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Novidade da vez: captação de US$ 500 mi do Itaú é ambiental e social

Captação com bônus sustentáveis, que contribui para formação do capital do banco, é a primeira do tipo na América Latina

Ambiental e social: título usado em emissão do Itaú tem uso mais amplo de recursos, diferentemente dos papéis só verdes (EschCollection/Getty Images)

Ambiental e social: título usado em emissão do Itaú tem uso mais amplo de recursos, diferentemente dos papéis só verdes (EschCollection/Getty Images)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 13 de janeiro de 2021 às 02h14.

O inovador da vez é o Itaú Unibanco. O banco emitiu o primeiro sustainability bond, ou bônus sustentável, que contribuirá também para a formação do capital da instituição do Brasil. Foram captados 500 milhões de dólares. Trata-se também da primeira operação do tipo de toda a América Latina. O título tem prazo de dez anos e oferece remuneração de 3,95% — a menor taxa já obtida na região para uma dívida que integrará a base de capital.

Os recursos levantados nesse tipo de captação devem ser usados pelo emissor para crédito com característica ambientais e também sociais — diferentemente dos verdes, que dão conta apenas dos aspectos relacionados a questões do meio-ambiente. Parte deve ser usada para refinanciamento da carteira e parte para concessão de novas linhas, segundo fontes ouvidas pelo EXAME IN.

Podem se encaixar no uso desse saldo linhas de crédito para veículos híbridos, por exemplo, e até crédito para pequenas e medias empresas controladas por mulheres ou que estejam em regiões menos favorecidas do país.

Há uma onda ESG que invadiu o setor financeiro, pelo lado da captação de recursos e que deve afetar a concessão de crédito para projetos ligados às melhorias e impactos na sociedade, em um efeito cascata positivo.

Recentemente, BTG Pactual e BV (antigo Banco Votorantim) já fizeram emissões de green bonds, e o Bradesco, no fim do ano passado, levantou 1 bilhão de reais em uma letra financeira verde, com prazo de 30 meses. Nessa semana, o Reset Capital também noticiou que o Santander vai testar uma emissão de gender bond, no valor de 100 milhões de dólares, que será inteiramente absorvida pelo BID Invest, do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

A partir do quinto ano, o Itaú tem a opção (e não a obrigação) de recomprar os títulos e, do sexto ano em diante, a emissão vai reduzindo sua participação na formação de capital em uma proporção de 20% ao ano até chegar a zero no vencimento. Ao contribuir para a formação de capital, a operação melhora os índices de solvência da instituição, medidos pelo Índice de Basiléia.

A demanda pelos papéis, segundo pessoas próximas à operação, alcançou 2,5 vezes a oferta. Essas colocações têm despertado atenção dos bancos brasileiros — e de grandes empresas capazes de se encaixar nesse perfil —porque há uma liquidez hoje no mundo exclusiva para títulos com essas características, ou seja, alinhados a critérios ambientais, sociais e de governança (ESG). Dessa forma, os emissores brasileiros estão tendo acesso a uma nova base de investidores.

As operações do setor financeiro, ocorrem na esteira de duas grandes captações em sustainability linked-bonds realizadas pela Suzano e pela Klabin. Esses papéis não amarram o uso do dinheiro, mas seus custos estão relacionados ao cumprimento de metas e compromissos assumidos pelos emissores em prazo pré-fixado.

O mercado global de dívida sustentável cresceu 29%, para um recorde de 732 bilhões de dólares no ano passado, puxado por uma onda de emissões de títulos para projetos sociais em meio à crise causada pela pandemia, segundo a BloombergNEF. A emissão de títulos sociais, os social bonds, se multiplicou por sete em 2020, para 147,7 bilhões de dólares, quando governos e empresas captaram recursos para alívio da pandemia em meio à forte demanda de investidores, disse a BNEF. Já a emissão de títulos de sustentabilidade, os sustainability bonds, — que permitem aos emissores usarem os recursos para projetos verdes e sociais — aumentou 81%, para 68,7 bilhões de dólares no período.

 

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