Casas Bahia: Conversão de R$ 1,6 bi é mais que cinco vezes o valor de mercado da companhia (Casas Bahia/Divulgação)
Editora do EXAME IN
Publicado em 7 de agosto de 2025 às 16h49.
Última atualização em 7 de agosto de 2025 às 16h50.
Após a conversão de R$ 1,6 bilhão de dívidas em ações, a Mapa Capital vai ficar com 85,5% das Casas Bahia – mas não deve ter o controle sob o conselho. A gestora vai ter três assentos no colegiado da varejista, de um total de sete. Hoje, o colegiado é formado por cinco membros e deve ser acrescido de duas cadeiras.
O acordo prevê que Renato Carvalho, hoje chairman, permaneça na presidência, apurou o INSIGHT. As mudanças não devem ser radicais: os outros três assentos serão preenchidos por membros que já estão no conselho, com apenas uma saída, já acordada.
Fundada em 2013 por ex-executivos do Itaú BBA, a Mapa Capital se define como uma gestora de “gestão de participações” e “capital solutions" e assumiu a dívida referente a debêntures que pertenciam ao Banco do Brasil e ao Bradesco. Não está claro qual o acordo entre a Mapa e os bancos, mas a gestora vai ficar responsável pela condução do negócio e por carregá-lo no balanço – apostando na valorização dos papéis no longo prazo.
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De acordo com os interlocutores ouvidos pela reportagem, a intenção da Mapa é permanecer na companhia e não vender os papéis. A gestora vem destacando nos documentos regulatórios que "apoia a gestão" das Casas Bahia.
A mensagem é de continuidade. Um dos efeitos da conversão é dar mais estabilidade a uma base acionária antes frágil, sem controle definido e de baixo valor de mercado, que vinha sendo alvo de investidores tentando formar posições relevantes na companhia, entre eles o filho do fundador Michel Klein, que ensaiou uma volta à companhia adquirindo ações em mercado no começo deste ano.
A Mapa se comprometeu com uma estratégia de lock-up gradativo de 16 meses, com gatilhos trimestrais que totalizariam uma liberação total de venda após esse período – o que foi interpretado pelo mercado como um sinal de que haveria saídas parciais casando com esses períodos.
O relacionamento, no entanto, deve ser de mais longo prazo. “Até porque o destravamento do valor em equity vai ser uma construção”, aponta uma das fontes.
“É mais uma janela para permitir capturar saída caso haja valorização. Mas o mercado entendeu a mensagem errada.”
Apesar do balanço apertado, as Casas Bahia tinham uma vantagem em relação a outras empresas em dificuldade, que era a concentração de dívidas com poucos credores, em especial o Banco do Brasil e o Bradesco (a maior parte com esse último).
Os bancos vêm apoiando os planos de reestruturação financeira e operacional da companhia. Em abril do ano passado, já tinham reperfilado mais de R$ 4 bilhões em dívida, dando um fôlego importante a varejista.
A conversão de dívida em equity traz uma diluição brutal para a base acionária: o valor de mercado da companhia antes da conversão é de menos de R$ 300 milhões.
Mas tira um peso que vinha emperrando a recuperação operacional da companhia.
A primeira economia, e mais óbvia, é com o serviço da dívida da fatia que foi convertida, de R$ 230 milhões ao ano.
Outro efeito menos evidente, mas mais relevante, é o fôlego que se abre para a operação. Nos últimos anos, a empresa vinha com dificuldade de alongar os pagamentos a fornecedores, por exemplo, porque acabou perdendo linhas com seguradoras que garantiam esses pagamentos a prazo.
Esse limite que era de R$ 8 bilhões, caiu para R$ 4 bilhões mais recentemente. Na ausência das linhas de crédito, a varejista recorreu mais a operações de risco sacado junto aos bancos, em que os juros chegam a girar entre 2% e 2,5% ao mês. A ideia é que, conforme essas linhas forem voltando, abra-se mais espaço de respiro para a companhia.