Exame IN

O maior erro da Equatorial, segundo a Squadra – e o que isso significa para a aquisição de Sabesp

Uma máquina de gerar valor via M&As, companhia poderia ter passado sem um aumento de capital – e uma diluição relevante – para aquisição da Celpa

 (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket /Getty Images)

(Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket /Getty Images)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 19 de agosto de 2024 às 15h55.

Última atualização em 19 de agosto de 2024 às 15h56.

Quer entender a Equatorial?

Pergunte à Squadra, que está no capital há 16 anos, tem no papel a maior posição dos seus fundos e está sentada no conselho da companhia, que tem ampla atuação em energia elétrica e mais recentemente se tornou acionista de referência da Sabesp.

Numa carta aos cotistas publicada ontem à tarde, a gestora dedicou uma seção para analisar os 20 anos da empresa, que acumula uma das maiores altas da Bolsa nos últimos 14 anos, com retorno de 24,6% ao ano – e sem encerrar nenhum deles em queda. (Em outras palavras: quem colocou R$ 1 mil na empresa em 2010 e reinvestiu os dividendos tem hoje R$ 20,9 mil.)

No documento, a Squadra elencou o que julga ser o maior erro da história da Equatorial.

Não foi nenhuma das inúmeras aquisições, que a transformaram numa máquina de M&As e geração de valor especialmente na transformação de ativos estressados – ainda que a Squadra reconheça que a Echoenergia, de energia, adquirida em 2020, tenha saído caro demais.

“Curiosamente, o maior equívoco de alocação de capital, da nossa visão, foi a oferta primária feita pouco tempo após a aquisição da Celpa [em 2012]...”

Eles explicam o raciocínio:

“Em setembro de 2012, a Equatorial Energia fechou contrato para compra da distribuidora paraense de energia Celpa.

Em dezembro do mesmo ano, para financiar a aquisição, captou R$ 1,2 bilhão para seus cofres, através de um follow-on.

À época, o fundo de private equity investidor da empresa também vendeu parte de sua posição em uma tranche secundária.

O problema: a empresa ainda era uma small cap e o montante captado era muito vultoso em comparação à sua capitalização e mercado.

O agravante: a geração de valor com a aquisição de Celpa foi extremamente significativa e o preço das ações EQTL3 não refletia, nem de longe, o novo valor intrínseco da companhia.

O resultado: como a diluição foi relevante – o número de ações aumentou em 69% – e a preços baixos, o valor deixado na mesa para aqueles acionistas que não acompanharam a oferta foi substancial.

With the benefit of hindsight, a captação de recursos se mostrou provavelmente desnecessária. Com a rápida melhora dos resultados da Celpa, a Equatorial ficou desalavancada.

Caso não tivesse feito a oferta primária, a alavancagem combinada ao fim do ano de 2013 seria de 3,7 vezes dívida líquida/EBITDA, caindo para 2,6 vezes em 2014 com a evolução do turnaround. Administrável, dadas as características do negócio.”

Nas contas da Squadra, se não tivesse feito o aumento de capital e provocado uma diluição das ações, o retorno anual composto dos papéis sairia de 24,6% nos últimos 14 anos para 26,7%. Em vez de ter R$ 20,9 mil, quem investiu R$ 1 mil em 2010 teria R$ 26,3 mil.

A aquisição da Sabesp não foi mencionada no raciocínio e hoje a Equatorial é uma empresa muito maior, com muito mais ativos no portfólio, e um valor de mercado de R$ 40 bilhões, que a posiciona entre as grandes da Bolsa.

Mas a lógica por trás do pensamento permite entender por que a companhia provavelmente não deve se financiar com uma emissão de ações relevante para digerir a transação, que vai demandar pelo menos R$ 7 bilhões pela fatia de 15% que está amarrada com o Estado de São Paulo via acordo de acionistas.

Extrapolando o contexto, ao que tudo indica, a Squadra não quer que o erro de Celpa se repita.

“Em nossa participação no conselho e no comitê de novos negócios, quando avaliamos potenciais aquisições, somos refratários, via de regra, a emissões relevantes de ações.

Como discutimos anteriormente, é difícil estimar, ex-ante, o valor intrínseco da companhia. Suas ações são preciosas. Em alguns momentos, obviamente, faz-se necessário recorrer a aumentos de capital para preservar a saúde financeira da companhia.

Nesses casos, como diretriz que defendemos, o spread de retorno da aquisição comparado ao implícito nas ações de EQTL3 deve ser considerável e a diluição, preferencialmente, pequena frente à capitalização de mercado da empresa.”

Na semana passada, a Equatorial anunciou um aumento de capital privado pequeno, de R$ 2 bilhões, para ajudar a desalavancagem.

E tem sinalizado ao mercado que tem diversas alternativas para ajudar a fazer a digestão da companhia de saneamento, como a venda de ativos já mais maduros para reciclar capital.

Desde que se consagrou vencedora na privatização da Sabesp, no fim de junho, os papéis da companhia sobem cerca de 13%.

Acompanhe tudo sobre:SaneamentoGestores de fundosEquatorialSabespMercadosEmpresas

Mais de Exame IN

Petrobras: mais um banco se rende à tese de que capex não vai prejudicar dividendos

Rede de estudantes arrecada R$ 3 mi para brasileiros com ambição de mudar o mundo — e até o espaço

Alta de juros, alta da Bolsa? Para o BofA, é mais fácil falar do que acontecer

Exclusivo: Stone coloca Linx à venda; saiba os interessados