Thanksgiving: feriado ficou mais "magro" nos EUA (Thinkstock/Thinkstock)
Bloomberg Businessweek
Publicado em 23 de novembro de 2023 às 17h24.
Última atualização em 11 de dezembro de 2023 às 17h17.
(Bloomberg Businessweek) – O Dia de Ação de Graças deste ano será muito diferente para Julissa Alcantar-Martinez e sua família. A corretora de imóveis da área de Houston vem tomando o medicamento Mounjaro para suprimir o apetite há um ano e meio, após quinze meses de tratamento com Ozempic. Ela perdeu 115 quilos após anos de luta contra dietas e doenças relacionadas à dieta. Seu filho, de 17 anos, perdeu 65 quilos com Ozempic, e sua filha de 21 anos perdeu 50 com o mesmo medicamento. Embora a família esteja comendo de maneira muito diferente agora, eles ainda irão comemorar a festiva data dos Estados Unidos com o tradicional peru e acompanhamentos.
Como anfitriã, Alcantar-Martinez diz que ainda fará as pratos com batata-doce e feijão verde, mas não espera comer muito e mandará o que sobrar para a casa dos pais. “Antes, eu teria guardado alguma”, disse ela. Este ano, “vou ficar só com a proteína”.
Milhões de americanos estão agora tomando injeções do hormônio GLP-1, que suprime o apetite, e para muitos este será o primeiro Dia de Ação de Graças com o medicamento.
Fabricantes e varejistas de alimentos – que normalmente desfrutam de vendas robustas durante a época de festas – estão se preparando para um impacto que poderá ir muito além de um ou dois feriados. O Walmart disse em outubro que seus clientes que tomavam medicamentos para perder peso estavam comprando menor quantidade de alimentos.
Steve Cahillane, CEO da Kellanova, fabricante de Pringles e Cheez-Its, disse à Bloomberg que a empresa estava estudando o impacto nos comportamentos alimentares para poder reagir. As ações da Krispy Kreme caíram no mês passado devido a preocupações de que medicamentos para perda de peso reduziriam a demanda por seus donuts.
Jamie Centner é um bom exemplo da preocupação de algumas indústrias alimentícias. A professora do ensino médio da Louisiana está tomando um medicamento para perder peso e disse que seus três filhos notaram que há menos guloseimas em casa agora que ela parou de fazer compras por impulso no supermercado.
Ela organiza o Dia de Ação de Graças para cerca de treze pessoas todos os anos. Ela costumava passar semanas planejando o cardápio, mas sua mente não está mais focada nisso.
“Já não penso tanto em comida, as coisas já não parecem tão boas”, disse ela. “É necessário muito menos esforço mental para buscar as melhores receitas.” Mesmo assim, Centner disse que ainda fará todos os pratos tradicionais e está até planejando pular a injeção naquela semana para ter certeza de que poderá se divertir.
Prescrições para os medicamentos GLP-1 dispararam 300% entre 2020 e 2022, e o crescimento acelerado parece ser apenas o início da sua difusão pelos Estados Unidos, à medida que as empresas procuram ainda mais utilizações para eles. A categoria inclui o Ozempic da Novo Nordisk, originalmente usado no tratamento de diabetes, e o Wegovy, bem como o medicamento para diabetes Mounjaro da Eli Lilly e seu Zepbound, que foi aprovado para perda de peso no início deste mês.
As substâncias avisam o cérebro para frear o apetite – até mesmo eliminando pensamentos sobre comida – tornando-as drogas quase milagrosas para perda de peso.
“Elas irão participar do jantar de Ação de Graças e já não serão atraídas da mesma forma”, disse Fatima Cody Stanford, médica e cientista da medicina da obesidade na Harvard Medical School. “É inconsciente.”
No entanto, esses medicamentos não são soluções mágicas para a perda de peso, disse Stacey McCoy, farmacêutica da divisão de saúde da empresa de serviços de informação Wolters Kluwer. Os efeitos colaterais, como náuseas, podem impedir alguns pacientes de continuar com o tratamento – essa é a principal razão pela qual as pessoas deixam de tomar o medicamento, de acordo com dados da Eureka Health.
“Gostaria que nossos pacientes recebessem mais crédito por resistirem aos efeitos colaterais e ao esforço que estão fazendo, aprendendo a comer porções menores, fazendo aquela caminhada após o jantar de Ação de Graças”, disse McCoy.
Essas substâncias não funcionam para todos. E os enormes custos – o medicamento para obesidade Wegovy é vendido por US$ 1.349 por mês – são outro impedimento e foram citados recentemente por um analista da TD Cowen como uma razão pela qual o impactos previstos na indústria de alimentos pode estar sendo superestimado.
Feriado Feliz
Mas para muitas pessoas, os medicamentos para perder peso mudaram mais do que apenas a sua relação com a comida. Como canadense, Jim Squires já comemorou o Dia de Ação de Graças em outubro e, graças ao Ozempic, disse que não só comeu menos do que costumava, como também aproveitou mais o feriado, graças ao aumento de energia.
“Agora posso viver a experiência de férias com um sorriso no rosto”, disse ele. “Posso me envolver mais plenamente, ajudar no preparo da comida, na limpeza da mesa, na arrumação da casa.”
Na Carolina do Norte, Tyler Whitley, que trabalha nas renovação do sistema alimentar, disse que fará menos comida para o feriado deste ano e que o que fizer será mais saudável. Por exemplo, ele substituirá o macarrão por couve-flor – e depois comerá porções menores. “Em vez de fazer uma panela grande lotada, farei uma panela com metade da quantidade e depois, reconheço que se acabar, ótimo, não teremos desperdício de comida”, disse ele. “Eu sei que vou ficar satisfeito mais cedo.”
A família de Julissa Alcantar-Martinez, no Texas, também está se alimentando de maneira diferente no regime de perda de peso. Julissa disse que seus filhos estão mais abertos a experimentar novos alimentos. “Agora posso acrescentar vegetais, frutas”, disse ela. “Teremos macarrão, mas não será uma porção descontrolada. Todo mundo está se conscientizando do tamanho das porções.”
A família também encontrou novas maneiras de comemorar o Dia de Ação de Graças: cartões expressando tudo por que estão agradecidos, fazendo a tradicional corrida de 5 Km do Peru e cantando karaokê. “Costumávamos sempre focar na comida”, disse ela sobre o feriado, “e agora não nos importamos muito com isso”.
(Tradução de Anna Luche)