Em reais: após IPO, Pátria coloca investidor brasileiro no centro dos planos de crescimento (istockphoto/iStockphoto)
Graziella Valenti
Publicado em 28 de abril de 2021 às 15h54.
Última atualização em 28 de abril de 2021 às 17h20.
A gestora de private equity Pátria Investimentos, uma das mais tradicionais do país, tem dentro de casa uma carteira formada com as oportunidades que pandemia trouxe. Trata-se de uma de suas flagships para o varejo brasileiro, o fundo Pátria Pipe. Em um comportamento arrojado, a gestão promoveu uma forte rotação de portfólio em 2020. Foi tudo sem alarde, como é costume da grife, mas um movimento totalmente atípico para o histórico da gestora.
Com os planos de expandir a captação entre os investidores brasileiros, o desempenho das escolhas será um importante cartão de visitas. A casa soube unir o senso de oportunidade à expertise de gestão de negócios, acumulada em seus 30 anos de história.
Das seis apostas centrais de agora do Pátria Pipe, quatro foram realizadas no ano passado: no conglomerado Ultra, na companhia de turismo CVC, na Alper Consultoria e Corretora de Seguros e ainda na Qualicorp, plataforma de revenda de planos de saúde. No início da pandemia, o fundo tinha 25% em caixa e agora está 100% aplicado. Todas essas companhias contarão com a experiência do Pátria para promover ajustes relevantes nos negócios.
Pipes são carteiras que aplicam recursos com visão de private equity, ou seja, para uma participação ativas nas empresas eleitas, mas têm como alvo apenas companhias listadas em bolsa. São voltadas à geração de valor no longo prazo.
Juntas, essas novas posições respondem por pouco mais da metade da alocação dos recursos do Pátria Pipe, que tem ainda como alvos importantes a construtora Tenda e a locadora de veículos Unidas. O portfólio completo inclui ainda três posições “satélites”, de percentual menor na carteira: Tecnisa, Centauro e Time for Fun (T4F).
O fundo tem patrimônio total de aproximadamente R$ 1,8 bilhão, na soma entre a carteira master e a feeder (que investe na principal). Quem conhece os produtos do Pátria comenta que, em média, a equipe do Pipe avalia detalhadamente cerca de 50 empresas por ano para então eleger um único investimento. O ano de 2020 foi, portanto, bastante diferente.
Desde a abertura em 2014, acumula um retorno médio de 32% ao ano. O desempenho equivale a ter multiplicado por seis o capital inicial. Quem colocou R$ 100 mil na largada, tem hoje cerca de R$ 650 mil. A carteira é uma das precursoras dos produtos para o varejo. Agora, a rentabilidade que virá, sobre os ativos selecionados na pandemia, será para lá de relevante para o sucesso do plano de se abrir cada vez ao varejo brasileiro — e crescer. Apesar de ter uma aplicação mínima de R$ 25 mil, o Pipe é direcionado a investidores qualificados (com mais de R$ 1 milhão disponível para aplicações), pois só é possível fazer resgates uma vez a cada ano.
Além de totalmente fora do normal para literalmente todo o mundo, 2020 vai ficar gravado na história da gestora por outros motivos. Marca o esforço de preparação para a listagem na Nasdaq, realizada logo em janeiro, em uma oferta pública inicial (IPO) de US$ 588 milhões. Desse total, US$ 326 milhões foram para o caixa e serão usados para expansão.
O investidor brasileiro está no centro da estratégia do planejado crescimento. O Pátria também quer capturar valor com o aprofundamento do mercado de capitais brasileiro e a maior sofisticação financeira da população, o tal financial deepening.
Atualmente, dos R$ 77 bilhões que o Pátria Investimentos tem sob gestão, menos de 10% vem de aplicadores locais. O plano é que esse percentual passe para algo entre 20% e 30% do total gerido dentro dos próximos cinco anos, o que significará crescer num ritmo mais acelerado no mercado local.
A estratégia para o varejo vai ser demonstrar que, com os produtos da casa, os investidores podem se aproveitar não apenas da experiência de atuação nas empresas que o Pátria tem — por meio da participação nos conselhos de administração — mas também das estratégias montadas para as grandes carteiras de private equity.
Já é o caso, inclusive, de duas das novas apostas do Pipe: o grupo Ultra, dono de marcas como Ipiranga e Ultragaz, e a Qualicorp. Ambas são grandes companhias e exigiriam uma concentração muito grande de recursos até que o Pipe, se estivesse sozinho, montasse uma posição relevante para participar da gestão do negócio. Dentro do Pátria, porém, podem se beneficiar da expertise da casa. É uma forma do investidor aproveitar um movimento grande de mercado que ele não teria acesso antes.
Entre os sonhos para futuro está, inclusive, a listagem do Pipe na bolsa — e até de outras carteiras. Na prática, além de ser uma bandeira para o varejo nacional, o fundo passaria a ter uma espécie de “acesso infinito a capital”. Todas as vezes que encontrasse uma oportunidade relevante, poderia captar com a emissão de novas cotas. Mas, ao que tudo indica não há nada prático nesse sentido em andamento, por enquanto.
A lista de novidades que devem surgir na casa promete ser grande e diversificada, com produtos como fundos imobiliários, carteiras de crédito privado. Pelo visto, 2021 vai continuar sendo um ano diferente.