Telecom: setor ainda é altamente fragmentado (AKAVCI/Thinkstock)
Publicado em 21 de agosto de 2023 às 16h47.
Última atualização em 21 de agosto de 2023 às 16h52.
Há pouco mais de um mês, os provedores regionais de internet Vero e Americanet anunciaram a fusão de suas operações, no primeiro evento de um movimento de consolidação de um setor dominado por empresas médias. A transação colocou a companhia resultante – com uma receita de R$ 1,7 bilhão e mais de 1,4 milhão de assinantes em 450 cidades – na segunda colocação entre os provedores regionais, logo atrás da Alloha Fibra, controlada pela gestora de private equity EB Capital.
Agora, o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) especula quem é o próximo.
Em um relatório publicado hoje, os analistas Carlos Sequeira, Osni Carfi e Guilherme Guttilla analisam quais seriam as movimentações mais lógicas no xadrez das ISPs (provedoras de serviços de Internet, na sigla em inglês) – um segmento em que mais de 97% das mais de 10 mil empresas que atuam no Brasil têm menos de 10 mil cientes. Segundo o banco, apenas 23 empresas têm mais de 100 mil clientes e outras 13, mais de 200 mil.
Trata-se, antes de mais nada, de um jogo de sinergias geográficas.
Além da transação recém-anunciada, o BTG acredita que a pode continuar sua trajetória de crescimento inorgânico se expandindo no Centro-Oeste, com um alvo em potencial sendo a Brasil Tecpar (que tem 382 mil assinantes).
"A companhia opera no Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país, com uma presença significativa no Mato Grosso, onde a Vero ainda tem de estabelecer operações, além de abrir espaço para a expansão nacional", afirmam os analistas.
Após uma valorização de mais de 90% desde o começo do ano, o BTG afirma que a Desktop – forte no interior de São Paulo – está pronta para fazer aquisições que agreguem valor à companhia.
Desde seu IPO, em 2021, a companhia, que tem pouco mais de 970 mil assinantes, vem realizando aquisições a um valuation médio de 5,5 vezes o EBITDA das adquiridas (considerando equity e dívida) e atualmente negocia a 6,2 vezes sua geração de caixa, aponta a equipe liderada por Sequeira.
O banco aposta na consolidação via pequenos players em regionais adjacentes, e vê espaço para a companhia se unir com cinco empresas: Weclix, Azza, ZaaZ, Green Telecom e Cabonnet, localizadas no interior de São Paulo e norte do Paraná. Juntas, elas poderiam agregar mais de 680 mil clientes à empresa.
Além disso, os analistas apontam opções de união com players de mais porte, como a Algar (799 mil assinantes) e Ligga, antiga Copel Telecom (362 mil).
Há um desafio financeiro a ser superado, caso as operações realmente aconteçam. Com uma alavancagem confortável, de 2,5 vezes dívida líquida/Ebitda, os analistas apontam que a Desktop pode precisar de capital adicional para fechar novos negócios.
"É importante notar, entretanto, que a companhia geralmente estrutura suas aquisições com um pagamento de 50% à vista e o restante em um prazo de cinco anos, ajudando a minimizar o impacto de liquidez. Além disso, a companhia poderia explorar outros formatos de acordo, como troca de ações", afirmam.
Também listada em meados de 2021, a Unifique, que tem cerca de 690 mil clientes no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, tem mais dinheiro em caixa – mas empresas menores para adquirir na sua área de atuação, com todos os potenciais alvos de compra com menos de 100 mil assinantes.
O BTG identificou seis ativos em potencial, nos estados em que a companhia já atua ou no Paraná: Osirnet, Ampernet, Razaoinfo, AdyINet, GGNet e Opção Telecom, que, em conjunto, podem oferecer 370 mil assinantes.
A Ligga, que atua no Paraná, e a MHNet, também do Sul, com cerca de 300 mil clientes, são empresas de um pouco mais de porte com as quais a Unifique pode se associar.
Ao contrário da Desktop, a posição de dívida da empresa é mais confortável, com uma alavancagem de 0,8 vez dívida líquida/Ebitda anualizado.
“Contudo, o valuation da Unifique pode ser um problema para novas transações. A companhia é negociada hoje a 4 vezes EV/Ebitda para 2023, abaixo do que paga em suas fusões e aquisições”, afirmam os analistas do BTG.