Santiago Sosa, presidente e cofundador da Nuvemshop: empresa tem mais de 90.000 lojistas clientes na América Latina (Nuvemshop/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 17 de agosto de 2021 às 06h00.
Última atualização em 17 de agosto de 2021 às 08h49.
Há um novo unicórnio na América Latina: a startup de e-commerce Nuvemshop, criada na Argentina e radicada no Brasil, acaba de ser avaliada em R$ 16 bilhões (US$3,1 bilhões) em uma rodada série E, na qual captou cerca de R$ 2,6 bilhões (US$ 500 milhões). Para além do valuation expressivo, o investimento na empresa chama a atenção por sua rapidez: faz apenas cinco meses que a companhia levantou R$ 500 milhões em sua série D. Antes disso, em outubro do ano passado, havia captado outros US$ 30 milhões.
A nova rodada foi coliderada pelos fundos Insight Partners (Twitter, Alibaba) e Tiger Global Management (Spotify, Uber), mas teve também a participação da Alkeon, da Owl Rock, da Sunley House Capital (Advent) e da VMG Partners. Investidores anteriores da companhia, como Accel, Kaszek, Kevin Efrusy, Qualcomm Ventures LLC e ThornTree Capital, também participaram.
Fundada em 2011 por Santiago Sosa, Alejandro Alfonso, Martín Palombo e Alejandro Vásquez, a empresa oferece a pequenos e médios lojistas um caminho fácil para começar a vender online, fornecendo desde infraestrutura para o site até a conexão com meios de pagamento e empresas de logística.
Desde que a crise da covid-19 começou em março do ano passado, a procura pelos serviços da startup explodiu. De janeiro a dezembro de 2020, a empresa passou de 25.000 lojistas clientes para mais de 70.000. Hoje, já são mais de 90.000 clientes em toda a América Latina usando seus serviços — Brasil e Argentina são os principais mercados, mas a companhia atua também no México.
As boas métricas de crescimento da empresa atraíram o olhar de fundos em busca de boas oportunidades no comércio eletrônico na América Latina. A região é onde o e-commerce cresce mais rápido no mundo — a média é de 37% ao ano, contra 32% da América do Norte e 26% da Ásia-Pacífico. Por aqui, há mais de 650 milhões de consumidores e muito espaço para a expansão, já que a penetração das vendas online no varejo é estimada em 6% segundo a consultoria Euromonitor.
“Quando anunciamos o series D em março, achamos que o interesse dos fundos iria parar, já que estávamos bem capitalizados. Mas não foi isso que aconteceu: continuamos a receber investidores batendo na nossa porta semanalmente”, diz ao EXAME IN Santiago Sosa, fundador e presidente da Nuvemshop.
Com tanto capital disponível, a startup decidiu fazer uma nova rodada de investimento para investir na infraestrutura do negócio. “Ter dinheiro demais pode ser perigoso se ele não for devida e responsavelmente gerenciado”, diz o fundador. Segundo ele, o plano não é aumentar os gastos de marketing para atrair clientes no curto prazo, mas sim criar os pilares que poderão sustentar o negócio na próxima década. Além disso, os novos sócios americanos da empresa poderão ajudá-la em uma eventual abertura de capital nos Estados Unidos.
“Ao oferecer sua plataforma desenvolvida especificamente para a América Latina, a Nuvemshop está posicionada de maneira única para continuar a liderar a transformação digital. Estamos entusiasmados em fazer parte deste novo capítulo de crescimento”, diz Matt Gatto, sócio da Insight Partners.
John Curtius, sócio da Tiger Global Management, complementa: “A Nuvemshop não só tem a tecnologia e os serviços que as empresas latino-americanas exigem, mas também a compreensão das particularidades que levarão seus clientes ao sucesso de mercado. A empresa está lançando a base da infraestrutura de comércio eletrônico para a próxima década”.
A estratégia da Nuvemshop desde a série C, em outubro do ano passado, essencialmente não mudou. A empresa projetou seus planos de crescimento em cima de três pilares: expandir o suporte aos lojistas (especialmente com finanças e logística), fortalecer o ecossistema de empresas parceiras e entrar em outros países da América Latina — a meta é expandir para Peru, Chile e Colombia a partir do ano que vem.
Os US$ 500 milhões a mais na conta mudam somente o nível de sofisticação dos planos e a velocidade de execução deles. "A Nuvemshop foi muito paciente, cresceu na medida em que o mercado se ampliava. Mas agora perceberam que com capital podem impulsionar o e-commerce da região na direção certa, oferecendo plataformas financeiras e de logística melhores, assim como Mercado Livre e Amazon fazem", diz Ethan Choi, sócio da Accel.
Sosa não abre muitos detalhes sobre o que se pode esperar em termos de novos produtos de finanças e logística, mas garante que pelo menos uma nova solução de meios de pagamento está sendo testada e deve ser lançada nos próximos meses. Já na frente de logística, a companhia estuda adquirir outras empresas para conseguir oferecer aos lojistas a possibilidade de entregas mais rápidas e eficientes.
Para além dessas duas frentes, há uma série de outros serviços úteis para os lojistas que a startup nem sonha em desenvolver. Há alguns anos, ela decidiu abrir sua plataforma para que outras empresas possam criar produtos para sua base de clientes — hoje são mais de 200 empresas parceiras, que oferecem serviços desde a elaboração de kits no site até entregas no last mile.
"Assim como a Apple permitiu a criação de dezenas de aplicativos para smartphones, gostamos de pensar na Nuvemshop como o sistema operacional do varejo", diz o presidente. Segundo ele, a corrida pela digitalização das pequenas empresas na América Latina será ganha não por quem chegar primeiro aos lojistas, mas sim pela empresa que construir o melhor ecossistema de soluções.
O desafio nesse cenário é conseguir vencer a guerra por talento que acontece em toda a região, especialmente nas áreas de tecnologia e produto. Hoje, a Nuvemshop emprega 600 pessoas, mas deve terminar o ano com cerca de 900. "Devemos crescer no mesmo ritmo pelos próximos 5 anos, então não é impossível pensar na companhia com 5.000 funcionários daqui a um tempo. Mas para isso funcionar, precisamos investir em pessoas e descobrir caminhos para manter a cultura do negócio", diz Sosa.
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