Carioca: linha da Granado que reforça as origens do negócio, em 1870, no Rio de Janeiro (Granado/Divulgação)
A Granado faz hoje sua primeira incursão no mundo dos NFTs. Um movimento para lá de sintonizado com a atualidade e que ganha mais cor quando parte de uma companhia com 152 anos de história. A empresa de perfumes, produtos de bem-estar e higiene pessoal, fundada em 1870, no centro do Rio de Janeiro pelo português José Antônio Coxito Granado, vai lançar não um, mas 152 NFTs. É um para cada ano de vida da companhia. Os títulos, os tais tokens não fungíveis (ou seja, únicos), darão também benefícios exclusivos para seus detentores, como descontos especiais, workshop sobre perfumaria com especialistas da área, visita à fabrica e escritório da empresa entre outros.
"Apesar de ser uma empresa centenária, a Granado está sempre se atualizando com as demandas do seu tempo. O NFT é também uma forma de oferecer benefícios exclusivos para quem realmente tem conexão com a marca e valoriza nossa história," diz Sissi Freeman, diretora de marketing e vendas da Granado, em entrevista ao EXAME IN. Sissi é filha do empresário inglês Christopher Freeman, que comprou a empresa em 1994, e é quem está conduzindo o negócio para entrar no terceiro milênio, de olho na inovação.
"O fato de nos mantermos atual, mesmo com tantos anos de história, é uma das razões pela qual a empresa ainda está aqui É esse desafio que os NFTs simbolizam", diz Sissi. A executiva explicou que os NFTs serão artes únicas, "nunca vistas antes, de elementos icônicos da marca centenária", que possui uma forte identidade visual. As vitrines das flagships da empresa na Oscar Freire, em São Paulo, e em Ipanema, no Rio de Janeiro, exibirão os NFTs a partir desta terça-feira, por uma semana.
Todos os NFTs emitidos pela empresa terão zero pegada de carbono. Ou seja, todas as emissões de CO² serão 100% compensadas pela própria empresa — seja plantando uma árvore por cada token adquirido, seja destinando parte do valor para o Instituto Vida Livre, ONG que trabalha na reabilitação e soltura de animais em situação de risco.
"Com essa emissão, a Granado reforça a sua identidade de estar sempre à frente do seu tempo. Assim como foi pioneira na produção de glicerina vegetal nos sabonetes e uma das primeiras empresas brasileiras do segmento a abolir testes em animais, a Granado quer marcar o ano de 2022 com essa inovação", salientou.
O faturamento da Granado deve chegar ao R$ 1 bilhão até o final deste ano. Entre janeiro e agosto deste ano a receita cresceu 24% e alcançou a R$ 590 milhões. Um valor quase 70% superior aos R$ 350 milhões obtidos nesse mesmo intervalo de 2019, período pré-pandemia.
"Estamos tendo resultados positivos tanto no varejo, quanto no atacado. Esperamos um segundo semestre ainda mais forte, como costuma ser por causa do Natal. Não tínhamos feito nem orçamento para crescer tanto esse ano. Nossa previsão era de uma expansão de 20% para o ano todo", salienta Sissi, sem receio de expor a surpresa.
E não é apenas no Brasil que a Granado tem obtido um bom desempenho. O que, é bom que se diga, já é um feito em um setor que enfrenta tantos desafios — do cenário macroeconômico adverso, à disparada dos preços das matérias-primas, passando pelo fim das barreiras da distribuição de novos entrantes com a tecnologia. Não bastasse isso, a empresa carioca está expandindo sua presença no exterior, com a recente abertura da loja em Londres, o que eleva para três o número de estabelecimentos fora do Brasil.
"Chegamos há poucas semanas em Londres, onde estamos vendendo dentro das lojas da Liberty of London, outra marca centenária como a Granado. Fomos muito bem recebidos. Ficamos até surpresos com a receptividade. Fomos convidados para projetos com tiragens importantes. Estamos super focados nessa parceria", diz Sissi.
Para a diretora, chegar em Londres foi uma grande emoção, considerando que o Reino Unido é a terra de origem de seu pai. Mas, além da Inglaterra, a Granado já tem duas lojas históricas em Paris, uma no bairro de Saint-Germain-des-Près e a outra no Marais, e está prestes a chegar em Lisboa, com outra unidade, a primeira em Portugal. E isso não é tudo: vai entrar na Bélgica com uma linha na loja de departamentos Inno.
"Vamos focar na Europa para depois partir para novos mercados", explica Sissi. "Atualmente, entregamos nos EUA, e já vemos uma demanda existente por lá, mas precisamos trabalhar na parte de logística antes. Nesse momento, vamos tocar os projetos na Europa, que ficaram engavetados durante os dois anos de pandemia". A empresa está também fortalecendo laços com as Galerias Lafayette, tradicional "templo do varejo de luxo" parisiense.
Além do crescimento de pontos de venda, a Granado quer aumentar a gama de produtos, com lançamentos como uma linha de protetor solar infantil e novas fragrâncias — que já estão sendo muito bem recebidas pelo público.
No encalço da expansão, o que preocupa, segundo Sissi, é a inflação. "Os preços dos insumos, que são muito dolarizados, aumentaram bastante. Assim como o custo do frete. Isso está nos obrigando a aumentar os preços. Já fizemos dois aumentos desde o começo do ano, enquanto normalmente era um só", diz a executiva.
Mesmo com essa alta dos preços, as vendas continuam a todo vapor, como mostram os números. Conseguir repassar custo já é um fato que, isoladamente, mostra a resiliência da marca. Sinal claro de oportunidades para a Granado. E que a empresa não pretende deixar passar.
Seu feedback é muito importante para construir uma EXAME cada vez melhor.