Nubank: novo prospecto anuncia lista de âncoras que garantem mínimo de US$ 1,3 bilhão em oferta (Rafael Henrique/SOPA Images/Getty Images)
Graziella Valenti
Publicado em 30 de novembro de 2021 às 10h19.
Última atualização em 30 de novembro de 2021 às 19h31.
O Nubank decidiu cortar a faixa de preço da oferta pública inicial (IPO) após revés no humor dos mercados internacionais com as fintechs. O intervalo sugerido para os papéis sofreu uma redução da ordem de 20% e ficou entre R$ 7,45 e R$ 8,38. Esses são os valos para o BDR, que equivale a 1/6 de uma ação que será negociada na Bolsa de Nova York (Nyse).
A instituição também anunciou uma lista parruda — compatível com o glamour que já tem na atua base de investidores — de âncoras para a oferta, que garantiram no mínimo US$ 1,3 bilhão para a operação, equivalente a R$ 7,3 bilhões. Nessa lista estão Sequoia, Tiger, Softbank, Baillie Gifford (que além do Nubank só entrou no IPO de Raízen), Sands Capital, Invesco, Coubnterpoint Global (ligada à gestora de recursos do Morgan Stanley, coordenador líder da oferta) e alguns fundos do JP Morgan.
Com o ajuste no intervalo de preço sugerido, a oferta base da operação, ou seja sem lote adicional ou suplementar, a captação do banco digital cai de US$ 3 bilhões para US$ 2,4 bilhões. Na prática, o valor máximo que o Nubank poderia ser avaliado caiu de US$ 51 bilhões para US$ 42,2 bilhões, se forem vendidas as ações dos lotes adicional e suplementar.
No prospecto inicial da operação, não havia previsão de lote adicional e o suplementar, conhecido como greenshoe, poderia ser atendido por atuais acionistas, ou seja, seria secundário (dinheiro no bolso de acionistas) e não primário (dinheiro no caixa da empresa).
Em reais, a capitalização da instituição pode variar de R$ 13,6 bilhões a R$ 17,7 bilhões. Ainda assim é liquidez para bancão nenhum botar defeito e força para muito crescimento, na instituição que já tem quase 49 milhões de usuários cadastrados em sua base.
Desde a semana passada, o mercado passou a suspeitar que esse movimento poderia ocorrer, dada a mudança de humor que houve nos investidores em relação às fintechs. Entre os investidores brasileiros, havia grande ansiedade em torno do assunto, embora todos soubessem que a decisão dependia exclusivamente dos investidores internacionais. Isso porque o IPO do Nubank é um dos mais aguardados dos últimos anos — e sem sombra de dúvida o evento mais importante para o mercado de capitais em 2021, seja brasileiro, seja global.
Ainda possa chegar ao mercado valendo R$ 50 bilhões, ou US$ 9 bilhões, a menos do que as previsões iniciais, a avaliação do Nubank será considerada épica para a nova economia digital. E dará à instituição, que ainda não é oficialmente banco, um capital muito significativo para alavancar o negócio.
O ânimo dos investidores com o mercado de fintechs — que afetou, é claro, também o Brasil, com queda nos preços de Banco Inter, Stone, PagSeguro e por aí afora — piorou com a abertura da taxa de juros de longo prazo projetada para os títulos do tesouro americano. A taxa embutida nos papéis de 10 anos começou novembro em 1,58% (já em alta) e chegou a bater 1,67%, um movimento bastante atípico. A taxa aumenta sempre que a percepção de risco piora e, nesse caso, a tendência está fortemente relacionada à inflação global.
Agora, esse percentual recuou para 1,48%, devido às preocupações sobre os impactos que a pandemia ainda pode ter sobre a economia global — dúvidas motivadas pela cepa Ômicron, relatada pela primeira vez na África do Sul, apesar de a médica que cuidou dos casos ter destacado o registro apenas de sintomas leves.
O aumento da taxa pegou as fintechs no coração porque significa aumento no custo do financiamento dos recursos que serão usados para concessão de crédito aos clientes. Apesar do calor do momento, quem estuda o segmento acredita que o futuro ainda será dividido entre grandes bancos que conseguirem fazer "sua virada de chave" para o mundo mais digital e as "fintechs" bem-sucedidas. Contudo, a aposta também é que o Nubank será tão regulado no futuro quanto são os bancos hoje, seja porque terá de virar um, seja porque a regulação trará alterações para players que atingirem um determinado patamar.
Especialmente os investidores brasileiros que estudam o banco digital criado por David Velez, a partir de uma ideia lá de 2012, após ficar insatisfeito com o atendimento bancário no Brasil, ainda acham a avaliação "salgada". Eles não têm dúvidas quanto à capacidade de execução do time Nubank e nem das perspectivas de crescimento. A grande questão desses investidores, e estamos falando dos papas 'do value invest', é se vale tudo isso.
Mesmo após o corte no preço, o Nubank tem grande chance de estrear na Nyse valendo mais que o Itaú, que terminou o pregão de ontem avaliado em US$ 37,5 bilhões. Apenas se só vender a oferta base e pelo preço mínimo sugerido é que a fintech viria pouco atrás do maior banco privado do Brasil, avaliada em US$ 34,3 bilhões.
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