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Nos bancos pandemia é página virada, mas horizonte é turvo

Retorno de Itaú e Bradesco volta a 18% e Santander mantém liderança, mas futuro pode ser revelador sobre “mix” de operações emergenciais e decisões estratégicas forjadas pela concorrência

Balanços: positivos, os resultados dos maiores bancos privados pouco revelam sobre o real impacto da Covid-19 na atividade (Santander/Divulgação)

Balanços: positivos, os resultados dos maiores bancos privados pouco revelam sobre o real impacto da Covid-19 na atividade (Santander/Divulgação)

AB

Angela Bittencourt

Publicado em 6 de maio de 2021 às 19h07.

Algo parece fora de ordem e deve estar. O Bradesco fechou ontem o ciclo de divulgação de balanços dos três maiores bancos privados brasileiros no primeiro trimestre e confirmou importante recuperação de rentabilidade, assim como o Itaú Unibanco na véspera. Nos dois, o retorno sobre o patrimônio saiu da casa de 12% para mais de 18% ao final de um ano de pandemia que mereceu espaço nobre nos Relatórios da Administração, mas teve efeitos restritos na contabilidade deste início de ano beneficiada por baixa nas provisões empilhadas contra perdas em 2020. O horizonte, porém, é turvo.

Com retorno de 20,9%, pouco inferior aos 22,3% de um ano antes, o Santander seguiu na liderança por rentabilidade entre os três gigantes que embarcaram no segundo trimestre recuperados do golpe desferido pela Covid-19 que derrubou a rentabilidade do sistema ao recorde de baixa de 11,5% no segundo semestre de 2020, como atesta o Relatório de Estabilidade Financeira do Banco Central. Os próximos trimestres, porém, podem ser reveladores em função do “mix” de operações emergenciais, decisões estratégicas forjadas pela concorrência ou por uma configuração macroeconômica ainda incerta, embora com sinal positivo na base do pior que a pandemia poderia provocar já está no “preço”.

A expansão do crédito em 2020 foi dominada pela concessão de linhas assistenciais a micro, pequenas e médias empresas, reforço do digital e aposta comum no Agro. Em parte, sob a influência do superciclo de alta dos preços das commodities; em parte, pela necessidade de cumprir metas de sustentabilidade ou incorporar nichos de negócios hoje carimbados como ESG e que não se trata de modismo.

Positivos, os resultados dos maiores bancos privados pouco revelam sobre o real impacto da Covid-19 na atividade. Contudo, o estrago produzido nas contas públicas já é uma herança de difícil equação e que tende a se agravar quanto mais se aproximar o calendário eleitoral de 2022 especialmente se o governo flertar com medidas populistas.

Em seu Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado na semana passada, o BC confirmou a queda da rentabilidade do sistema a 11,5% e acenou com recuperação do indicador ao nível de 15% a 16% nos próximos anos. Frente às marcas alcançadas de janeiro a março, por ora, os “próximos anos” do BC – de rentabilidade sobre o patrimônio menos exuberante – parecem distantes.

Apesar dos efeitos adversos da Covid-19, os bancos seguem sólidos, com capitalização retornando ao patamar pré-pandemia, lucrativos, resistentes a choques de diversas naturezas como demonstrado em testes de estresse realizados pelo BC e refletem uma concentração de operações gravada na história do sistema bancário brasileiro.

 

Ponta de lança

Com Itaú na ponta da lança com carteira de crédito de R$ 906,35 bilhões ao final de março, os três maiores bancos privados sustentavam, ao final do primeiro trimestre, mais de R$ 2 trilhões de empréstimos, metade de R$ 4 trilhões do total contabilizado no país. É fato, porém, que o avanço das fintechs de pagamentos, crédito e investimentos, somado à aceleração do processo de digitalização apressada pela pandemia, empurra os bancos convencionais à uma leitura mais acurada de hábitos dos consumidores e clientes.

Interessado em responder à pergunta, “como a pandemia afetou o comportamento do consumidor em 2020?”, o Itaú Unibanco destaca em seu balanço trimestral um estudo que passará a ser divulgado trimestralmente.

Entre os principais “achados do estudo”, o maior banco privado do país aponta: o consumo começou a se recuperar a partir do terceiro trimestre e 2020 fechou com faturamento apenas 3,2% maior que o de 2019; pagamentos usando a tecnologia “Aproxime e Pague” tiveram crescimento acumulado de 326% no ano; o valor médio gasto por transação no comércio aumentou 6,9% em 2020 sobre 2019; mais da metade das compras online foram feitas por mulheres que gastam menos do que os homens, diz o estudo. Coerente com isolamento social imposto pelas quarentenas, as despesas com transporte urbano caíram 38,6%; com turismo, 43,8% ante o ano anterior; pequenos e médios varejistas adotaram o e-commerce permanentemente para impulsionar os negócios, mostram dados da Rede. As vendas online permaneceram em alta até no Carnaval. Com faturamento em expansão de 176% sobre igual período de 2020, para os pequenos e médios comerciantes teve folia. Mas virtual.

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