Ibovespa: mercado local não está tão otimista com a Bolsa quanto estrangeiro (Germano Lüders/Exame)
Repórter de finanças
Publicado em 28 de maio de 2025 às 12h40.
Última atualização em 28 de maio de 2025 às 12h43.
Se o gringo está otimista com o Ibovespa, com o fluxo estrangeiro puxando o índice para recordes nominais, o local está reforçando a cautela.
Uma pesquisa de sentimento feita pelo BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) com o buy side mostra que os gestores ainda veem espaço para valorização da bolsa: 43% dos consultados projetam uma faixa entre 140 mil e 150 mil pontos. Em abril, esse número era de 36%.
Alguns (25%) ainda acreditam que pode ultrapassar os 150 mil pontos – uma visão bem mais cética do que a de estrategistas de casas internacionais, como o Morgan Stanley, que vê o índice chegando a 190 mil pontos em doze meses.
Mas, mesmo visualizando um espaço para subir, “alguns estão ficando desconfortáveis com a velocidade da recente alta”, afirma o relatório assinado por Leonardo Correa e equipe.
O próprio banco adverte que a maior parte dos respondentes é formada por investidores domésticos, o que confere à pesquisa uma boa leitura do humor local.
A pesquisa mostra que 35% dos gestores já pensam em reduzir exposição – uma mudança drástica em relação aos 12% que tinham essa intenção no mês anterior. Já 46% dos respondentes preferem manter suas posições estáveis, contra 37% no mês passado.
Embora o valuation ainda seja considerado atrativo, o forte desempenho do índice no ano já começa a mudar a percepção.
Segundo a pesquisa, 35% dos gestores vêem o mercado como adequadamente precificado, versus 26% em abril. Já o número de gestores com visão neutra sobre o Ibovespa também subiu de 35% para 43%.
"Percebemos que diversos clientes estão aguardando uma correção para aumentar o risco”, pontuam.
Para 51% dos gestores, as eleições de 2026 continuam sendo o tema local dominante. A preocupação, contudo, vem perdendo ímpeto: no mês de abril, esse número era de 64%. As preocupações fiscais aparecem em segundo lugar, e aumentaram drasticamente, sendo mencionadas por 33% (ante 20%).
Já para 54%, as preocupações globais são relacionadas ao cenário para os juros nos EUA, “indicando uma mudança clara de prioridade, já que as tarifas de Trump foram o tema dominante no mês anterior”, explica o estudo.
De acordo com o estudo, as escolhas para compra de ações mostram que há um aumento na exposição a setores cíclicos, o que indica uma rotação do portfólio em curso.
O setor mais popular nas carteiras segue sendo utilities, mais defensivo e um setor tradicionalmente dominante nas carteiras locais. Mas há uma redução na fatia.
Em maio, 27% dos gestores estavam posicionados no setor, ante 39% do mês de abril. Na segunda colocação, aparece real estate, com 21% dos votos, seguido por financeiro (17%) e varejo (14%). Esses três últimos setores se posicionam como ganhadores num cenário de fim de ciclo de aperto das taxas de juros.
Já nas posições vendidas, commodities seguem na liderança como o setor “menos atrativo” ou “fora de moda”, com 29% dos votos (acima dos 28% anteriores), seguido por petróleo e gás e educação (ambos com 11% dos votos).
Entre as posições individuais preferidas, despontam Sabesp (SBSP3), Itaú (ITUB4) e Vivara (VIVA3).
Já entre as mais vendidas, aparecem Ambev (ABEV3), Vale (VALE3) e Banco do Brasil (BBAS3).
Cosan (CSAN3), Tenda (TEND3) e Ecorodovias (ECOR3) foram apontadas como apostas fora do consenso, com maior risco, mas potencial de retorno elevado.
Vale lembrar que, enquanto o investidor estrangeiro lidera o rali da bolsa, o investidor brasileiro segue na mínima histórica de alocação de equities, em meio aos vultosos resgates na indústria.
Os fundos de ações registraram resgates de R$ 9 bilhões em abril e já acumulam saídas de R$ 35 bilhões no ano, um patamar bem acima dos R$ 10 bilhões de saques registrados em todo o ano de 2024.
Mesmo os fundos multimercado, que haviam mostrado alguma retomada, voltaram a perder recursos: R$ 23 bilhões em abril, em linha com a tendência de resgates observada nos últimos dois anos. No total, a indústria de fundos brasileira viu saídas líquidas de R$ 68 bilhões no mês e R$ 91 bilhões no acumulado de 2025.
A alocação em ações dentro dos fundos atingiu a mínima histórica de 7,5% em abril, bem abaixo da média de 11,5%. Nas contas do JP Morgan, se houvesse um movimento de retorno à média, o potencial de entrada na bolsa seria de até R$ 47 bilhões.
Nesse sentido, ao que tudo indica, o fluxo para bolsa por ora ainda vai continuar dependendo do humor estrangeiro.