Bandeiras de Hong Kong e da China: Índice Hang Seng acumula valorização de 20% neste ano (Peter Parks/AFP)
Editora do EXAME IN
Publicado em 11 de março de 2025 às 11h21.
Última atualização em 11 de março de 2025 às 11h22.
Era um cenário que parecia muito pouco provável um mês atrás.
Mas, em mais um sinal de rotação de bolsa americana para outras geografias, o Citi rebaixou sua recomendação para ações nos Estados Unidos para “neutra” e passou a dar compra para o mercado acionário chinês.
“Nossa visão é que o excepcionalismo americano está pelo menos sendo colocado em pausa”, escreveu a equipe de estratégia do banco, que mantinha uma visão otimista para equities nos Estados Unidos desde outubro de 2023.
Por enquanto, trata-se de uma visão mais tática, para um período de três a seis meses, do que um call estrutural.
Para o Citi, os Estados Unidos devem continuar a ser líderes no mercado de inteligência artificial, que ainda tem bastante crescimento a entregar, num crescimento em conjunto – e não em contraposição – com a China. “Mas esse é um call para o longo prazo, não para os próximos meses.”
No horizonte mais curto, o banco acredita que os dados da economia americana devem seguir fracos e desempenhando abaixo do resto do mundo – o que deve pesar sobre ativos de maior risco nos Estados Unidos.
O banco vinha ressabiado com a economia americana nas últimas semanas, principalmente depois dos dados de criação de empregos na última sexta-feira, que trouxeram números abaixo do esperado. “Mas não queríamos queimar a largada”, ponderaram os estrategistas.
Nesse sentido, dois movimentos nos últimos pregões foram cruciais para reforçar a tese mais pessimista.
O primeiro deles foi a perda do suporte da média móvel de 200 dias no S&P 500 – um indicador técnico relevante para traders e para os mercados.
Normalmente, quando um índice rompe esse limiar e não consegue se recuperar de volta, há uma indicação de correção maior à frente.
Outro sinal foi a queda de quatro das Magnificent 7 – as principais ações de tecnologia – por pelo menos cinco dias seguidos. “Durante períodos de bolha, isso é um sinal de alarme”, apontaram os estrategistas do banco.
O maior otimismo com o mercado chinês, por sua vez, vem principalmente da tese de tecnologia.
“A DeepSeek provou que a China está na fronteira da tecnologia ocidental (ou além dela), apesar dos controles de exportação”, disse o banco, trazendo ainda os lançamentos recentes da Tencent e do Alibaba como exemplos de novos avanços. (Ontem, o JP Morgan também reforçou sua visão positiva para as ações chinesas.)
O fato de o presidente Xi Jinping estar mais próximo do setor de tecnologia, dado apoio às iniciativas de IA, e principalmente o preço descontado dos papéis de tech no mercado chinês, também dão reforço à tese.
Sobre as tarifas, o Citi reconhece o risco, mas acredita que ele não é tão relevante. A perspectiva do banco é que ainda possa haver negociações entre a China e os Estados Unidos. Mas mesmo que as tarifas sejam implementadas, o impacto na economia não seria assim tão preocupante.
“O fato é que as tarifas sobre a China já aumentaram em 20% e tiveram um impacto limitado sobre o mercado”, afirmam os analistas.