na fibra passou de 26 milhões de reais, no primeiro trimestre de 2019, para 205 milhões de reais, nos três primeiros meses deste ano – um aumento superior a 700%. A companhia saiu de uma base de 145 mil casas e empresas conectadas para 944 mil ao fim de março e 1,041 milhão em abril. O plano para dezembro é ter entre 1,6 milhão e 1,8 milhão de pontos conectados.

O número de casas passadas — que têm acesso à infraestrutura e podem contratar o serviço – passou de 1,6 milhão a 5,99 milhões, entre março do ano passado e abril deste ano. Para o fim de 2020, o total poderá chegar a 8,6 milhões de casas conectadas.

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