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O gigante não adormeceu: Rede D'Or eleva participação na Qualicorp a 15%

Após IPO, companhia volta a comprar ações da empresa de venda de planos de saúde

Saúde: Rede D'Or busca reação ao crescimento do modelo verticalizado de Hapvida e NotreDame Intermédica (Jean-Sebastien Evrard/AFP)

Saúde: Rede D'Or busca reação ao crescimento do modelo verticalizado de Hapvida e NotreDame Intermédica (Jean-Sebastien Evrard/AFP)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 5 de fevereiro de 2021 às 10h50.

Última atualização em 5 de fevereiro de 2021 às 11h07.

Para quem achou que a Rede D’Or tinha desistido da Qualicorp, um recado: não é bem assim. A empresa de venda de planos de saúde acaba de anunciar que a Rede D’Or elevou seu investimento e atingiu 15% do capital. A fatia anterior estava em 13,5%. A compra foi da ordem de R$ 150 milhões. Não é uma fortuna, para quem acaba de levantar R$ 8,4 bilhões em um das maiores ofertas iniciais já feitas na B3, mas não deixa de ser uma mensagem.

A entrada da Rede D’Or no capital da Qualicorp, que hoje vale quase R$ 9 bilhões na bolsa, começou em 2019, com a aquisição da participação do fundador, José Seripieri Filho, conhecido como Júnior. A informação vem no momento da  formação de uma gigante nacional no setor de saúde, com operação verticalizada: Hapvida e Grupo NotreDame Intermédica (GNDI) estão negociando os termos finais de uma fusão. Juntas, as empresas terão  cerca de 20% do mercado de planos de saúde — que é de 45 milhões de vidas, no total nacional, estagnado há uma década nesse patamar.

O modelo verticalizado tem se mostrado um sucesso em termos de posicionamento de mercado, com preços muito mais acessíveis — possíveis graças a uma atuação integrada que controla fortemente custos e acesso dos pacientes. Enquanto nessa estrutura o tíquete de entrada é da ordem de R$ 200 ao mês, nos demais planos, esse valor não começa antes de R$ 500.

Com um plano de expansão agressivo, que só com projetos orgânicos pode levar a Rede D’Or dobrar a capacidade de leitos, sem contar as diversas aquisições, a empresa precisa encontrar uma forma de fazer o mercado de saúde privada voltar a crescer. Ou, no mínimo, participar de um redesenho que possa levar mais clientes aos seus hospitais.

Quem também está com apetite pelo setor e pela Qualicorp é a gestora Pátria Investimentos. Em setembro, a casa adquiriu 5% do negócio e, em dezembro, já tinha dobrado a posição para mais de 10%. Opportunity é outra gestora que voltou seu olhar para a empresa e montou uma participação de quase 6%.

Impossível não notar ainda que a Rede D'Or, da família Moll, voltou às compras de ações da Qualicorp após o Júnior comunicar que fechou seu acordo de colaboração premiada com as autoridades do país, o que ajuda a reduzir qualquer risco maior para a empresa.

Enquanto as companhias verticalizadas crescem, vem pipocando aqui e ali, com grande intensidade, modelos de clínicas de primeiro atendimento com uma estrutura tão organizada que elas podem se tornar substitutos para os planos individuais – cada dia mais caros e inacessíveis. A Qualicorp praticamente inventou essa estrutura de planos por associações, conseguindo inclusive que o modelo fosse aceito pela Agência Nacional de Saúde (ANS).

E para falar da necessidade de movimentação da Rede D'Or na ponta do consumidor, no fim do ano passado, a Qualicorp ampliou a parceria comercial com a NotreDame Intermédica, justamente para oferecer esse sistema de planos coletivos e associações.

Nas clínicas de primeiro atendimento, o funcionamento se dá de forma diferente. Os pacientes têm uma espécie de médico de família dedicado. Conseguem facilmente contato com ele e sua equipe de enfermeiros — essa é a promessa.

Os clínicos são capazes de resolver entre 90% e 95% dos problemas de saúde que levam as pessoas aos pronto-atendimentos. Dali, seguem para um atendimento especializado apenas se houver real necessidade. O mesmo vale para exames laboratoriais.

O que esse modelo promete de diferente — que pode funcionar como controle de custos para operadoras que trabalham com as redes de hospitais do topo da pirâmide, caso da Rede D’Or — é também uma centralização dos cuidados e do histórico médico. Os clínicos apenas enviam os pacientes para parceiros, ou seja, hospitais e clínicas de diagnóstico que aceitem compartilhar as informações dos pacientes e até a discussão do caso.

Muitas dessas clínicas, que nasceram para atuar em parceria com planos de saúde, agora estão se estruturando para fazer toda a gestão de planos menores. Então, é como se a operadora só formatasse e vendesse o produto — e ficasse ainda com toda a burocracia de regulação ANS, mais agências reguladoras outras, como Susep e afins. A estrutura de remuneração dessa cadeia é totalmente diversa da que impera hoje, por uso.

Há pouca dúvida que o setor está em transformação. A própria movimentação das placas tectônicas — com IPO da Rede D'Or e fusão entre Hapvida e NotreDame Intermédica — apontam nessa direção. Mas, por enquanto, ainda não está totalmente claro como o ecossistema ao redor vai se ajustar a isso. A Rede D'Or, que estrou na B3 em dezembro avaliada em R$ 115 bilhões, já vale agora R$ 145 bilhões e a soma das duas verticalizadas hoje equivale a quase R$ 130 bilhões. Esse é o tamanho da força das mudanças.

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