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No varejo de moda, uma corrida contra o tempo por isonomia tributária

Setor amplia frentes com Executivo e Congresso e quer urgência para estancar perdas com a concorrência internacional, diz Abvtex

Corrida contra o tempo: Com principais datas comerciais se aproximando, Abvtex diz que solução do dilema tributário é urgente  (Leandro Fonseca/EXAME/Exame)

Corrida contra o tempo: Com principais datas comerciais se aproximando, Abvtex diz que solução do dilema tributário é urgente (Leandro Fonseca/EXAME/Exame)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 18 de novembro de 2023 às 08h00.

Última atualização em 11 de dezembro de 2023 às 17h21.

Edmundo Lima, presidente da Abvtex, associação que reúne 100 marcas de varejo de moda, saiu animado de uma reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, há duas semanas.  

“Houve a promessa de que até o fim do ano haverá uma solução que traga isonomia tributária para o setor”, diz Lima em entrevista ao Exame IN.  

Mas, conforme o fim do ano se aproxima, a sensação do setor é de uma corrida contra o tempo. “A forma como chegamos no governo é de desespero, porque já são onze meses de perdas”, afirma o executivo, que tem sido uma das vozes mais ativas no debate sobre o avanço das vendas de plataformas internacionais à la Shein no país. 

De janeiro até setembro, período mais recente de dados do IBGE, a produção de vestuário acumula perda de 10,1% em relação ao mesmo período do ano passado.  

Em paralelo com a agenda no Ministério da Fazenda e a Receita, a Abvtex, tem uma outra frente aberta no Congresso, em parceria com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). 

A expectativa da associação é de que até o fim de novembro o deputado Paulo Guedes (PT-MG) apresente à Comissão de Finanças e Tributação da Câmara relatório sobre o projeto de lei 2339/22, que prevê o fim da isenção das compras internacionais até US$ 50.   

Pela proposta, o vendedor deverá recolher o imposto de tributação até o dia da entrada da mercadoria no Brasil. Se isso não acontecer, o consumidor terá de pagar o tributo.  

A principal reclamação dos varejistas é a de que a carga tributária entre as empresas nacionais e as plataformas estrangeiras é muito discrepante. De acordo com os cálculos da Abvtex, para produzir no país, as empresas pagam uma alíquota total na casa de 80% – Em outras palavras, sem impostos, uma camiseta de R$ 180 poderia custar R$ 100.  

Até agosto, apenas encomendas entre pessoas físicas até US$ 50 eram isentas do imposto de importação, o que gerava uma série de distorções. A Receita já tinha identificado, por exemplo, um emissor da China que enviou, como pessoa física, mais de 16 milhões de pacotes.   

Com a instituição do programa Remessa Conforme há pouco mais de três meses, as compras internacionais enviadas a partir de pessoas jurídicas também estão isentas até US$ 50 – mas com cobrança de ICMS, de origem estadual, numa tarifa abaixo de 20%.  

Para isso, as empresas precisam preencher formulário de requerimento de certificação no programa, aderir ao modelo de etiqueta para identificação da mercadoria e firmar contrato logístico com os Correios ou outra empresa de entrega expressa e última milha.  

O programa é um tema que a Abvtex vinha discutindo desde a gestão Bolsonaro, como uma forma de intensificar a fiscalização diante das denúncias de fraudes nos registros das encomendas. Segundo Lima, a Receita Federal sinalizou que chegou a um índice de 80% de fiscalização dos pacotes que chegam.  

Mas ainda que tenha representado algum avanço, o Remessa Conforme começa a gerar novos tipos de problemas. Recentemente empresas de porte relevante, como Mercado Livre e Magazine Luiza, aderiram ao programa, e começam a trazer mercadorias da China. “As grandes varejistas começaram a perceber que as regras mudaram e isso vira uma alternativa”, diz Lima. 

Hoje, os sites que importam de outros países dentro das regras do Remessa Conforme pagam apenas a alíquota de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), de origem estadual e abaixo de 20%.   

“Isso pode fazer com que o e-commerce de moda migre para outros países, colocando a produção local e empregos em risco”, diz o executivo.   

Hoje, no varejo de moda nacional, o tíquete médio de compra varia de R$ 140 a R$ 190, bem abaixo dos US$ 50 estabelecidos para isenção do Remessa Conforme.  

Ou seja, as empresas têm incentivos para migrar sua produção para fora do país. Ou para parar de importar em grandes lotes (sujeitos a imposto de importação de 60%) e mantendo operações no exterior para vender de fora para clientes brasileiros. “Isso coloca empregos em risco”, destaca Lima. Atualmente, indústria e varejo de moda empregam 2 milhões de pessoas. 

Citando Haddad e o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, Lima diz que o governo tem se mostrado “sensível à demanda do setor” e em busca de uma solução. Mas alerta que é preciso senso de urgência, especialmente com o Natal (principal data de vendas do setor) se aproximando. “Precisamos achar uma condição de igualdade tributária agora.” 

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