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O império do brócolis: Grano, líder em vegetais congelados, faz aquisição e mira faturar R$ 600 mi

Companhia adquiriu a Gerônimo, que fabrica petiscos à base de plantas - aquisição vem em seguida da compra da Mr. Veggy, de hambúrgueres vegetarianos

Grano: maior compradora de brócolis do Brasil mira margem maior com novas aquisições (Getty Images/Getty Images)

Grano: maior compradora de brócolis do Brasil mira margem maior com novas aquisições (Getty Images/Getty Images)

Karina Souza
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 17 de junho de 2023 às 12h08.

Última atualização em 13 de dezembro de 2023 às 19h34.

Comprar vegetais congelados é rotina para apenas uma pequena parte de brasileiros -- precisamente, de 1,5% da população. Nos Estados Unidos, por exemplo, essa porcentagem é de 94%. O que impede o crescimento por aqui? “É uma história do ‘ovo ou da galinha’. Nunca houve uma produção em larga escala de vegetais congelados no Brasil e nós estamos dispostos a incentivar esse consumo. Dobramos a capacidade em 2020 e em 2026 vamos expandir novamente”, diz Fernando Giansante, CEO da Grano, maior fabricante de vegetais congelados do Brasil, em entrevista ao EXAME IN.

No caminho para essa expansão, a companhia traça uma rota de maior valor agregado e de diversificação de produtos desde o ano passado, um movimento que ganha mais um passo com a aquisição da Gerônimo, empresa que fabrica petiscos à base de plantas. A compra, sem valor revelado, é a segunda desde 2022. A primeira foi a da Mr. Veggy, de hambúrgueres vegetarianos. Apesar de não ter a cifra final sobre a aquisição divulgada, Giansante esclarece alguns pontos da aquisição: foi feita com troca de ações e dinheiro, com os fundadores da Gerônimo assumindo cargos executivos na Grano. 

As etapas mais recentes de crescimento inorgânico são fruto de uma estratégia conduzida pelo menos desde 2015, quando o controle  foi vendido à gestora de private equity Arlon, que usa recursos da Continental Grain e do Rabobank para investir em pequenas e médias empresas. Fundada há 23 anos, a Grano passou por intensas mudanças nos últimos oito, que incluíram até mesmo a chegada do atual CEO, Fernando Giansante. Na empresa desde 2018, o executivo presenciou boa parte do crescimento recente da companhia: de 2019 para cá, a Grano teve um crescimento médio composto (CAGR) de 25%, faturando cerca de R$ 300 milhões no último ano. Com os novos produtos no portfólio, a ideia é colocar o pé no acelerador e dobrar esse montante em 2025.

A Gerônimo, nesse contexto, contribui ao trazer um novo mercado já maduro para o portfólio de forma eficiente. Hoje, além de produzir seus produtos de marca própria, ainda tem contratos com grandes varejistas, sendo responsável por itens da linha Taeq do Pão de Açúcar e da Carrefour Veggie. É uma lógica parecida com a do trabalho da empresa-mãe, que também disponibiliza produtos sob o próprio rótulo e também atua como fornecedora para grandes marcas como Seara e Sadia.

É um mercado cobiçado e em ascensão. Não custa lembrar que, há cerca de um mês, a JBS anunciou que vai reforçar a atuação da Incrível, marca de plant-based lançada em 2020, de olho em ir além do hambúrguer vegetal“Dentro do conceito de alimentação prática e sustentável, nós nos apegamos ao conceito de que, se é ‘clean’, vamos trazer para dentro de casa. Com essa compra, trazemos mais escala para dentro de casa, sem falar na integração dos insumos produzidos pela Grano e que passarão a ser usados pela Gerônimo”, diz o CEO.

Além da rota inorgânica de crescimento, a companhia também investe em pesquisa e desenvolvimento, de olho em capturar novas oportunidades de consumo – um exemplo seria investir em brócolis empanado congelado. Tudo que possa atender ao setor de serviços de alimentos interessa à Grano. É esse o principal público-alvo atendido, hoje, sem qualquer intenção de que seja alterado ao longo dos próximos anos.

Hoje, a Grano pode chegar, por exemplo, às redes de food service com atendimento exclusivo e contando com uma cozinha experimental para desenvolvimento de produtos e receitas, atuando como um consultor especializado em vegetais para a criação de soluções sob medida para cada operação.

Olhar para o food service não é uma exclusividade da Grano. A McCain, uma das principais empresas de batata congelada no mundo, também investe no segmento como forma de fazer o Brasil responder por uma parte maior do faturamento global da multinacional. Hoje, o país é responsável por US$ 200 milhões dos R$ 10 bi totais

No caso da Grano, a liderança no setor de vegetais congelados (excluindo batata) já está estabelecida há mais de dez anos. Mesmo na pandemia, um susto para todo o setor de serviços, Giansante afirma que conseguiu manter vendas, tanto no supermercado quanto no atacarejo, diante do interesse da população por uma alimentação mais saudável. 

Hoje, a empresa responde por 41% do setor em que atua, a venda de brócolis, couve-flor, ervilha e mix de vegetais, com mais de 200 variações entre eles. Os demais 59% do mercado estão distribuídos entre outros cinco players — os primeiros colocados, entre os concorrentes, concentram, juntos, 30% do mercado. 

Para manter a posição conquistada, a companhia se vale da eficiência que a escala proporciona e do relacionamento com os produtores de hortaliças. Ao todo, trata-se de uma rede de 250 parceiros agrícolas, localizados principalmente no sul do país, próximos à fábrica.

É uma relação que vai muito além da simples compra de vegetais. A Grano contrata profissionais especializados para fazer as mudas das plantas, depois as distribui para os produtores, se encarrega de orientá-los a respeito do uso de defensivos agrícolas e, posteriormente, compra deles as hortaliças. Do momento em que o produto é colhido até chegar à fábrica da empresa, são apenas seis horas de diferença. 

Esse conjunto de experiência com relacionamento é o que permite continuar operando e, principalmente, ajudar a garantir um preço mais baixo dos produtos que comercializa em relação aos ‘in natura’. Nas contas da Grano, hoje, um brócolis congelado é até 40% mais barato do que o natural. Se o preço é um chamariz, um fator que puxa para trás a demanda é a falta de conhecimento sobre o fato de que esses vegetais preservam os mesmos nutrientes daqueles comercializados na feira. “É uma barreira, mas não bloqueia nosso crescimento”, diz o CEO.

Enquanto busca ganhar mercado no Brasil com os produtos tradicionais (e os recém-incorporados ao portfólio), a Grano também mira outras regiões, mais adaptadas ao consumo de vegetais congelados. Hoje, segundo dados compilados pela plataforma alemã Statista, o mercado é de US$ 246 bilhões, com uma expectativa de crescimento composto anual de 6,60% até 2028. O maior mercado consumidor, globalmente, é a China.

De olho em cumprir essa tarefa, a Grano obteve recentemente uma certificação pela maior certificadora britânica para segurança alimentar. Como resultado desse processo, a partir deste mês, a empresa recebe o selo e será uma das poucas, no Brasil, a acessar mercados como o norte-americano, que exigem esse tipo de comprovação para vender localmente. É um passo a ser seguido também com Gerônimo e com Mr. Veggie: alinhar políticas e operações com processos para que isso possa ser visto lá fora. Hoje, os Estados Unidos geram um faturamento de US$ 30,3 bilhões, segundo o Statista, nesse segmento. 

Do brócolis congelado ao hambúrguer vegetariano, a Grano quer mostrar que pode atender a todo tipo de público com a experiência de quem domina o assunto há duas décadas. Crescer mais, com margem melhor, é o que a companhia quer fazer daqui para frente.

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