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O contrato de US$ 38 bi que afastou ainda mais a OpenAI da Microsoft

Acordo de sete anos com a AWS marca o reposicionamento estratégico da criadora do ChatGPT e reabre a disputa entre as grandes nuvens globais

Sam Altman, presidente-executivo da OpenAI, e Satya Nadella, CEO da Microsoft, durante conferência em Seattle: parceria reformulada encerra exclusividade entre as empresas e abre caminho para o novo acordo bilionário da OpenAI com a Amazon.

Sam Altman, presidente-executivo da OpenAI, e Satya Nadella, CEO da Microsoft, durante conferência em Seattle: parceria reformulada encerra exclusividade entre as empresas e abre caminho para o novo acordo bilionário da OpenAI com a Amazon.

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 3 de novembro de 2025 às 16h50.

Última atualização em 3 de novembro de 2025 às 17h07.

A OpenAI deu o passo mais simbólico desde o lançamento do ChatGPT ao firmar um contrato de US$ 38 bilhões com a Amazon Web Services (AWS) — o primeiro entre as duas empresas e o movimento que encerra oficialmente o capítulo de exclusividade na parte mais robusta de tecnologia que a startup mantinha com a Microsoft desde 2019.

O acordo de sete anos dá à OpenAI acesso imediato à infraestrutura da AWS e a centenas de milhares de chips da Nvidia, usados tanto no treinamento de novos modelos quanto no processamento das consultas do ChatGPT. A Amazon deve liberar toda a capacidade prevista até o fim de 2026, num acerto que vem acompanhado de uma reorganização mais ampla da própria estrutura societária da OpenAI.

A companhia transformou sua operação em uma public benefit corporation, modelo que mantém o controle sob um conselho sem fins lucrativos, mas permite a exploração comercial direta de suas tecnologias. O novo arranjo foi aprovado pelos procuradores-gerais de Delaware e da Califórnia, destravando uma negociação que se arrastava há mais de um ano.

Para o mercado, a sequência dos anúncios tem um significado claro: a OpenAI deixou de ser um laboratório dependente de um único parceiro e passou a operar como uma empresa de capital intensivo que arbitra entre provedores de nuvem, fornecedores de chips e investidores. O movimento, segundo analistas, inaugura uma nova fase de independência operacional da companhia — e um novo equilíbrio entre as big techs que disputam o futuro da inteligência artificial.

“Escalar a IA de fronteira exige computação massiva e confiável”, afirmou o presidente-executivo Sam Altman, em anúncio ao mercado sobre a parceria. “Nossa colaboração com a AWS fortalece o ecossistema que impulsionará essa nova era e tornará a IA avançada acessível a todos.”

O comentário veio poucos dias após a empresa revisar os termos de seu acordo com a Microsoft. A renegociação, iniciada no começo de 2025, já havia encerrado tecnicamente a exclusividade que dava à Microsoft controle sobre a infraestrutura de computação da OpenAI, transformando a antiga parceria em um contrato de preferência. Com o novo pacto, essa relação se formaliza como não exclusiva, e a startup consolida sua liberdade para contratar múltiplos provedores.

O grupo de Redmond permanece como um dos principais acionistas, com 27% do capital da OpenAI reorganizada, e mantém direitos comerciais sobre produtos “pós-AGI”, a chamada inteligência artificial geral, válidos até 2032, além de acesso limitado a certas pesquisas até 2030.

Com o novo arranjo, a OpenAI passa a distribuir suas cargas entre múltiplos provedores. Além da AWS, mantém compromissos de US$ 300 bilhões com a Oracle, US$ 250 bilhões com a Microsoft Azure e acordos com Google e Broadcom. Ao todo, a empresa acumula cerca de US$ 600 bilhões em obrigações de nuvem, numa escalada que a coloca no centro de um ecossistema trilionário em torno da IA generativa.

A Amazon, por sua vez, reforça sua posição num momento de cobrança intensa de investidores. Apesar de liderar o mercado de computação em nuvem, sua taxa de crescimento vinha ficando atrás de Microsoft e Google. As ações da companhia subiram 5% após o anúncio, sinal de que o mercado interpretou o acordo como um gesto de força.

Para o CEO da Microsoft Satya Nadella, desde março o afastamento da OpenAI já era percebido. Para tal, a Microsoft acelerou a criação de sua família de modelos próprios, como o Phi-4 e a linha MAI (Microsoft Artificial Intelligence), projetados para competir diretamente com os modelos da OpenAI e de outros concorrentes relevantes, como a Anthropic. A companhia também iniciou movimentações para adquirir soluções de concorrentes da OpenAI, como a própria Anthropic.

Fim da dependência e preparação para o mercado

A reestruturação societária e o fim da exclusividade com a Microsoft são vistos como pré-condições para o próximo passo da OpenAI: um possível IPO. Altman admitiu, em teleconferência com investidores, que “o caminho mais provável” para a companhia é abrir capital, dado o volume de recursos necessário para financiar sua expansão global.

A nova configuração também tenta equilibrar o controle da tecnologia e o cumprimento da missão original da organização. O conselho sem fins lucrativos — agora batizado de OpenAI Foundation — continuará tendo poder para suspender lançamentos e fiscalizar riscos de segurança. A fundação pretende ainda destinar US$ 25 bilhões a projetos de saúde e cibersegurança, como forma de manter o vínculo com a promessa de fundação: “IA feita em benefício da humanidade”.

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