Exame IN

Novo Brasil: crédito tem expansão e concorrência segura aumento de taxa

Operações do sistema avançam 16,3% em 12 meses até junho, para R$ 4,214 trilhões; expansão de quase o dobro da inflação

Concorrência é ativada por cadastro positivo, maior atuação de bancos digitais, fintechs, financeiras e cooperativas, diz a Acrefi (Divulgação/Divulgação)

Concorrência é ativada por cadastro positivo, maior atuação de bancos digitais, fintechs, financeiras e cooperativas, diz a Acrefi (Divulgação/Divulgação)

AB

Angela Bittencourt

Publicado em 28 de julho de 2021 às 18h07.

Última atualização em 28 de julho de 2021 às 19h03.

Tem mudança no mercado financeiro. Não é de dono, mas de comportamento. Embora a taxa Selic tenha mais que dobrado desde meados de março, saltando de 2% para atuais 4,25% e com jeito de chegar a 7% até dezembro, os bancos ainda não transferiram esse aumento para o crédito – movimento usual em ciclos de alta de juro trincado por maior concorrência.

O Indicador de Custo do Crédito (ICC) mal se mexeu no segundo trimestre, resultado de rara estabilidade da taxa cobrada aos tomadores. Também por incomum equilíbrio no custo de captação de recursos pelas instituições em mercado, o ‘spread’ bancário encerrou o primeiro semestre em 12,2%, informa o Banco Central (BC) em suas estatísticas monetárias e de crédito referentes a junho e divulgadas nesta quarta-feira.

O saldo dos empréstimos no sistema bancário avançou 0,9% de maio para junho e alcançou R$ 4,214 trilhões. Em 12 meses, a expansão foi de 16,3% - resultado importante, o dobro da inflação acumulada no período. “Alguns fatores contribuem para esse crescimento: o cadastro positivo, que propicia maior oferta de crédito também mais barato; maior atuação de bancos digitais, fintechs, financeiras e cooperativas; e meios eletrônicos, como o Pix, que ativam a concorrência”, comenta Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), ao EXAME IN.

Pessoas físicas ou famílias seguem à frente das empresas na contratação de crédito, comportamento que anima especialistas, além do governo, que apostam no consumo como alavanca para a retomada mais forte da atividade neste segundo semestre. Em 12 meses até junho, o crédito para famílias cresceu 17,5%, enquanto operações firmadas com pessoas jurídicas avançaram 14,8%.

O economista-chefe da Acrefi chama atenção, porém, para a fortíssima expansão, de 50% de janeiro a junho, em antecipação de recebíveis. “Para existir o recebível, tem que ocorrer uma venda. Portanto, esse é um importante indicador de retomada da economia porque existe fluxo de operações. Tendo a possibilidade de recorrer a esse tipo de operação, as empresas dispensam outras modalidades menos interessantes.”

Em operações mais convencionais, contudo, junho já mostrou uma dinâmica diferente e também positiva, nota o especialista. “Embora no ano operações de capital de giro e conta garantida registrem queda, no mês, fechando o semestre, essas duas modalidades de operação tiveram alta importante. As pessoas jurídicas estão retomando ampliação e reformas de lojas, instalações, investindo em tecnologia e também em pessoas. Excelente sinal de fortalecimento da atividade.”

Tingas lembra que as concessões de crédito às pessoas físicas ou famílias continuam sendo destaque no trimestre. “Aumentou a demanda por crédito não consignado, financiamento de veículos, de outros bens duráveis e também o uso do cartão de crédito à vista. Esse comportamento explica adicionalmente o aumento das operações de descontos de recebíveis e antecipação de faturas de cartão.”

O economista-chefe da Acrefi reforça que os indicadores de endividamento das famílias e de comprometimento de renda seguem um padrão saudável. “O endividamento se deve sobretudo ao aumento do consignado e do crédito imobiliário. Na margem, atrasos em pagamentos existem em famílias de menor renda e que não receberam auxílio emergencial. Mas esses atrasos ocorrem em contas de serviços, como luz e água, e não em contas financeiras”, afirma.

Pequenas e médias

É revelador o monitoramento do BC quanto à destinação do crédito para pessoas jurídicas por porte de empresa, sendo que a instituição classifica como micro, pequena e média empresa aquelas com receita bruta anual de até R$ 300 milhões ou ativo total até R$ 240 milhões. Já as grandes empresas são as que registram receita bruta anual superior a R$ 300 milhões ou ativo total superior a R$ 240 milhões.

Em 12 meses até junho, o saldo das operações com micro, pequena e média empresa cresceu 36,4%, enquanto para grandes empresas o aumento foi de 2,9%. A taxa de inadimplência das menores caiu de 3,5% em junho de 2020 para 3% em junho deste ano; e, no caso das grandes, de 1,2% para 0,4%.

O resultado financeiro do 2º trimestre do Santander Brasil corrobora as indicações do BC. Com lucro de R$ 4,171 bilhões, aumento de 98,4% na comparação com igual período do ano passado, o Santander exibiu crescimento de 14,9% - também em 12 meses – em sua carteira de crédito que totalizou R$ 439,797 bilhões. As operações com pessoas físicas ou famílias tiveram expansão de 20,9%; o crédito imobiliário saltou 28,2%; e o crédito rural, 27,4%. Em contraponto, o crédito às grandes empresas aumentou modestos 4,2% também em relação a junho de 2020. O terceiro maior banco privado do Brasil anunciou retorno sobre o patrimônio de 21,6%.

Assine a EXAME e acesse as notícias mais importantes em tempo real.

De 1 a 5, qual sua experiência de leitura na exame?
Sendo 1 a nota mais baixa e 5 a nota mais alta.

Seu feedback é muito importante para construir uma EXAME cada vez melhor.

 

Acompanhe tudo sobre:BalançosBanco CentralBancosConsumoCooperativasCréditoEmpresasFintechsSantander

Mais de Exame IN

Renner vem bem no terceiro trimestre – mas não tão bem quanto se esperava

Vinci compra controle do Outback no Brasil em operação de R$ 2 bi

Magazine Luiza lucra R$ 70 milhões no 3º tri e bate (de longe) consenso

Para lidar com juros altos, Assaí reduz alavancagem e fica menos promocional no 3º tri